Entre recordações e desafios, Al Pacino compartilha sua trajetória em novo livro
Em um dia ensolarado com vista para Beverly Hills, Al Pacino rememora um conselho dado por seu terapeuta há anos: “Ele disse: ‘Não vá para L.A., Al!'” O renomado ator, agora com 84 anos, reflete sobre sua adaptação à vida em Hollywood. Pacino, que conquistou o mundo cinematográfico com suas performances memoráveis, percebe que o influente ambiente de uma das maiores indústrias de entretenimento do mundo continua a oferecer novos desafios e lições. Ele revela, de forma bem-humorada, que “você tem que aprender quão famoso você é”, questionando se realmente conseguiu compreender essa fama ao longo de sua ilustre carreira. “O que, agora? Estou tentando!” ri, enquanto se recorda de um detalhe inusitado de sua vestimenta, “eu realmente coloquei uma gravata para te ver. Afinal, isso é o que caras famosos fazem!”
Al Pacino não é apenas famoso, ele é uma lenda do cinema com nove indicações ao Oscar – sendo sete delas sem vitória até conquistar a estatueta por “O Perfume da Mulher”. Além de dois prêmios Emmy, dois prêmios Tony, uma Honra do Centro Kennedy e um prêmio de conquista de vida do American Film Institute, ele possui um portfólio inigualável que abrange quase 55 anos no mundo do entretenimento, atuando tanto como protagonista em grandes produções quanto como ator coadjuvante. “Eu sou um velho, você sabe?” brinca Pacino, ao mencionar sua aparência atual. “Quando saio, com meu cabelo assim, tudo que você vê é um hidrante branco! Não me sinto grisalho ainda. Eu não quero ser grisalho. Eu sou aquele cara na capa do livro.” Na verdade, esse “cara na capa do livro” está finalmente contando sua própria história em sua nova autobiografia, intitulada “Sonny Boy”, um apelido carinhoso dado por sua mãe, Rose.
Crescendo no Bronx, em Nova York, Pacino viveu com seus avós em um apartamento simples, onde sua mãe desempenhou um papel fundamental em sua formação e desenvolvimento. Ao relembrar sua infância, ele conta como Rose protegeu seu “Sonny Boy” das armadilhas das ruas, especialmente em noites de escola quando seus amigos o chamavam para sair. “Ela disse: ‘Não, não.’ E eu estava tão chateado e tão bravo com ela. Acho que ela foi uma das razões pelas quais eu me mantive longe das drogas. Eu não pude sair. Eu fui para a escola.” Contudo, outra figura feminina teve um impacto determinante em sua carreira: sua professora do oitavo ano, Blanche Rothstein. Pacino recorda que ela foi até sua casa e conversou com sua avó, aconselhando-a a incentivar o talento de Al para a atuação. “Ela disse, ‘Você deve incentivar esse menino a fazer o que ele está fazendo, a atuar. Ele é feito para isso’.”
Aos 13 anos, Pacino recebeu elogios após uma apresentação escolar, quando um estranho se aproximou e disse: “Você é o próximo Marlon Brando.” Ele, no entanto, não tinha noção de quem era Brando na época. Com 16 anos, decidiu abandonar a escola para se dedicar totalmente ao teatro de Nova York. Para sobreviver, aceitou qualquer trabalho que surgisse, atuando como mensageiro, zelador, operador de switchboard e, em duas ocasiões, como usher. Pacino descreve sua experiência como usher em Carnegie Hall de forma cômica, mencionando que, mesmo vestido de fraque, acabou dispensando os clientes para que se sentassem onde quisessem, até que uma briga estourou e ele foi demitido.
A trajetória de Pacino, no entanto, tomou um rumo notável quando foi escolhido por Francis Ford Coppola para o papel de Michael Corleone em “O Poderoso Chefão”. Embora Coppola estivesse convencido de seu talento, a produção duvidou de sua escolha. Pacino relembra uma cena em que inicialmente temia que sua performance seria sua última no filme, ao sofrer uma queda ao tentar entrar em um carro de fuga. “Obrigado, Deus. Vou me livrar desse filme!” pensou ele, demonstrando que o medo de falhar esteve presente até em momentos de grande prestígio em sua carreira.
Após “O Poderoso Chefão”, uma sequência de sucessos cinematográficos o consolidou como um dos principais nomes de Hollywood, incluindo “Serpico” e “Um Dia de Cão”, onde uma fala improvisada se tornou um clássico. Contudo, a fama e os holofotes não foram sempre bem recebidos por Pacino, que lidou com seus demônios pessoais, incluindo o consumo excessivo de álcool. “O álcool é um depressor – ele te coloca para baixo”, confessa, ao relatar como a vida se tornou mais desafiadora quando decidiu parar de beber. No entanto, apesar das dificuldades, ele perseverou e eventualmente conseguiu encontrar estabilidade.
No que diz respeito a sua saúde, Pacino também compartilha experiências aterrorizantes, como a vez em que quase perdeu a vida devido à COVID-19. “Era fora deste mundo,” descreve. “Eu estava aqui e, em seguida, não estava. A enfermeira disse que meu pulso parou.” Mesmo diante de vivências tão difíceis, ele continua a se sentir grato e se mantém ativo com uma sequência de novos projetos. “Estou tão ocupado quanto sempre. Eu gosto de sentar no sofá, mas continuo trabalhando,” revela, antecipando-se ao lançamento de seis novos filmes, em papéis menores. Apesar das advertências de seu terapeuta, ele vive em Los Angeles, um local que, segundo ele, não o define como um ‘homem de L.A.’, mas um ator apaixonado por seu ofício.
Al Pacino, ao longo de sua trajetória, provou que a atuação é mais do que uma profissão; é uma vocação. Ele expressa uma conexão profunda com sua arte, afirmando que “nunca vai fazer nada além disso”. A liberdade que encontrou na atuação se reflete em sua história de vida, marcada por desafios, superações e um inabalável amor pela arte. “Para mim, não importava ter ou não dinheiro, ser famoso ou não. Menos importava,” encerra, revelando que esse é o verdadeiro sentido de pertencimento.