No primeiro episódio de sua nova série, “Fat Joe Talks”, o rapper do Bronx, Fat Joe, se envolve em discussões profundas com o colega Method Man sobre as limitações que enfrentaram como artistas de hip-hop nas décadas de 90 e 2000. Durante esse período, a necessidade de projetar uma imagem robusta impediu que muitos artistas mostrassem suas personalidades verdadeiras, mas, segundo Fat Joe, esses tempos ficaram para trás. “Não em 2024”, diz ele em uma entrevista ao Hollywood Reporter. “O ano que se aproxima é somente sobre mostrar quem você realmente é e qual é a sua personalidade.” Essa nova ênfase na autenticidade é o foco do rapper, que deseja compartilhar mensagens de positividade e inspiração através de sua série, que estreou em 4 de outubro e já conta com episódios que apresentam conversas com personalidades como Omari Hardwick, Mary J. Blige, LL Cool J e o líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries.
Fat Joe ressalta que a essência de “Fat Joe Talks” é a positividade e a motivação. Ele observa que “tudo que você vê neste programa é sobre elevar as pessoas e fornecer inspiração”. O rapper também faz questão de esclarecer que seu programa foge do sensacionalismo e da criação de dramas, que têm sido marcas registradas de algumas casas de mídia. Quando questionado sobre as atuais alegações contra Diddy e o impacto que isso pode ter na indústria da música e na cultura hip-hop, Fat Joe opta por não entrar no debate. Essa escolha é compreensível, dada sua percepção negativa sobre a relação entre a mídia e os artistas. Ele enfatiza que muitos artistas hesitam em se sentar para uma entrevista, temendo que a matéria final distorça suas palavras em favor do clickbait e de boatos prejudiciais.
Entrevistas com influenciadores, em comparação com as abordagens tradicionais da imprensa, têm se mostrado preferíveis para muitos artistas. Fat Joe não hesita em reconhecer essa tendência. Ele argumenta que muitos jornalistas de hip-hop perpetuaram narrativas violentas e justificaram conflitos, como o elaborado entre as costas leste e oeste nos anos 90, que resultou em tragédias como a morte de Biggie e Tupac. Na visão de Fat Joe, as novas gerações de artistas estão corretas ao buscar maneiras de transmitir suas mensagens em ambientes mais seguros e favoráveis à sua autenticidade.
Além da crítica às práticas jornalísticas, Fat Joe também compartilha sua visão sobre a relação entre hip-hop e política, especialmente em tempos eleitorais. Ele descreve o hip-hop como a “voz do povo”, que tem raízes em comunidades marginalizadas e, por isso, sempre foi um reflexo das verdades sentidas nas ruas. Contudo, ele alerta que alguns artistas, em busca de benefícios pessoais, podem ter se deixado levar por interesses que não necessariamente representam ou atendem às necessidades do coletivo. Ao mesmo tempo, ele reconhece as lutas específicas das comunidades latinas, que enfrentam questões distintas em seus empreendimentos políticos.
Quando questionado sobre as mudanças no panorama da criação e produção musical, Fat Joe menciona sua próxima mixtape, intitulada “The World Changed On Me”, que reflete suas experiências pessoais e sua perspectiva sobre a evolução da cultura hip-hop. Ele pontua que a música deve ser um veículo contínuo de expressão, independentemente da idade do artista. Isso ressoa com a opinião de ícones como LL Cool J, que fala sobre a constante evolução da cena musical e a necessidade de desmistificar a ideia de que a idade possa limitar a criatividade.
Embora o rapper acredite que a falta de novas vozes não seja um sinal de esgotamento criativo, mas sim um convite à reinvenção, ele se mostra esperançoso de que a cena nova-iorquina do hip-hop possa, novamente, emergir. Neste contexto, Fat Joe tem como sonho de convidado para sua série a poderosa dupla formada por Jay-Z e Beyoncé, ou, em uma segunda opção, o ex-presidente Barack Obama, focando em temas como o balanço de vidas familiares enquanto navegam em carreiras de alto nível.
Em conclusão, “Fat Joe Talks” busca romper com antigas tradições de entrevista, introduzindo uma abordagem mais humana e positiva. Esta nova narrativa não só levanta questões relevantes para a cultura hip-hop atual, como também enfatiza a importância da autenticidade, da positividade e da responsabilidade social em um mundo cada vez mais polarizado. À medida que o hip-hop continua a evoluir, a série de Fat Joe destaca a necessidade de conectividade, conhecimento e empatia entre artistas e a audiência no sentido de recuperar a essência da música que, como ele mesmo afirma, deve sempre ressoar como um farol de verdade e inspiração.