Recentemente, o mundo da mídia vivenciou um abalo significativo que envolveu o célebre Washington Post, um dos mais tradicionais jornais dos Estados Unidos. Mais de 250 mil leitores, representando cerca de 10% da base de assinantes digitais do jornal, cancelaram suas assinaturas após uma controvérsia envolvendo a decisão do proprietário Jeff Bezos de impedir uma possível endosse da vice-presidente Kamala Harris como candidata à presidência. Este ato não só rompeu com décadas de precedentes, mas também levantou questões sobre a confiança da audiência nas instituições midiáticas. A situação provoca reflexões profundas sobre o estado atual da mídia tradicional, especialmente quando se considera a falta de confiança que permeia suas práticas.
A situação no Washington Post traz à tona um problema estrutural que tem afetado a mídia mainstream em toda a sua extensão. Dados da Gallup indicam que a confiança nas mídias tradicionais norte-americanas está em seu ponto mais baixo em mais de uma década. Fatores como a dependência do modelo de publicidade e a polarização crescente da audiência têm contribuído para essa deterioração. Jeff Bezos, ao comentar sobre a decisão de bloquear o endosse, mencionou que esse tipo de apoio tende a criar uma percepção de viés e falta de independência no jornalismo. Essa percepção é, muitas vezes, mais impactante do que a intenção editorial real, e é aqui que reside o dilema enfrentado pela mídia.
É interessante notar que, como ex-jornalista, Bezos deveria ter uma compreensão privilegiada do delicado equilíbrio que a batalha pela credibilidade exige. No entanto, suas palavras em um artigo de opinião apenas parecem aprofundar a crise em que se encontra não só o Washington Post, mas a mídia como um todo. Quando ele admite que não existia uma motivação egoísta ao bloquear o endosse, a verdade é que a baixa confiança atual implica que a audiência não está disposta a aceitar essa afirmação sem questionamentos. Assim, o desafio para a mídia não é apenas a questão de um endosse ou a falta dele, mas sim como reconstruir a confiança do público de maneira genuína.
A busca por soluções para restaurar a confiança nas mídias tradicionais pode encontrar caminhos no emergente universo do Web3, uma revolucionária tecnologia que proporciona maior transparência e co-propriedade. Este novo paradigma apresenta um caminho a seguir para criar um ambiente onde decisões relevantes para a mídia não dependam de um único bilionário, mas sim de um consenso coletivo de comunidades. O exemplo de Coinage, que envolveu seus detentores de NFT na decisão de não emitir um endosse, demonstra como a transparência e o envolvimento comunitário podem servir como uma defesa sólida contra acusações de viés e motivações escondidas.
Estamos presenciando um momento em que o Web3 pode ser um agente transformador dentro do ecossistema da mídia. A ideia de permitir que a audiência participe ativamente das decisões através de votos em propostas pode redefinir a estrutura de poder e confiança na mídia. Essa abordagem não elimina as preocupações sobre viés, mas sim as confronta de uma maneira que pode restaurar a credibilidade. A implementação de uma maior transparência e a formação de uma comunidade engajada pode, potencialmente, fortalecer a relação entre a mídia e o público, oferecendo uma alternativa viável ao modelo tradicional que, como se vê, está em crise.
Em última análise, o bloco de endosse por parte de Jeff Bezos não é apenas um episódio isolado no Washington Post, mas sim um microcosmo dos desafios enfrentados pela indústria de mídia como um todo. Os problemas de confiança nas mídias tradicionais não serão resolvidos apenas pela eliminação de endossos, mas demandarão um esforço consciente para abrir as portas para uma maior transparência, participação comunitária e inovações que desafiem as antigas normas. Acredito que o futuro da mídia poderá ser muito mais promissor se abraçarmos o espírito colaborativo e transformador que o Web3 oferece. Afinal, é hora de reimaginar a interação entre a mídia e sua audiência, criando um espaço onde todos possam se sentir valorizados e representados. Até lá, o caminho parece nebuloso, mas as possibilidades são imensas e aguardam para serem exploradas.