A crescente demanda por tecnologias que atendem ao interesse nacional trouxe um novo horizonte para startups que buscam parcerias com o governo. Com aplicações que vão desde análise de dados até segurança cibernética e desenvolvimento de sistemas autônomos, as startups estão mirando no governo como um cliente valioso, atraídas pelo volume significativo de recursos disponíveis e pelas amplas possibilidades de utilização de suas inovações. Durante o evento TechCrunch Disrupt 2024, Rebecca Gevalt, sócia-gerente da Dcode Capital e ex-agente da CIA, destacou a importância de compreender como as startups podem se posicionar para garantir um fluxo de receita constante através de contratos governamentais.
A discussão girou em torno do potencial de crescimento que o governo apresenta para os novos entrantes no mercado de tecnologia, especialmente no que diz respeito ao setor de defesa. Gevalt mencionou que o Departamento de Defesa (DOD) dos Estados Unidos está “cheio de recursos”, com um orçamento de cerca de 850 bilhões de dólares previsto para 2025, dos quais 143,2 bilhões são destinados a pesquisa, desenvolvimento, testes e avaliação, além de 167,5 bilhões dedicados à aquisição de novos produtos e serviços. Este cenário torna o DOD um alvo ideal para startups que desejam se estabelecer neste setor, especialmente em áreas como inteligência artificial (IA), sistemas autônomos, computação quântica e tecnologias espaciais.
Os programas Small Business Innovation Research (SBIR) e Small Business Technology Transfer (STTR), que operam sob a égide da DARPA, são alguns dos caminhos que startups podem explorar para iniciar parcerias. Contudo, como enfatizou Gevalt, contar com uma orientação especializada durante as etapas de desenvolvimento e prototipagem é essencial para que as startups consigam transitar eficientemente para contratos comerciais. Ela destacou que uma pesquisa do Defense Innovation Board de 2023 revelou que apenas 16% das empresas financiadas pelo SBIR conseguiram firmar contratos de comercialização ao longo da última década, um indicativo de que a jornada pode ser mais complexa do que aparenta ser.
Além das tecnologias de defesa, Gevalt também ressaltou que o governo está ativamente buscando soluções em áreas como análise de dados e segurança cibernética. Isso se dá porque, por legislação, as instituições governamentais não podem descartar seus dados, resultando em um problema crescente para a gestão e interpretação desses arquivos. A segurança cibernética, por sua vez, continua a ser uma necessidade premente, com agências governamentais sendo alvos frequentes de ataques cibernéticos. Para Gevalt, essas são oportunidades inestimáveis para startups que desejam aplicar sua expertise técnica para atender a demandas no setor público.
No contexto de eleições nos Estados Unidos, muitos se perguntam se as startups devem elaborar planos de contingência para diferentes candidatos à presidência. Gevalt e Topher Haddad, CEO da startup de imagens de satélite Albedo, afirmaram que isso não é necessário. A demanda por tecnologias relacionadas a dados e ferramentas de segurança transcende as mudanças políticas e, independentemente de quem ocupe a Casa Branca, será necessário atualizar sistemas antigos herdados de décadas passadas, garantindo espaço para inovações que possam surgir.
As startups que almejam contratos governamentais também têm a preferência por estabelecer operações nos Estados Unidos. Gevalt observou que, especialmente no desenvolvimento de software, o governo prefere trabalhar com startups cuja produção ocorre internamente, principalmente porque isso facilita o controle de qualidade e o escalonamento das operações. Kloepfer, CEO da Biofire, enfatizou que a fabricação local é crucial não apenas para a conformidade regulatória, mas também para garantir que o processo de iteração e melhoria de produtos ocorra de forma eficiente e rápida.
Uma estratégia fundamental para startups que buscam penetrar o mercado governamental é entender claramente quais agências têm necessidades específicas que podem ser atendidas. Gevalt aconselha as empresas a utilizarem ferramentas disponíveis, como Bloomberg Government e GovTribe, para identificar as demandas governamentais. “Quando o governo decide comprar algo, deve anunciar publicamente, a menos que se trate de informações classificadas,” disse Gevalt, ressaltando a importância de analisar dados para prever quais contratos podem ser conquistados por cada concorrente.
A análise cuidadosa e um plano de ação focado são essenciais para startups que desejam ter sucesso no altamente competitivo mercado de tecnologia de interesse nacional. A busca por relacionamentos com profissionais que estão no dia a dia das agências governamentais, independentemente de mudanças políticas, pode ser um diferencial para os empreendedores. O caminho para garantir a relevância e a adoção de suas inovações no setor público passa pelo entendimento profundo das necessidades e estratégias governamentais, abrindo portas para um potencial de crescimento significativo no futuro.