No mundo do cinema, assim como na vida real, as decisões que tomamos têm consequências. Essa ideia permeia o mais novo lançamento da Netflix, o filme “Time Cut”, que trouxe à tona questões intrigantes sobre viagem no tempo, identidade e os laços familiares. A produção, que teve sua estreia marcada para o dia 30 de outubro de 2024, apresenta uma história envolvente em que a protagonista, Lucy Field, interpretada por Madison Bailey, se vê em um emaranhado de decisões que alteram não apenas seu futuro, mas também seu passado. Contudo, na busca por um desfecho emocionante, o roteiro acaba deixando algumas pontas soltas que têm causado perplexidade entre os espectadores.
O filme apresenta uma narrativa que se desenrola em torno de Lucy, uma adolescente de 2024 que, após a tragédia da morte de sua irmã mais velha, Summer, em 2003, é apresentada como uma cientista promissora e engajada em suas pesquisas. Ao se empolgar com a possibilidade de usar uma máquina do tempo, Lucy decide voltar ao passado para tentar salvar Summer das garras do Sweetly Slasher, um sexagenário que aterrorizou a localidade. A ideia de resgatar a irmã perdida permeia o coração de Lucy, cuja vida familiar foi marcada pelo luto e pela culpa. Após uma série de eventos dramáticos, ela acaba não apenas encontrando Summer, mas também experimentando uma vida que sempre desejou.
Entretanto, as escolhas de Lucy desencadeiam uma série de questões complexas que ficam sem resposta. Ao final do filme, ela retorna a 2003, mas fazendo isso, impede sua própria existência. O grande dilema surge: como Lucy consegue ser aceita para um estágio na NASA em 2003, se tecnicamente, ela não deveria existir naquela linha do tempo? Isso acontece em um momento em que a narrativa oferece uma visão sobre a tecnologia avançada em 2024, levantando indagações sobre como uma organização científica séria como a NASA poderia ignorar as formalidades burocráticas essenciais, como um número de segurança social ou documentação de identidade.
Esse ponto faz com que o público questione a lógica por trás da aceitação de Lucy. Afinal, se ela não existe em 2003, como pode apresentar sua candidatura e ser aceita? Certamente, as organizações têm regulamentos que exigem documentos formais, o que não parece ser considerado. Para agravar a situação, ao longo de “Time Cut”, é difícil compreender como Lucy consegue reintegrar sua vida em um local onde não era reconhecida, especialmente quando se considera que a viagem no tempo geralmente traz consequências catastróficas.
Além disso, a habituação de Lucy à nova realidade em 2003 suscita novos questionamentos. Enquanto ela vive com Summer e participa de jantares familiares, nunca há uma confirmação clara sobre onde ela realmente reside, colocando em dúvida a veracidade de suas interações. Quando confrontada com a decisão de revelar sua verdadeira identidade aos pais, torna-se ainda mais nebulosa a lógica que a sustenta. Como seria possível para ela explicar uma viagem no tempo e seus efeitos, especialmente sabendo que seus pais nunca poderiam acreditar que essa versão de Lucy é, de fato, sua filha perdida?
Com um tempo de execução de aproximadamente uma hora e meia, “Time Cut” conta com uma trilha sonora nostálgica que cativa o público enquanto navega pelo mundo do início dos anos 2000. Embora a produção tenha conseguido envolver muitas emoções, a inconsistência em alguns pontos cruciais do enredo, como a aceitação da candidatura de estágio de Lucy, deixaram muitos fãs intrigados e desejando por uma sequência que ofereça respostas adequadas.
Ao final de uma jornada temporal que deveria restaurar a conexão familiar, “Time Cut” toca em temas complexos que desafiam o espectador a considerar a lógica e a ética por trás das viagens no tempo. A trama pode ter proporcionado emoção e nostalgia, mas também levanta questões que merecem revisão e reflexão. O que será que realmente aconteceu com Lucy? E como ela pretende forjar sua nova existência, considerando que um futuro sem documentos oficiais e reconhecimento social está longe de ser ideal? Certamente, as tramas de viagem no tempo são repletas de possibilidades, e “Time Cut” deixa o público em um fascinante espaço de incertezas, onde a esperança e a lógica colidem.