No contexto atual, onde muitos buscam modos de substituir o álcool e enfrentar vícios, o consumo de bebidas à base de kratom, muitas vezes promovidas como alternativas seguras e saudáveis, está chamando a atenção. Um exemplo marcante é o consumo do produto “Feel Free Classic”, que, segundo relatos, levou alguns consumidores à dependência. Jasmine Adeoye, uma jovem gerente de contas de Austin, Texas, se destaca nesse relato. Ao optar por deixar de beber em junho de 2022, ela viu nesse drink uma possível solução. Entretanto, sua história se transforma em um alerta sobre os perigos inesperados das bebidas que prometem ser “milagrosas”.

Adeoye, de 29 anos, foi atraída pelo “Feel Free Classic” após ouvir seus podcasters favoritos comentarem sobre a bebida como uma solução mágica para aqueles que buscam a sobriedade. No entanto, ela afirma que não tinha plena consciência da composição do produto, que é fabricado pela empresa Botanic Tonics. O que se destinava a ser uma alternativa ao álcool rapidamente se transformou em um pesadelo, uma vez que o drink contém kratom, uma planta nativa do Sudeste Asiático conhecida por seus efeitos energizantes, ansiedade e dor, mas que também está associada a graves riscos de dependência. A falta de regulamentação da kratom nos Estados Unidos contribui para a venda de produtos em concentrações perigosas e com possíveis contaminantes, como metais pesados.

Com o tempo, o consumo de Adeoye escalou, chegando a 10 frascos de 60 ml por dia, resultando em um gasto diário aproximado de US$ 100, embora a recomendação da empresa seja de consumir no máximo um frasco por dia. Sua vida, que antes girava em torno de outras atividades saudáveis, tornou-se um ciclo vicioso de busca incessante pela bebida. O desespero se instalou com o surgimento de sintomas de abstinência. Descrever essas sequências de eventos é impactante: ao despertar, ela se sentia “doente”, e precisava correr para a loja de conveniência para adquirir o drink e aliviar o sofrimento.

O relato de Adeoye evidencia o potencial da kratom em causar dependência, um aspecto que se reflete em diversas plataformas online dedicadas ao assunto, como o fórum no Reddit, que conta com mais de 45 mil participantes tentando abandonar o uso da kratom. Além disso, foi aberta uma ação coletiva na Califórnia contra a Botanic Tonics, alegando que a bebida era apresentada como uma alternativa segura ao álcool, enquanto seus anúncios frequentemente omitiam informações críticas sobre a kratom. Apenas em 2023, a empresa utilizou o Instagram para promover seu produto, alcançando um público que incluía pessoas que já enfrentavam problemas com dependência.

Conforme os relatos de consumidores, como o de Adeoye, as consequências do uso do “Feel Free Classic” têm sido severas. Outro usuário compartilhou sua experiência com o drink, reportando a perda de controle sobre o consumo e os severos efeitos da abstinência. O feedback negativo é corroborado pela preocupação levantada pelas autoridades de saúde. O FDA tem alertado a população sobre os riscos da kratom, que incluem toxicidade hepática e potencial para desenvolver dependência. Além disso, a DEA considera a kratom uma “droga de preocupação”. A Botanic Tonics reconheceu que suas práticas de marketing precisavam de revisão e afirma ter implementado melhorias, como rótulos mais claros e restrições de idade.

Em meio a crescentes preocupações sobre os efeitos colaterais e a segurança da kratom, também surgiram desastres ligados ao seu consumo. Casos de mortes em estados como Flórida e Texas têm sido atribuídos à kratom em combinação com outras substâncias, e diversas ações judiciais até mesmo exaustivas estão sendo processadas. Um caso de 2021 resultou em uma indenização de 11 milhões de dólares por um falecimento atribuído ao consumo de kratom, e um teste legal em 2021 levou a um processo por negligência contra uma empresa de kratom, estabelecendo precedentes que alarmam os consumidores.

Apesar das evidências sobre os perigos da kratom, o produto tem ganhado popularidade entre aqueles que buscam meias verdades sobre auxiliar na superação de vícios relacionados a opioides, embora a eficácia dessa abordagem ainda não tenha sido comprovada. Refletindo sobre sua experiência, Adeoye expressou arrependimento por não ter pesquisado sobre os ingredientes da bebida antes de usá-la. Para ela, o “Feel Free Classic” parecia inofensivo, semelhante a um chá ou café, uma percepção que acabou sendo um erro fatal.

A crescente popularidade de bebidas à base de kratom entre consumidores, ao mesmo tempo em que marcas enfrentam crescente escrutínio sobre suas práticas de marketing, é um fenômeno que merece atenção. Adeoye, após dois anos enfrentando uma batalha silenciosa, decidiu buscar ajuda e compartilhar sua experiência com outros, que, assim como ela, podem estar sob a influência de produtos que parecem seguros, mas que, na verdade, escondem riscos profundos de dependência e danos à saúde.

A mensagem a ser absorvida é clara: é preciso cautela ao buscar alternativas ao álcool e um entendimento profundo dos componentes das substâncias que consumimos. A jornada de Adeoye, embora dolorosa, pode servir como um guia para que outros não caiam nas mesmas armadilhas. Afinal, o que parece ser um porto seguro nem sempre é assim. E com a quantidade crescente de pessoas que se voltam para a kratom, é vital que haja uma discussão mais ampla sobre os riscos e como os consumidores podem se proteger de decisões impulsivas que podem impactar suas vidas de maneira indesejada.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *