Recentemente, o ex-presidente Donald Trump apresentou uma proposta destinada a tornar os juros dos empréstimos automotivos dedutíveis do imposto de renda, em um movimento que inicialmente pode parecer benéfico para uma ampla gama de cidadãos norte-americanos. Durante um discurso proferido na quinta-feira, no Detroit Economic Club, Trump argumentou que essa dedução fiscal poderia revolucionar a indústria automotiva, promovendo a produção interna e tornando a posse de veículos mais acessível para as famílias trabalhadoras. Contudo, especialistas em tributação alertam que a medida pode ter como maior beneficiário a classe alta, enquanto os trabalhadores de baixa renda poderiam não perceber benefícios significativos.
A proposta de dedução de juros em empréstimos para automóveis e suas implicações
De acordo com dados do Federal Reserve, os norte-americanos acumulam aproximadamente US$ 1,63 trilhões em dívidas de empréstimos automotivos, posicionando essa categoria de crédito como a segunda maior após os financiamentos imobiliários. O ex-presidente comparou sua proposta à dedução de juros de hipoteca, estabelecida há mais de um século, que visa proporcionar alívio fiscal aos proprietários de imóveis ao permitir que reduzam sua renda tributável pelo valor pago em juros de hipoteca a cada ano. Essa abordagem, entretanto, levanta questões sobre sua eficácia na ajuda aos cidadãos que realmente precisam de suporte no pagamento de seus empréstimos.
Trump declarou: “Vamos tornar totalmente dedutíveis os pagamentos de juros. Isso vai revolucionar sua indústria.” Apesar do tom otimista, a falta de detalhes sobre a implementação do plano levanta dúvidas entre especialistas, que apontam que a proposta poderia elevar ainda mais a carga fiscal sobre os contribuintes de baixa renda. Atualmente, apenas um em cada dez contribuintes nos Estados Unidos opta por detalhar suas deduções, sendo que a maioria deles são pessoas de alta renda. Por exemplo, mais de 60% dos contribuintes que ganham acima de US$ 500.000 anualmente optam por essa categoria, em contrapartida a apenas 4% daqueles que recebem entre US$ 30.000 e US$ 50.000.
Leonard Burman, economista do Urban-Brookings Tax Policy Center, opina que essa proposta não atende ao público que realmente necessitaria de assistência, reiterando que os que precisam de apoio são, genuinamente, os trabalhadores de baixa renda que dependem de um veículo para se deslocar ao trabalho. Segundo ele, essa política não proporcionaria alívio financeiro para quem mais necessita. A realidade é que a dedução de juros de empréstimos automotivos, tal como é proposta, favoreceria desproporcionalmente os mais abastados, o que gera um debate sobre equidade e justiça fiscal.
Considerações sobre custos fiscais e o impacto no déficit
Adicionalmente, especialistas em impostos projetam que a dedução de juros dos empréstimos automotivos acarretaria um ônus fiscal significativo ao governo federal, com estimativas que sugerem um custo de cerca de US$ 6 bilhões por ano. Esse cálculo considera as taxas de juros atuais e a dimensão do mercado de empréstimos automotivos. É relevante ressaltar que, nos últimos meses, Trump apresentou diversas propostas de cortes tributários, abrangendo desde a isenção de impostos sobre a renda de gorjetas até a eliminação de impostos sobre benefícios da Previdência Social. O custo acumulado dessas iniciativas pode alcançar até US$ 9 trilhões na próxima década, de acordo com uma análise realizada por analistas do TD Cowen.
Com o déficit federal dos Estados Unidos projetado em US$ 1,9 trilhões para o ano fiscal de 2024, as propostas de Trump poderiam exacerbar a situação, aumentando o déficit em US$ 6,9 trilhões na próxima década, segundo análises do Penn Wharton Budget Model. Embora a vice-presidente Kamala Harris, rival de Trump na próxima eleição, também tenha propostas que impactariam o déficit, o aumento projetado a partir de suas sugestões seria significativamente inferior, totalizando aproximadamente US$ 1,2 trilhões.
Dado o contexto atual de dívida pública elevada, a viabilidade da proposta de Trump levanta questões sobre sua racionalidade política, especialmente considerando que não existe um consenso sólido que justifique a isenção dos juros de empréstimos automotivos de impostos. Assim, essa proposta controversa poderá ser objeto de intensos debates ao longo da corrida eleitoral, à medida que definem as prioridades fiscais e sociais dos candidatos em um cenário político marcado por profundas divisões.