Ridley Scott, um dos diretores mais renomados da história do cinema, é conhecido não apenas por sua habilidade em contar histórias, mas também por sua abordagem única na seleção de projetos para sua empresa de produção, Scott Free. Recentemente, Scott compartilhou suas reflexões sobre como enxerga o mundo da produção cinematográfica e o que considera essencial ao receber novas propostas de filmes. Para ele, a clareza e a brevidade na apresentação de um projeto são fundamentais, o que demonstra sua vasta experiência e visão aguçada no setor. Neste contexto, exploraremos os meandros de sua carreira, seus desafios e sua visão de futuro à medida que sua produtora continua a expandir-se e inovar.
Quando alguém se atreve a apresentar um filme a Ridley Scott, deve estar preparado para ser breve e conciso. O cineasta britânico de 86 anos, responsável por clássicos como Blade Runner, Alien e o recente Napoleon, enfatiza que uma boa apresentação deve ser reduzida a duas sentenças. Ele afirma: “Você deve iluminar a ideia, e dentro disso deve haver um fuse, uma bomba-relógio. Quando você tem personagens fazendo algo apenas por fazer, isso é perigoso”. Esse tipo de abordagem salvou filmes como Alien: Romulus, que surpreendeu a indústria ao arrecadar 350 milhões de dólares globalmente, colocando a Scott Free na vanguarda do cinema contemporâneo. O sucesso do filme foi apenas um exemplo de como a produtora tem encontrado novas formas de revitalizar franquias que marcaram época.
Os novos projetos em desenvolvimento pela Scott Free incluem uma série da FX chamada Alien: Earth, produzida por Noah Hawley, e uma série da Amazon baseada em Blade Runner: 2099. No entanto, o mais aguardado é o lançamento de Gladiador II, que estreia no dia 22 de novembro e que Scott descreveu como “a melhor coisa que já fiz”. Com um orçamento base de 250 milhões de dólares — 10 milhões abaixo do estipulado — Scott mostra-se satisfeito com a gestão financeira do projeto, além de estar já envolvido na produção de outra sequência.
Durante uma conversa franca com líderes da Scott Free nas instalações da produtora em West Hollywood, os executivos destacaram que, apesar da contração da indústria após a pandemia, conseguiram expandir em todas as direções. “Nós enxergamos isso como uma oportunidade de crescimento”, disse Justin Alvarado Brown, presidente e COO da empresa. A Scott Free foca na produção de projetos literários e autorais que realmente merecem o selo de qualidade de Ridley Scott, enquanto também busca ideias únicas que se destacam neste cenário saturado. Em suas palavras, “tudo isso envolve uma espécie de intuição e pesquisa, mas além disso, você não realmente sabe”.
Ao longo de sua carreira, Scott revelou um de seus principais arrependimentos: a falta de propriedade das franquias Alien e Blade Runner. Ele lamenta que, por falta de gestão adequada em anos anteriores, sua empresa não tenha garantido participação nesses legados, o que o faz sentir-se em desvantagem em relação a diretores como Steven Spielberg e James Cameron, que conseguiram salvaguardar seus direitos em franchises. “Deveríamos ter reafirmado nossa posição quando ressuscitamos a franquia Alien com Prometheus e Alien: Covenant”, disse Scott, clareando que essa falha na administração anterior ainda pesa sobre as atuais operações da empresa.
Com uma equipe profundamente comprometida, os executivos de Scott Free trabalham arduamente para assegurar que Ridley esteja sempre à frente em novos projetos das franquias que ajudou a criar. O presidente de TV Clayton Krueger observa que, no mundo da televisão, o sucesso se resume mais à execução do que à ideia em si. “Precisamos identificar os artistas que sabemos que podem entregar uma série”, diz ele. Contudo, para Scott, a televisão representa um “grande cesto cheio de bolas”. É através dessa analogia que ele expressa sua visão crítica da maneira como as oportunidades na TV se apresentam, refletindo sua abordagem proativa e analítica em relação a novas mídias.
O diretor tem se esforçado para adaptar-se a essa nova realidade. Embora sua jornada tenha sido marcada por muitos sucessos, também há desafios. A produção de Raised by Wolves foi cancelada pela HBO Max após apenas duas temporadas, uma decisão que deixou a equipe criada por Scott frustrada. Ele não se detém a lágrimas, mas observa como o ambiente atual do entretenimento é instável e muitas vezes imprevisível.
A parceria de longa data com o 20th Century Studios, agora parte da Disney, é um testemunho do compromisso contínuo de Scott em entregar qualidade ao cinema. Ele declarou que, em sua visão, a relação entre um diretor e um estúdio é comparável à de um restaurante; se o estúdio cobre os custos, espera-se que o diretor “jante lá todas as noites”. A lealdade, portanto, se converte em uma força motriz que influi na continuidade frequente de seus projetos com a 20th Century.
Além disso, a Scott Free se passa por uma nova onda de crescimento. O futuro está repleto de promessas. Scott já está preparando uma biografia sobre os Bee Gees, com filmagens programadas para o início do próximo ano. Sua equipe continua à procura de novos diretores talentosos que possam se juntar à missão de transformar ideias em filmes que impactem o público. “Você pode ter o melhor cavalo do mundo, mas se não tiver um bom jóquei, o cavalo não vai ganhar”, ressalta. As conversas sobre desenvolvimento de Westerns têm sido constantes, um gênero que Scott, como um verdadeiro fã, planeja um dia conquistar, mesmo enfrentando as dificuldades do mercado atualmente.
Enquanto as produções em andamento vão desde um aclamado drama sobre o abuso e a luta pela superação, até thrillers e documentários, a Scott Free continua a ser um farol para projetos inovadores e provocativos. “Estamos tentando empurrar o envelope um pouco e alcançar coisas que ainda não fizemos”, conclui Michael Pruss, um dos líderes da Scott Free. Em um mundo em constante transformação, a empresa mantém seu foco na arte de fazer cinema de alta qualidade que ressoe em um público cada vez mais diversificado e exigente.