A eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos tem se mostrado um campo de batalha não apenas pelas políticas, mas também pelas preferências eleitorais de diferentes grupos demográficos. À medida que a contagem de votos antecipados avança, fica evidente que as mulheres estão liderando a participação, refletindo uma desaceleração preocupante para a campanha do ex-presidente Donald Trump e suas tentativas de conquistar este eleitorado. Recentemente, a popular podcaster Alex Cooper, em sua entrevista com a atual vice-presidente Kamala Harris, destacou essa realidade, ao convidar Trump para discutir questões relevantes para as mulheres, como direitos reprodutivos e igualdade. A falta de resposta do ex-presidente a este convite ressalta a estranha dinâmica de sua campanha em relação ao eleitorado feminino.
Durante sua trajetória eleitoral, Trump optou por evitar plataformas populares voltadas para o público feminino, preferindo interagir com audiências majoritariamente masculinas em redes e podcasts conservadores. Esse posicionamento pode ser considerado uma tática arriscada, especialmente em um contexto onde as mulheres não apenas superam os homens em números, mas também apresentam uma maior confiabilidade e frequência nos atos de votação. A estratégia de se concentrar em temas que apelam aos homens, como a economia e a segurança nas escolas, parece insuficiente frente aos esforços de Harris, cujas mensagens ressoam fortemente entre eleitoras desencantadas.
A disparidade no comportamento de votação se torna mais evidente quando se observam as pesquisas mais recentes. Um estudo da ABC News/Ipsos indicou que Trump está enfrentando uma diferença de 14 pontos percentuais em relação a Kamala Harris entre o eleitorado feminino, um contraste gritante em comparação à sua vantagem de seis pontos entre os homens. O desafio para Trump se intensifica em um cenário de votação antecipada, onde, em estados-chave, 55% dos votos foram emitidos por mulheres, enquanto homens somaram 45%, conforme dados da empresa Catalist, alinhada ao Partido Democrata. Esse fenômeno é um sinal claro das crescentes preocupações entre os aliados de Trump, que percebem que a apatia masculina pode não ser suficiente para equilibrar a balança.
O discurso de Trump e sua abordagem em relação aos direitos das mulheres têm sido constantemente criticados, especialmente após as declarações polêmicas onde ele se posicionou como ‘protetor’ das mulheres. Uma cena recente em um comício em Wisconsin, onde ele ignorou conselhos de sua equipe e reafirmou essa ideia, gerou repercussões negativas, com a campanha de Harris aproveitando a deixa para amplificar a mensagem de que Trump não respeita a liberdade das mulheres em decidir sobre suas próprias vidas. O impacto da reversão de Roe v. Wade em 2022 também criou um abismo mais profundo entre Trump e o eleitorado feminino, já que as implicações dessa decisão continuam a ser um tema polarizador e sensível.
Ao longo da campanha, a falta de apelo de Trump entre as eleitores têm levantado dilemas internos em sua equipe. Com o crescimento da popularidade de Harris, que energiza as mulheres com suas promessas de direitos e equidade, Trump teve que adaptar seu foco, apresentando uma série de eventos voltados exclusivamente para mulheres em um esforço para reverter essa tendência. Entre suas ações recentes, foi iniciada uma turnê focada nas mulheres, onde figuras proeminentes do partido, incluindo a governadora do Arkansas, Sarah Huckabee Sanders, foram destacadas como apoio. No entanto, mesmo com essas iniciativas, a pergunta permanece: serão essas tentativas suficientemente eficazes para conquistar a confiança do eleitorado feminino?
Ao considerar a relação de Trump com as eleitoras, é importante mencionar como ele tem buscado a aproximação de figuras públicas que possam cruzar a ponte entre ele e as mães preocupadas com a saúde de seus filhos. A recente parceria com Robert F. Kennedy Jr., que atrai a atenção de eleitoras preocupadas com políticas de saúde e a confiança no governo, pode ser uma jogada estratégica. Contudo, a real eficácia dessa estratégia ainda está em debate, uma vez que pesquisas não têm mostrado uma diferença significativa em favor de Trump entre as mulheres que apoiam Kennedy em relação aos homens.
Diante de tantos desafios, uma aparição de Trump no podcast ‘Call Her Daddy’ poderia ter proporcionado o espaço para uma interação mais autêntica com as mulheres, no entanto, seu afastamento de ambientes como esse deixou a porta aberta para que Harris reafirmasse seu compromisso com os direitos das mulheres. Durante sua própria participação no podcast, ela alertou sobre o retrocesso que poderia ocorrer caso Trump fosse reeleito, enfatizando a importância do direito de cada indivíduo fazer escolhas sobre seu próprio corpo. Por outro lado, a recusa de Trump em abrir seu espaço de comunicação para outras audiências pode ser vista como uma interrupção em sua estratégia, mantendo-o preso a um público limitado e talvez, principalmente masculino.
Com a eleição se aproximando, a retórica e as políticas de Trump continuarão a ser dúvidas centrais sobre sua capacidade de moldar o apoio entre as eleitoras. Com a crescente participação das mulheres nas urnas, as implicações de sua abordagem poderão se refletir em um resultado eleitoral que poderá chocar muitos, especialmente aqueles que apostaram em uma vitória. No final, este pode muito bem ser um teste não apenas de políticas, mas da real conexão que um candidato pode ter com a metade do eleitorado que não só faz parte das estatísticas, mas também tem um poder significativo de mudar o curso de uma eleição.