As inundações mais devastadoras a sofrer a Espanha em um século deixaram um saldo trágico de pelo menos 95 mortos na região de Valência, após chuvas torrenciais que ocorreram entre a noite de terça-feira e a manhã de quarta-feira. A tragédia se desenrolou em meio a uma sequência de eventos extremos, com o número de vítimas ainda podendo aumentar à medida que as operações de busca e resgate continuavam ao longo da manhã de quinta-feira. Cenas de destruição se tornaram comuns, com ruas transformadas em rios vorazes que praticamente não deram aviso aos moradores, enquanto as cheias rápidas devastavam a região leste do país.
Casas e ruas foram submersas de forma equivalente a um ano inteiro de precipitação em apenas oito horas, levando a um cenário apocalíptico. A imagem da localidade de Barrio de la Torre, por exemplo, mais parecia um lugar atingido por um furacão; veículos empilhados uns sobre os outros e clima que fazia parecer que a natureza estava irrevogavelmente em fúria. Um dono de bar local, Christian Viena, relatou a destruição de sua comunidade: “O bairro está destruído, todos os carros estão empilhados, é literalmente um caos”, comentou ao veículo de comunicação que cobria o evento. Em meio a esses restos, as equipes de resgate se concentravam em um trabalho extenuante e emocional, lidando com a confirmação de que, trágica e infelizmente, alguns dos desaparecidos estavam, na verdade, mortos.
A operação de resgate estava sendo intensificada com a ajuda de cerca de mil soldados que foram mobilizados pelas autoridades espanholas para tentar localizar sobreviventes e retirar vítimas do lodo acumulado. Com a real necessidade de uma resposta rápida a essa calamidade, o ministro da Defesa do país destacou que, até a noite de quarta-feira, as tropas já haviam recuperado 22 corpos e resgatado 110 pessoas. A busca continuava de casa em casa, como confirmou Ángel Martínez, líder de uma das operações de resgate militar em Utiel. O sentimento de dor entre os moradores era palpável, e uma professora local chamada Encarna descreveu a cena ao olhar para a destruição de seu lar, expressando sua tristeza: “A dor é pelas vidas que se perderam, e muitas foram”, disse com lágrimas nos olhos, recordando a perda. “Esses eram meus esforços, minhas economias, minha vida. Mas ainda estamos vivos.”
Tais tragédias não ocorrem por acaso e estão interligadas a uma problemática ainda maior. Cientistas climáticos atribuem a intensidade e a magnitude dessa calamidade a uma combinação alarmante de fatores relacionados às mudanças climáticas causadas pelo homem. A atmosfera mais quente permite que os sistemas de tempestade mantenham mais umidade, enquanto a falta de movimento da corrente de jato atrasou a passagem da tempestade, e os solos de Valência, que já estavam afetados pela seca, simplesmente não conseguiram absorver a quantidade colossal de chuva que caiu. Essas condições climáticas extremas têm sido um tema de preocupação crescente, com relatórios da ONU alertando que o mundo está significativamente aquém das metas de emissões necessárias para conter a mudança climática.
A devastação não se limitou apenas ao plano humano. A infraestrutura também foi fortemente afetada, com linhas de trem e grandes rodovias intransitáveis, deixando a cidade de Valência em grande parte isolada na quinta-feira. Espera-se que o serviço de trem de alta velocidade que liga Valência a Madrid só consiga retomar suas operações após o final de semana. Os danos nas vias expressas são emblemáticos de um problema que não apenas afetou a vida dos cidadãos, mas que também atravessou setores essenciais da economia e logística do país.
Com o luto nacional oficialmente declarado pelas autoridades, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, se dirigiu à região afetada para observar os estragos e se solidarizar com os que perderam seus entes queridos e suas propriedades. A situação representa um desafio monumental para as equipes de resgate, e o país inteiro já se encontra em um estado de luto e preocupação contínua sobre como lidar com as mudanças climáticas e suas consequências devastadoras. O que se segue requer não apenas resiliência, mas transformações profundas nas estratégias de preservação ambiental, integração de práticas e, principalmente, uma conscientização coletiva que todos devemos abraçar para que tragédias como a de Valência não voltem a ocorrer.