O cineasta taiwanês-birmanês Midi Z, conhecido por provocar discussões com suas obras, novamente atrai a atenção do mundo cinematográfico com seu novo filme ‘The Unseen Sister’, que integra a competição principal do Festival Internacional de Cinema de Tóquio 2024. Lançado no contexto de uma indústria e sociedade que ainda enfrenta a luta contra a exploração e a violência de gênero, a nova produção revisita temas que Midi Z já havia explorado em seu aclamado filme anterior, ‘Nina Wu’. Esta nova narrativa, por sua vez, nos apresenta as desafiadoras realidades enfrentadas por mulheres marginalizadas na sociedade e na indústria do entretenimento.
Baseado no livro ‘Unseen Sister’ de Zhang Yueran, a obra narra a história de duas irmãs que, após trocarem de identidade na infância, levam vidas diametralmente opostas: uma se torna uma famosa atriz na China, enquanto a outra, a verdadeira Qiao Yan, permanece na pobreza em Mianmar. A trama se desenrola ao longo de seus caminhos, revelando um destino que inevitavelmente reúne essas irmãs.
Zhao Liying, uma renomada atriz na televisão chinesa, agora enfrenta um novo desafio ao fazer a transição para filmes de longa-metragem. No elenco, também se destacam Huang Jue, Xin Zhilei e o rapper chinês Gem, enriquecendo ainda mais o papel feminino central da trama com performances relevantes.
Durante uma entrevista no Festival, Midi Z comentou sobre as diferenças de produção entre ‘The Unseen Sister’ e seus filmes anteriores. Ele revelou que este projeto possui um budget e escala muito mais amplos, com mais de 300 pessoas trabalhando intensamente para trazer esta complexa narrativa à vida. Contudo, a essência da história continua sendo profundamente chinesa, tocando em valores familiares e nas dinâmicas intimistas que atravessam a cultura do país.
Por sua vez, Zhao Liying destacou que seu interesse pelo personagem da atriz se deu principalmente como um desafio interpretativo, além de sua admiração pela abordagem narrativa única de Midi Z. Ele enfatizou como a pressão que a personagem enfrenta durante a produção de uma cena crítica ressoou com sua própria experiência na indústria, destacando, assim, a relevância desta narrativa tanto para o público chinês quanto internacional.
A dualidade linguística que permeia o filme, com a utilização do mandarim e do dialeto de Yunnan, foi uma escolha propositada, refletindo a experiência e a realidade dos personagens que transitam entre diferentes regiões e culturas. Midi Z explicou que o uso de dialetos variados está se tornando cada vez mais comum em produções chinesas, à medida que a sociedade se torna mais interconectada e as experiências dos indivíduos se diversificam.
Enfrentando diretamente a exploração de mulheres em uma indústria frequentemente criticada, Midi Z revelou que a escolha de retratar essas histórias é profundamente influenciada por sua própria vivência familiar, tendo sido criado em um ambiente predominantemente feminino que o ensinou a valorizar e compreender as lutas e as vivências das mulheres em sua vida.
‘The Unseen Sister’ não só capta as complexidades das experiências femininas na sociedade contemporânea, como também oferece uma representação visual poética das paisagens que refletem a luta interna dos personagens. O filme, portanto, se propõe a dialogar com um público não apenas no plano local, mas também internacional, trazendo à tona temas universais que transcendem fronteiras culturais.
Após sua exibição em Tóquio, ‘The Unseen Sister’ será apresentado no Festival Internacional de Cinema de Cingapura em dezembro, colocando o filme sob os holofotes de um público ainda mais amplo, que certamente se beneficiará da mensagem poderosa sobre a luta das mulheres e suas aspirações por liberdade e justiça social.
A indústria cinematográfica contemporânea ainda pode ensinar muito sobre a condição humana, e a história de ‘The Unseen Sister’ é um exemplo vibrante de como a arte pode ser um reflexo da luta contínua por dignidade e igualdade.