No contexto das alarmantes alegações de tráfico sexual envolvendo o renomado rapper Sean “Diddy” Combs, a gerente de longa data de John Legend, Ty Stiklorius, decidiu tomar uma atitude proativa ao publicar um artigo de opinião no New York Times. Nesse artigo, Stiklorius analisa a “cultura predatória e tóxica” que permeia a indústria musical, descrevendo como esta cultura não apenas tolera, mas também, em muitos casos, fomenta a má conduta sexual e a exploração de artistas aspirantes, tanto mulheres quanto homens. O tema vem à tona em um momento crítico, onde as vozes por mudança e responsabilização se tornam cada vez mais insistentes.
A narrativa de uma sobrevivente e os desafios da indústria musical
O relato de Stiklorius remonta a um evento ocorrendo há 27 anos em uma festa de iate em St. Barts, que ela assistiu, e presenciado pelo rapper Diddy. Nessa ocasião, ela destaca uma experiência aterrorizante, onde conseguiu persuadir um associado de Diddy a abrir uma porta de quarto, permitindo sua fuga. Para Stiklorius, essa situação simbolizava o tipo de poder concentrado que existe dentro do setor, em que “muitos dos gatekeepers, que predominantemente são homens, controlam as oportunidades e podem abusar de sua posição sem enfrentar consequências”. Sua reflexão sobre esses eventos traz à superfície um problema sistêmico muito maior que apenas figuras infames como Diddy ou outros acusados ao longo dos anos.
Ela destaca que a segurança das mulheres e dos jovens dentro dos estúdios de gravação, ônibus de turnê e salas verdes nunca foi uma certeza, mas uma constante preocupação. Isso não deve ser encarado como um defeito isolado dentro da indústria musical, mas sim como um recurso intrínseco à mesma. Stiklorius expressa que muitas pessoas estão adotando uma mentalidade reativa, acreditando que as mudanças só ocorrerão quando figuras como Diddy forem responsabilizadas. Ela argumenta que isso oferece uma visão distorcida, pois minimiza a gravidade da situação e evita que se veja a institucionalização de uma cultura tóxica que tem perdurado ao longo das décadas.
Um chamado à mudança e novos caminhos para os artistas
Stiklorius transmite uma mensagem de esperança ao afirmar que o poder que os gatekeepers exercem sobre os novos artistas está em declínio. Ela menciona a história de Chappell Roan, uma jovem artista da geração Z que, após batalhas com sua gravadora, decidiu lançar sua música de forma independente e, com isso, construir uma base sólida de fãs através das redes sociais. Essa mudança no paradigma mostra que novos modelos estão em ascensão, sugere Stiklorius, o que indica que “os dias dos gatekeepers estão contados”.
Com uma trajetória pessoal marcada por experiências desafiadoras com predadores e a estrutura que frequentemente os habilita, Stiklorius revela que esses obstáculos quase a fizeram desistir da música. O ambiente hostil, muitas vezes dominado por homens poderosos, é uma barreira que muitos artistas enfrentam diariamente. Ela se pergunta quantas outras mulheres não desistiram de suas aspirações devido a experiências similares às suas, ou quantas ficaram silenciadas, oprimidas por um sistema que procura controlar e explorar em vez de desenvolver e apoiar.
Urgência na construção de um futuro melhor para a nova geração de criadores
Para concluir seu artigo, Stiklorius faz um apelo poderoso: a indústria musical deve prestar contas a todas as sobreviventes que sofreram em silêncio e a verdade precisa ser desenterrada. O futuro da música deve ser moldado com um foco maior na integridade, respeito e dignidade dos artistas. A transformação na condução dos negócios é não apenas desejável, mas essencial, a fim de garantir que novas gerações de criadores possam prosperar em um ambiente que valorize seu trabalho em vez de explorar suas fraquezas.
À medida que novas alegações surgem contra Diddy, incluindo ações legais que o acusam de condutas extremamente graves envolvendo jovens, a pressão por mudanças na indústria musical se intensifica. A declaração de seus representantes de que “a verdade prevalecerá” ecoa o desejo de que a integridade do processo judicial prevaleça sobre os alegatos massivos de abuso. Contudo, a necessidade de transformar a cultura dentro da indústria é indiscutível e urgente, clama Stiklorius, e esta transformação deve começar imediatamente, o que representa um desafio tanto para os artistas quanto para as entidades que moldam o cenário musical atual.