O recente filme “Conclave”, dirigido por Edward Berger e estrelado por Ralph Fiennes e Carlos Diehz, não é apenas uma obra cinematográfica, mas uma viagem através de intrigas e dilemas morais que culminam em uma escolha significativa: a decisão do novo papa. O longa, baseado no livro homônimo de Robert Harris, explora o processo de eleição papal em um ambiente repleto de segredos e escândalos, levando os espectadores a questionarem o que realmente significa a liderança espiritual. Entre esses questionamentos, uma figura se destaca: o cardeal Benitez, que ao ser eleito opta pelo nome de **Pope Innocent**.
No final do filme, o diretor Edward Berger fornece uma explicação rica e tocante sobre a escolha do nome de Benitez, que ecoa uma profundidade que pode parecer estranha à primeira vista. O que leva um cardeal a escolher um nome que carrega tantos pesos históricos? Em suas palavras, **”é um nome de pureza, sem pré-conceitos, frequentemente associado ao que se observa em crianças, que são, na sua essência, abertas e sem preconceitos”.** Essa visão nos convida a refletir sobre a epistemologia da inocência que permeia a narrativa.
A trama se desenrola em um cenário de tensão, onde cardeais, como o personagem de Fiennes, enfrentam dilemas pessoais e políticos. Durante a história, somos apresentados a diversas personalidades que representam diferentes facções dentro da Igreja. Contudo, Benitez se destaca como um verdadeiro “cavalo de Troia”, revelando, através de suas interações e decisões, um caráter que emana esperança e renovação, especialmente em um momento em que a Igreja luta contra escândalos que a abalam profundamente.
O papel da inocência — e a representação dela através do nome escolhido — é um tema central que sobe à superfície durante as conversas e debates entre os cardeais. Berger menciona que a inocência é muitas vezes destruída por experiências impuras que a sociedade impõe, refletem traumas. Essa perspectiva com certeza ressoa, trazendo à tona a ideia de que a liderança espiritual precisa de um retorno à pureza; uma busca por um novo caminho que não seja apenas uma repetição dos erros do passado. Ao escolher o nome **Pope Innocent**, Benitez não apenas rejeita o cinismo e o pragmatismo que frequentemente cercam as esferas do poder, mas busca um novo começo — um início que traz consigo a possibilidade de um futuro à parte da corrupção que tem permeado a história da Igreja.
A decisão de Benitez não é meramente simbólica, mas uma declaração poderosa em um mundo que muitas vezes se deixa levar por agendas políticas e escândalos pessoais. A inocência que ele representa sugere que mesmo em meio ao caos e à desconfiança, há sempre espaço para a renovação e o perdão. Como o cardeal Lawrence observa ao longo do filme, a fé e a dúvida caminham lado a lado, permitindo que a escolha de um líder não seja apenas um ato de poder, mas de compreensão e empatia.
À medida que os eventos de “Conclave” se desenrolam, as camadas de complexidade em torno da escolha de Benitez tornam-se mais claras. Os desafios dentro da sala do conclave refletem a realidade da Igreja Católica e de seus líderes, onde a luta entre luz e escuridão é omnipresente. O filme não só apresenta uma visão intrigante sobre as políticas internas do Vaticano, mas também levanta interrogações sobre o que significa liderar em uma era de descrença. É uma narrativa que deixa os espectadores ponderando sobre suas próprias crenças e a natureza do poder espiritual.
Assim, o momento culminante onde o cardeal Benitez é escolhido como papa se transforma em um respiro de esperança. O uso de **”Inocente”**, portanto, se torna uma escolha de esperança, um chamado à pureza e à sinceridade em tempos difíceis. Na última análise, o que poderia ser visto como uma escolha inusitada acaba se transformando no símbolo de um desejo universal por renovação e redenção em face das adversidades.
Com a masterclass de atuações, ambientação e direção, “Conclave” captura a essência de uma das instituições mais antigas do mundo, enquanto nos convida a refletir sobre práticas que, de forma muitas vezes inadvertida, podem propagar novas ideias e abordagens lideranças inovadoras e honestas. A história de Benitez é, sem dúvida, um lembrete poderoso de que a inocência, mesmo em meio ao desequilíbrio, nunca deve ser descartada como uma possibilidade.