Quentin Tarantino, um dos diretores mais icônicos e reconhecidos do cinema contemporâneo, é conhecido por sua abordagem ousada e por suas produções que frequentemente provocam opiniões divergentes. Entre suas obras, contudo, destaca-se um título que não teve a mesma recepção positiva que muitos de seus outros filmes, mas que merece uma análise cuidadosa: ‘Death Proof’. Lançado em 2007 como parte do projeto ‘Grindhouse’, em colaboração com Robert Rodriguez, ‘Death Proof’ traz elementos do gênero slasher e representa uma experiência cinematográfica única e polêmica para o público, refletindo a criatividade e o estilo inconfundível de Tarantino, mesmo diante da controvérsia sobre sua aceitação crítica.
Em ‘Death Proof’, Tarantino apresenta a história de Stuntman Mike, interpretado por Kurt Russell, um dublê que usa seu carro “à prova de morte” para assassinatos cruéis. No entanto, o que parecia ser uma simples narrativa de terror e violência se transforma em um embate contra três mulheres que não se deixam intimidar. Este aspecto da trama revela, desde o início, uma das características mais marcantes do filme: a força feminina e a inversão de clichês comuns no gênero. A decisão do diretor de trazer mulheres fortes à frente da narrativa não só desafia estereótipos, mas também destaca um lado distinto do seu trabalho, embora tenha sido criticado por, segundo alguns críticos, não conseguir criar diálogos consistentes para seus personagens femininos.
Embora o filme tenha sido recebido com um índice baixo no Rotten Tomatoes, marcando apenas 64%, ele se destaca por um fato significativo na carreira de Tarantino: ‘Death Proof’ representa sua primeira e única oportunidade como diretor de fotografia. Este papel permitiu a Tarantino ter um controle absoluto sobre a estética visual do filme, um aspecto que se tornou crucial para capturar a essência dos filmes de ‘grindhouse’ da década de 1970. O cineasta fez questão de reproduzir um estilo visual que remetesse aos filmes de exploitation, caracterizados por uma produção “barata” e “danificada”, resultando em cortes abruptos que foram, deliberadamente, parte da narrativa. Dessa forma, Tarantino buscou não apenas contar uma história de horror, mas também reviver uma era cinematográfica que fazia parte das suas próprias referências.
Contudo, nem todos estavam alinhados com a visão estética de Tarantino em ‘Death Proof’. Críticos apontaram falhas significativas, como a inconsistência do estilo visual entre as partes do filme e a narrativa lenta, que algumas críticas chamaram de “tediosa”. O ritmo apresentado na segunda parte da obra, contrasta com a intensidade esperada em produções do gênero slasher, resultando em um filme que, apesar de seus intentos de arte, foi considerado por muitos como um dos trabalhos mais fracos do diretor. A combinação da tradição de Tarantino no diálogo cortante, cujo impacto normalmente é inegável, tornou-se vulnerável no contexto de ‘Death Proof’, revelando uma necessidade de adaptabilidade ao gênero que muitos críticos acreditam não ser sua força primária.
Por fim, mesmo que ‘Death Proof’ não tenha sido aclamado como outras obras do diretor, sua análise mostra que Tarantino desafiou a si mesmo, indo além de sua zona de conforto não apenas como diretor, mas também como cinematógrafo. Ele pode não ter alcançado a perfeita harmonia entre seu estilo característico e os elementos do terror, mas a tentativa não deve ser ignorada. O filme permanece sendo uma discussão em andamento sobre as expectativas e limites do que um filme de terror pode ou não ser, defendendo um espaço importante na filmografia do cineasta.
No final das contas, ‘Death Proof’ não é apenas um filme repleto de violências e de tensões cinematográficas. É uma obra que provoca reflexão, um convite a dialogar sobre os desafios inerentes à evolução de um artista em constante transformação e que, apesar das falhas, mantém a coragem de explorar novos caminhos. A posição ocupada por ‘Death Proof’ na filmografia de Tarantino não deve ser subestimada. Ele deixa uma marca significativa como uma obra que, embora divisiva, conferiu ao diretor uma nova perspectiva e um espaço de inovação em sua carreira, solidificando a relevância de sua contribuição ao cinema contemporâneo.