Uma vasta cidade Maia, repleta de palácios e pirâmides, foi descoberta na densa selva do México, graças ao esforço de um estudante de doutorado que, ironicamente, havia passado pelo local anos atrás sem perceber a sua magnitude. O estudante de arqueologia da Universidade Tulane, Luke Auld-Thomas, não apenas se deparou com um achado surpreendente, mas também desafiou a percepção do conhecimento sobre as civilizações maias na região, reafirmando que há muito mais a ser descoberto nesta rica parte da história antiga.

A jornada de descoberta começou quando Luke Auld-Thomas, durante uma visita ao México há cerca de uma década, estava viajando entre a cidade de Xpujil e algumas cidades costeiras. Naquela ocasião, ele passou sem perceber as antigas civilizações que permaneciam escondidas sob a espessa vegetação da selva. No entanto, a curiosidade e a determinação do estudante levaram-no a explorar a área novamente, mas desta vez utilizando tecnologia de ponta: o Lidar, uma tecnologia de sensoriamento remoto que utiliza lasers para medir distâncias na superfície da Terra. Embora o Lidar seja uma ferramenta valiosa para arqueólogos, Auld-Thomas reconheceu que muitos financiadores são relutantes em apoiar pesquisas em locais onde não há evidências visíveis de assentamentos maias.

Após alguns anos, Auld-Thomas teve uma ideia inovadora. Ele decidiu utilizar pesquisas Lidar já existentes para descobrir se civilações maias poderiam ser encontradas em áreas que antes não eram exploradas. Em 2018, após investigar dados coletados em 2013 pelo projeto da Conservação da Natureza do México, Auld-Thomas e sua equipe conseguiram identificar um local que merecia uma investigação arqueológica mais aprofundada. Durante cinco anos, eles analisaram toda a informação de forma remota, utilizando tecnologia avançada para processar dados e imagens.

Ao realizar sua análise, Auld-Thomas se deparou com uma revelação surpreendente: mais de 6.600 estruturas maias, incluindo uma cidade grande, até então desconhecida, adornada com pirâmides de pedra icônicas. O que este achado revela é que a região das terras baixas maias foi muito mais populosa e urbanizada do que se pensava anteriormente, tendo gerado um novo entendimento sobre a densidade de assentamentos em uma área muitas vezes subestimada pelos pesquisadores. “A densidade encontrada é comparável à de outros importantes sítios maias, como Calakmul, Oxpemul e Becán”, disse Adriana Velázquez Morlet, diretora do Instituto Nacional de Antropologia e História do México e co-autora da pesquisa.

A equipe nomeou a cidade descoberta de “Valeriana”, em homenagem a uma lagoa de água doce próxima. As investigações revelaram milhares de estruturas, incluindo palácios, pirâmides em estilo templo, praças públicas, um campo de jogo e residências particulares. A tecnologia utilizada permitiu que Auld-Thomas e seus colegas visualizassem assentamentos arqueológicos mesmo em condições de floresta densa, algo que anteriormente limitava a exploração da região, que abrange grandes extensões não documentadas.

Contextualizando historicamente, a civilização maia floresceu durante o período Clássico, que se estendeu de aproximadamente 250 d.C. até pelo menos 900 d.C. Considerada uma das civilizações mais avançadas da América, a civilização maia ocupou o que hoje corresponde ao sul do México e ao norte da América Central. Durante o auge, entre 7 e 11 milhões de pessoas viviam dentro do império. A descoberta da cidade de Valeriana, construída antes de 150 d.C., não só enriquece o conhecimento arqueológico como também reafirma a complexidade e a sofisticação das sociedades maias.

Auld-Thomas enfatiza que a razão pela qual muitas partes do mundo maia permanecem desconhecidas se deve ao vasto território que precisa ser explorado, o que faz com que muitos locais passem despercebidos pela comunidade científica. Ele acrescenta que enquanto os locais podem ser conhecidos por algumas comunidades locais, a maior parte do conhecimento não chega até as entidades governamentais ou a comunidade científica maior. “Isso sublinha a afirmação de que ainda não encontramos tudo e há muito mais a ser descoberto”, disse Auld-Thomas, destacando a importância da colaboração entre arqueólogos e cientistas ambientais em futuras pesquisas.

Essa descoberta não apenas destoa da narrativa anterior sobre as civilizações maias, mas também sublinha a importância da abertura dos dados em ciência, mostrando que informações coletadas em um campo podem ser valiosas para um esforço de pesquisa em outro domínio. O pesquisador expressa a esperança de que isso incentiva não apenas a abertura de dados, mas também a colaboração futura entre diferentes disciplinas em busca do conhecimento. Portanto, o que parece ser uma simples descoberta no coração da selva se transforma em um lembrete de que a história antiga do nosso planeta ainda guarda muitos segredos por revelar.

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