Uma nova pesquisa publicada na renomada revista Nature Medicine trouxe à tona a possibilidade de um dispositivo de estimulação cerebral utilizado em casa ajudar no alívio dos sintomas da depressão. O estudo mostrou que adultos com depressão moderada que utilizaram um fone de ouvido especial, que aplica uma pequena corrente elétrica similar à de uma bateria de 9 volts, experimentaram melhorias significativas em seu quadro depressivo, em comparação com aqueles que usaram um aparelho inativo semelhante.
pesquisa revela resultados promissores
O estudo envolveu 174 adultos, divididos em dois grupos: um grupo foi submetido ao uso do headset ativo por 10 semanas, enquanto o outro utilizou um dispositivo inativo. Os resultados foram impressionantes: 45% dos participantes que utilizaram o dispositivo ativo relataram remissão de seus sintomas depressivos, em contraste com apenas 22% no grupo placebo. O Dr. Rodrigo Machado-Vieira, psiquiatra da UTHealth Houston e coordenador do programa de Terapias Experimentais e Fisiopatologia Molecular, enfatizou que remissão indica que os pacientes não estão mais passando por episódios de humor depressivo ativo, significando uma melhoria notável em sua qualidade de vida.
Embora a pesquisa tenha sido financiada pela empresa sueca Flow Neuroscience, responsável pela fabricação do headset, o Dr. Machado-Vieira deixou claro que o financiamento foi direcionado a um fundo de pesquisa geral da universidade, e ele não possui interesse financeiro no produto.
um dispositivo que promete reequilibrar a atividade cerebral
O headset, disponível em países como Reino Unido, Noruega, Hong Kong e na União Europeia, está atualmente aguardando a aprovação da FDA para ser comercializado nos Estados Unidos. O dispositivo se destaca por sua abordagem única: utiliza uma corrente elétrica de baixa intensidade para modular a atividade neuronal em regiões específicas do cérebro associadas à depressão. O dispositivo visa aumentar a atividade no córtex pré-frontal dorsolateral, que é responsável por funções executivas e cognitivas, e reduzir a atividade no córtex pré-frontal ventromedial, que se mostra excessivamente ativo em indivíduos com depressão.
Segundo Daniel Mansson, co-fundador da Flow Neuroscience, o objetivo é “reequilibrar a atividade”, permitindo que as células nervosas funcionem de forma mais eficaz, sem provocarem disparos indesejados. A Dra. Cynthia Fu, professora no Centro de Transtornos Afetivos do King’s College de Londres, também destacou que sua equipe revisou a literatura médica e identificou que, embora a estimulação possa ser eficaz, a falta de acesso a tratamentos em ambientes clínicos complicava a adesão do paciente à terapia.
depoimentos de participantes destacam melhorias
Leana De Hoyos, uma das participantes do estudo de 34 anos, relatou sua experiência positiva com o dispositivo. Enfrentando problemas de saúde mental desde a adolescência, ao ser convidada a participar do estudo, ela viu uma oportunidade de mudança. Descrevendo a sensação do tratamento, De Hoyos afirmou que o processo começa com uma leve vibração e um certo ardor, comparando-o à sensação de descoloração do cabelo. Após várias semanas de uso, ela começou a notar melhorias em sua motivação e na capacidade de lidar com tarefas do dia a dia, observando uma diminuição em suas “pilhas do doom”, como ela mesma se refere ao acúmulo de objetos que não sabem onde colocar.
A participante expressou um desejo genuíno de continuar utilizando o headset após o término do estudo, destacando que sentiu que estava se aproximando de uma quebra real em sua luta contra a depressão.
perspectivas futuras para o tratamento da depressão
Como a Dra. Fu enfatizou, o estudo não apenas valida a eficácia da estimulação transcraniana em um ambiente doméstico, mas também sugere que essa tecnologia pode se tornar uma alternativa viável e acessível para aqueles que não recebem o auxílio adequado de medicamentos tradicionais. Embora os efeitos de longo prazo do dispositivo ainda não tenham sido completamente avaliados, a resposta inicial dos participantes é encorajadora, apontando para um futuro onde essas tecnologias podem desempenhar um papel importante no tratamento da depressão.
Embora não tenha sido testada em tipos específicos de depressão, como a afetiva sazonal ou pós-parto, a aprovação do dispositivo para tratamento do transtorno depressivo maior na Europa oferece esperança a um amplo espectro de pacientes que buscam alternativas viáveis para o alívio de seus sintomas. É importante, no entanto, que indivíduos em situações específicas, como mulheres grávidas ou aqueles que apresentam histórico de epilepsia, consultem seus médicos antes de considerar o uso do dispositivo.
Por fim, a jornada de pesquisa e desenvolvimento desse headset representa um marco significativo no tratamento da depressão, uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. À medida que ampliamos nossas opções terapêuticas, a expectativa é que essa tecnologia inovadora possa não apenas ajudar indivíduos a superarem seus desafios, mas também abrir novos caminhos nas abordagens clínicas da saúde mental.