No dia 7 de outubro de 2024, a SpaceX conseguiu realizar com sucesso o lançamento da sonda Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA), que faz parte de uma missão estratégica de 398 milhões de dólares. Este lançamento aconteceu em um clima extremamente desafiador, devido à aproximação do furacão Milton, que promete trazer ventos intensos e chuvas torrenciais à Costa Espacial da Flórida. O evento marcante teve lugar na Estação da Força Espacial de Cape Canaveral, onde a sonda será utilizada para analisar o impacto de uma missão anterior da NASA, o DART, que ocorreu em 2022, a fim de estudar o pequeno asteroide Didymos e sua lua, Dimorphos.
A expectativa para o lançamento era intensa e os administradores da NASA aguardavam ansiosamente o desenrolar das condições climáticas. Inicialmente, as perspectivas não eram favoráveis, com nuvens densas e chuvas em toda a costa, resultantes da umidade trazida pelo furacão que se aproximava. No entanto, conforme o horário de lançamento se aproximava, as condições climáticas melhoraram o suficiente para que as normas de segurança fossem atendidas, permitindo que os gerentes da NASA dessem o sinal verde para a decolagem. Justamente às 10h52 EDT, os motores do primeiro estágio do Falcon 9 foram acionados, resultando em um espetáculo pirotécnico que marcou a ascensão da sonda em direção ao espaço profundo.
O sucesso desse lançamento foi um alívio para os mais de duzentos membros da ESA, incluindo gerentes, cientistas e jornalistas que viajaram até a Flórida para testemunhar o evento. Um dos aspectos mais fascinantes foi o desvio e a superação das adversidades climáticas que quase comprometeram a missão. O lançamento foi feito em uma janela de tempo apertada, antes que o furacão Milton atingisse a região, o que já tinha levado a NASA a cancelar outras operações, como o lançamento da missão Europa, que está avaliada em 5,2 bilhões de dólares e explorará o satélite gelado de Júpiter, Europa. A ESA considerou este momento um triunfo significativo, não apenas pela valia científica da missão Hera, mas também pela capacidade de adaptação e resiliência demonstradas diante das condições climáticas severas.
Com o lançamento de Hera, começa uma jornada de dois anos até o asteroide Didymos e sua pequena lua Dimorphos. O principal objetivo da missão é analisar como a órbita de Dimorphos foi afetada pelo impacto do DART, que resultou na redução de 31 minutos no período de sua órbita em torno de Didymos. A operação DART confirmou que métodos de desvio de asteroides são possíveis, um dado de enorme relevância considerando as ameaças que corpos celestes representam para a Terra. A sonda Hera irá utilizar uma série de instrumentos avançados, incluindo onze câmeras de alta tecnologia, para investigar a composição e a estrutura do asteroide e de sua lua. Parte da missão envolverá a liberação de dois pequenos satélites cubesat, que investigarão o interior e a estrutura da lua, além de avaliar a cratera gerada pela colisão.
No entanto, a missão Hera não se limita apenas à coleta de dados. O estudo do sistema Didymos e Dimorphos é vital para a Agenda de Avaliação e Deflexão de Impactos de Asteroides (AIDA), que busca desenvolver técnicas que possam ser empregadas para desviar um asteroide em rota de colisão com a Terra. Richard Moissl, diretor do Escritório de Defesa Planetária da ESA, comentou sobre a importância de identificar e monitorar asteroides que possam representar um risco, ressaltando que, felizmente, não há asteroides do tamanho que poderiam causar uma catástrofe em direção à Terra nos próximos cem anos. No entanto, ele salientou que há um perigo com asteroides menores, que representam uma ameaça significativa à vida humana no planeta.
Diante disso, a primeira etapa na defesa planetária se refere à detecção, seguida por observações detalhadas que possam afunilar a trajetória dos asteroides e avaliar se uma colisão com o nosso planeta é uma possibilidade. É uma missão complexa e necessária, pois a conscientização sobre as ameaças celestes é o primeiro passo para implementar estratégias de desvio eficazes. A sonda Hera, assim como a DART, são essenciais para garantir que possamos detectar e responder a situações potenciais que possam ameaçar as populações na Terra.
O planejamento da missão Hera não previa a recuperação do primeiro estágio do foguete Falcon 9, uma vez que priorizou a velocidade necessária para escapar da gravidade terrestre. O plano de voo exigiu que os estágios usados esgotassem todo o combustível antes da liberação da sonda. Após a decolagem, a sonda Hera precisará realizar um disparo de propulsão em novembro para preparar uma aproximação gravitacional de Marte em março, o que proporcionará uma nova oportunidade de calibrar seus instrumentos e realizar descobertas científicas, mesmo que não faça parte da missão principal.
O aguardado momento em que Hera assumirá sua órbita em relação a Didymos está previsto para outubro de 2026, após manobras em espaço profundo necessárias para chegar em seu destino. A duração total da missão deve ser de cerca de seis meses, e espera-se que traga descobertas significativas sobre asteroides e suas potencialidades destrutivas, muito além de sua natureza intrigante.