A realidade alarmante das atletas afegãs exiladas e ameaçadas no exterior
No contexto atual do Afeganistão, onde os direitos das mulheres e meninas estão sendo drasticamente suprimidos sob a regência do Talibã, a história de Marzieh Hamidi se destaca como um poderoso testemunho da resistência e luta pela igualdade. A campeã afegã de taekwondo, atualmente residindo em Paris, se tornou o alvo de intensas ameaças de morte após denunciar publicamente que a seleção masculina de críquete do seu país não representa a voz feminina. Hamidi, que já foi forçada ao exílio pela proibição do Talibã sobre a prática esportiva por mulheres em seu país natal, recebeu mais de cinco mil mensagens agressivas e violentas através de seu telefone, revelando a profundidade da animosidade direcionada às mulheres que se ousam a desafiar as normas impostas por regimes opressivos. Essas ameaças incluem expressões explícitas de violência, como “Eu cortarei sua cabeça”, e ataques sexuais, evidenciando a hostilidade que aquelas que buscam igualdade enfrentam.
Aos 21 anos, Hamidi não apenas busca resgatar sua identidade como mulher através da prática do taekwondo, mas também se posiciona como uma defensora dos direitos humanos das mulheres afegãs. Em sua própria reflexão, ela afirmou que o taekwondo lhe proporciona uma identidade que a empodera, permitindo que ela se sinta mais forte em uma sociedade que a marginaliza. Essa luta por igualdade é compartilhada por outras atletas afegãs, como Manizha Talash e Kimia Yousofi, que também enfrentaram reveses significativos e represálias por suas manifestações de apoio às mulheres afegãs. Talash, por exemplo, foi desqualificada nas Olimpíadas de Paris deste ano por exibir uma capa com a mensagem “Libertem as Mulheres Afegãs”, enquanto Yousofi promoveu a necessidade de educação e direitos em sua atuação como bandeira do país nas Olimpíadas de Tóquio em 2021.
A luta das mulheres afegãs e a resposta internacional à sua situação
Enquanto os homens afegãos conseguem competir em eventos internacionais, as mulheres são sistematicamente excluídas dos esportes e da representação nacional. Hamidi se viu em uma situação desconfortável ao se deparar com a equipe masculina de taekwondo durante um campeonato mundial em 2022, onde foi tratada como uma estrangeira. Esse sentimento de alienação é intensificado pelo fato de que as equipes masculinas, como a de críquete, continuam a desfrutar de representatividade internacional, enquanto suas colegas enfrentam severas restrições e a necessidade de competir em equipes de refugiados. Essa discrepância gera uma percepção de normalização da opressão; Hamidi não hesita em afirmar que a equipe masculina do críquete não representa as mulheres do Afeganistão, comparando o atual regime à história do apartheid. De acordo com ela, “ao mesmo tempo que estão competindo internacionalmente, os Talibãs estão matando muitas mulheres no Afeganistão.” Essa crítica ressoa com a denuncia feita pelo relatador especial da ONU, Richard Bennett, que reiterou como os direitos das mulheres afegãs foram aniquilados em nome de uma interpretação extrema do Islã. Bennett argumenta que a situação atual se configura como um apartheid de gênero, um conceito já utilizado por mulheres afegãs durante a primeira regime do Talibã na década de 1990.
Em sua luta por direitos, Hamidi lançou a hashtag #LetUsExist, que ganhou força entre as que se opõem à crescente repressão de gênero. Recentemente, a presença do Talibã tem sido acompanhada de uma era digital de ameaças, com Hamidi recebendo mensagens de ódio através de plataformas de mídias sociais, refletindo uma nova dimensão de vigilância e opressão. Em resposta a essas ameaças, a polícia francesa iniciou uma investigação sobre os ataques perpetrados contra ela, destacando a necessidade de responsabilização e apoio às vítimas de assédio. O advogado de Hamidi, Ines Davau, está trabalhando para documentar e expor a coordenação por trás dessa campanha de mercadorias, enfatizando que a legislação francesa permite que até mesmo ações que parecem inofensivas podem constituir assédio, ampliando a visão sobre a luta contra a violência de gênero.
Desafios enfrentados por Marzieh Hamidi e sua determinação em continuar lutando
Apesar de viver sob constante vigilância e proteção policial, Hamidi continua a ser uma voz poderosa na luta pelos direitos das mulheres afegãs. Vivendo em Paris após a queda do governo afegão em 2021, sua vida foi profundamente afetada pelas ameaças e pela realidade sem esperança que muitos de seus compatriotas enfrentam. Sua paixão por se tornar uma atleta olímpica nunca esmoreceu, e ela busca inspiração em sua trajetória de vida, que agora inclui o desafio de livrar-se das amarras do medo e da intimidação. A perseverança de Hamidi é refletem em sua determinação em não deixar que a opressão a silencie, afirmando que “eles querem nos tornar invisíveis no Afeganistão” e que ela luta para demonstrar a força e capacidade das mulheres afegãs.
O caso de Marzieh Hamidi ilustra não apenas a luta pessoal de uma jovem contra forças opressivas, mas também destaca a necessidade de um diálogo global sobre os direitos das mulheres. À medida que as vozes se elevam e as histórias de resistência são compartilhadas, é imperativo que o mundo não permaneça em silêncio diante da injustiça, mas que tome medidas efetivas para apoiar aqueles que estão na linha de frente desta batalha por dignidade e direitos humanos.