Nos últimos dois dias, as movimentações nos preços das ações das seis maiores empresas dos Estados Unidos revelaram uma urgentíssima necessidade de descentralização na economia da inteligência artificial. No início da semana, os holofotes se voltaram para os resultados do terceiro trimestre que alcançaram ou superaram as expectativas de lucro e receita de grandes nomes como Microsoft, Alphabet, Apple, Meta e Amazon. Apesar desse desempenho promissor, com exceção de Amazon, as ações das gigantes da tecnologia sofreram uma queda acentuada após as divulgações financeiras, arrastando consigo a Nvidia, fabricante de chips, que espera relatar seus resultados dentro de um mês. Essa reação negativa do mercado nos levanta questionamentos sobre o futuro da inteligência artificial e suas implicações para a sociedade.
Os investidores foram alarmados por números preocupantes relacionados a investimentos em inteligência artificial. A Alphabet revelou que investiu 13 bilhões de dólares em despesas de capital no último trimestre e prevê gastos semelhantes no atual, enquanto a Meta elevou suas projeções de gastos anuais para 38 a 40 bilhões de dólares. O que se vislumbra é uma verdadeira guerra financeira entre as grandes corporações, cada uma tentando superar a outra em sua corrida pela supremacia em IA. O risco dessa disputa é evidente: os gigantes têm tudo a perder caso não controlarem seus gastos, especialmente em um setor que promete margens de lucro flutuantes.
É crucial destacar que essas seis empresas estão somando um impressionante total de receita anual de 1,8 trilhões de dólares, o que as posicionaria em uma décima colocação no ranking de PIBs globais, logo atrás do Brasil. Com uma capitalização de mercado conjunta de 15 trilhões de dólares, elas detêm cerca de um terço de todo o índice S&P 500. Em um cenário de competição e inovação, essa situação gera uma preocupação pertinente: qual será o impacto dessa concentração de poder na nossa autonomia e segurança? A questão não é se haverá avanços tecnológicos, mas sim quem controlará esses avanços e se os interesses dos desenvolvedores de IA estão alinhados com as necessidades da humanidade.
A produção das grandes empresas de tecnologia em relação à inteligência artificial ocorre em sistemas fechados e secretos, o que garante que seus modelos sejam construídos a partir de um entendimento unitário e monopolizador. Essas companhias controlam todo o ecossistema da IA, desde a infraestrutura de armazenamento com a Amazon Web Services até os chips de computação da Nvidia, passando pelos modelos de IA desenvolvidos pela Microsoft e pela acumulação de dados pelas mãos da Alphabet e Meta. Embora estejam competindo entre si, essa dinâmica se transforma em um oligopólio verticalmente integrado que levanta sérias preocupações sobre o governo e a ética na utilização da IA.
Na era da Web2, já começamos a perceber a reflexão de Bruce Schneier, que disse que nós não somos os clientes das plataformas da internet; somos seus produtos. Essa percepção se torna ainda mais alarmante quando consideramos os danos psicológicos que as atuais plataformas sociais têm causado aos jovens, com quase metade da geração Z desejando que aplicativos como TikTok e Twitter nunca tivessem existido, mesmo gastando diariamente horas em suas redes. Então, por que permitir que esse mesmo modelo oligopolista prevaleça na era da inteligência artificial? O risco é de que a IA potencialize ainda mais os desafios que já enfrentamos com o domínio das plataformas sociais.
Frente a esse cenário, é urgente a criação de uma inteligência artificial descentralizada, de propriedade coletiva e baseada em código aberto, como uma solução vital que a tecnologia Web3 e blockchain pode oferecer. Essa abordagem não apenas pode evitar conflitos de interesses, como também responder à concentração de poder nas mãos de um pequeno número de gigantes tecnológicos. A inovação é essencial; no entanto, não podemos ignorar os desafios técnicos, como a latência que atualmente torna a aprendizagem de máquina distribuída ineficiente e os limites de capacidade de dados on-chain. Contudo, criadores de soluções já estão trabalhando arduamente para superar esses obstáculos, impulsionados pelas promessas econômicas e reputacionais que exitem das inovações descentralizadas.
Entretanto, a batalha entre esses gigantes nunca foi tão grande e o tempo é escasso. Com 15 trilhões de dólares em investimentos potenciais, as empresas da vez estão em posição de adquirir startups que podem representar rivalidades ou, ao menos, promissoras inovações em IA. O poder financeiro que possuem pode fazer com que as mais significativas inovações em direção a uma economia da inteligência artificial descentralizada sejam absorvidas por seus sistemas centralizados. É fundamental, portanto, que se altere essa lógica. Modelos tradicionais de investimento de risco dificilmente fornecerão recursos suficientes para que concorrentes descentralizados consigam enfrentar os grandes nomes do setor. A solução pode estar em substituir modelos de financiamento por sistemas baseados em tokens, nos quais os usuários possuem e controlam suas próprias informações e recebem recompensas por sua contribuição.
Por fim, para que essa nova era da IA descentralizada prospere, a indústria de criptomoeda e blockchain deve se reinventar. Se a visão do desenvolvimento descentralizado for reduzida a uma nova oportunidade de enriquecimento rápido ou se os líderes atuais se concentrarem mais no valor de mercado de suas criptomoedas do que na solução de problemas reais e estruturais, essa transição falhará. Para vencer essa batalha, a indústria deve se tornar mais colaborativa e interoperável, evitando rixas e competições que podem minar o progresso. A construção de uma nova economia de IA descentralizada requer um esforço conjunto onde as partes interessadas colaborem em padrões e protocolos que possam ser utilizados por todos, independentemente da criptomoeda que possuam. Estamos aqui para criar uma nova realidade da IA descentralizada que beneficie toda a humanidade.
Envolva-se nessa luta.