No cenário contemporâneo dos quadrinhos, poucos autores conseguem se destacar tanto quanto James Tynion IV, reconhecido como um dos principais nomes no gênero de horror. À medida que Halloween se aproxima, Tynion se prepara para curtir a data em seu apartamento em Brooklyn, rico em referências aos clássicos do horror dos anos 80. Entre os filmes que certamente preencherão sua tela estão “The Monster Squad”, “Return of the Living Dead” e “Re-Animator”. Após uma presença marcante na New York Comic-Con, onde sua empresa Tiny Onion e sua equipe de oito pessoas brilharam, o autor se destaca na competição feroz do mercado de quadrinhos, dominando vários títulos em diferentes editoras, exceto a Marvel, e conquistando o público com histórias originais. O que o torna ainda mais notável é que ele não apenas escreve; ele também gerencia um boletim informativo no Substack e lidera uma divisão de mídia que busca expandir suas criações para outras plataformas.
James Tynion IV fez seu nome escrevendo para a DC, especialmente com seu trabalho em Batman. Contudo, sua jornada criativa realmente decolou quando ele decidiu se afastar do estabelecido e se lançar em projetos próprios. Dentre suas diversas obras de sucesso, uma delas brilha intensamente: “Something Is Killing the Children”. Ao lado do artista Werner Dell’Edera, Tynion criou uma narrativa que conseguiu cativar leitores e críticos de forma surpreendente. Lançado em 2019, essa revista em quadrinhos, que tinha por ideia inicial ser uma minissérie de cinco edições, rapidamente se converteu em um fenômeno cultural, vendendo mais de 5 milhões de cópias ao redor do mundo e se tornando uma referência no universo dos quadrinhos independentes, uma das mais relevantes desde “Saga”, de Bryan K. Vaughan, lançada em 2012.
A popularidade de “Something Is Killing the Children” é inegável, representando a maior venda da Boom! Studios. O título não apenas superou as expectativas iniciais, mas também gerou um derivado, “House of Slaughter”, que teve seu número de estreia com uma tiragem de mais de 500 mil cópias vendidas, conquistando o segundo lugar entre os maiores lançamentos de HQs não Marvel ou DC do século XXI. O mistério em torno de Erica Slaughter, a protagonista que caça monstros visíveis apenas por crianças e adolescentes, revelou-se um relato poderoso, e os leitores se fascinaram pela complexidade do enredo e pela profundidade de seus personagens. Para além do sucesso comercial, Tynion foi premiado com o Eisner Award de melhor escritor em três anos consecutivos (2021, 2022 e 2023), um feito que poucos conseguiram alcançar na história dos quadrinhos.
O desempenho de “Something Is Killing the Children” nas vendas é igualmente impressionante, com a série alcançando uma média de vendas superior a 50 mil cópias por mês, enquanto “House of Slaughter” mantém um respectável número em torno de 25 mil, superando a maioria dos lançamentos provenientes de editoras tradicionais como DC e Marvel. A compra da Boom! Studios pela Penguin Random House mais recentemente é um indicativo claro do impacto que “Something Is Killing the Children” teve na indústria. Além disso, uma adaptação para série pela Netflix está em andamento, com os criadores da famosa série “Dark”, Baran bo Odar e Jantje Friese, atuando como roteiristas e, possivelmente, showrunners.
Como comemoração do quinto aniversário da obra, em novembro, será lançado “Something Is Killing the Children No. 0”, uma edição que se passa antes dos acontecimentos do primeiro número. Este lançamento serve não apenas como um ponto de entrada para novos leitores, mas também como uma ponte para as futuras narrativas que Tynion está preparando. Em uma entrevista, o escritor expressou sua gratidão por Robert Kirkman, o criador de “The Walking Dead”, cuja obra preparou o terreno para a recepção de “Something Is Killing the Children” em um período de procura por novas histórias de horror.
O sucesso do título reside, em parte, em sua habilidade de se conectar com o público. Tynion revelou que o processo de desenvolvimento da obra foi uma jornada de longos anos e que a inspiração para o nome já surgira durante seus tempos de faculdade. Ele também destacou que, embora a série original fosse concebida como uma minissérie, a profundidade da narrativa o levou a expandir a história para além das cinco edições planejadas, com um esboço que já se estende para mais de 100 edições. Embora o autor tenha uma conclusão em mente para a história de Erica Slaughter, ele garante que ainda há muitos arcos e aspectos emocionais a serem explorados.
A continuidade na arte, assegurada pelo ilustrador Werther Dell’Edera, também é um pilar do sucesso. Os criadores se uniram para garantir que a visão da história e dos personagens se mantenha coesa ao longo do tempo, prometendo que Erica Slaughter continuará a ser apresentada exclusivamente por eles. Essa dedicação à continuidade é um traço que muitos fãs apreciam e que contrasta com a prática comum no setor de mudar artistas frequentemente. Além disso, Tynion menciona que o ritmo da narrativa foi influenciado por seu amor por narrativas de mangás, permitindo uma abordagem mais focada no desenvolvimento de personagens e menos apressada em cenas de ação.
Em suma, “Something Is Killing the Children” não só se consolidou como um marco no gênero de terror gráfico, mas também assinala o talento emergente de James Tynion IV. A série encontraram um público ávido por histórias que provoquem não apenas medo, mas também reflexão emocional. O impacto de sua narrativa poderosa, combinada com uma estética visual marcante, provavelmente garantirá que Erica Slaughter e suas aventuras continuarão a fascinar leitores por muitos anos adiante, enquanto Tynion promete levar os fãs em uma jornada que ainda está longe de seu fim.