Na estrada entre pequenas cidades na costa oeste de Michigan, Bill Clinton reflete sobre um tema bastante profundo: a mortalidade, que se estende à democracia americana, ao Partido Democrata e, também, à sua própria. Em uma conversa exclusiva com a CNN, Clinton, o 42º presidente dos Estados Unidos, expressou tanto esperanças quanto receios sobre o futuro após as eleições de 2024.
Clinton acredita que Kamala Harris sairá vitoriosa na disputa eleitoral. Ele prevê uma explosão da economia nos próximos anos, em decorrência das políticas implementadas por Joe Biden, que, segundo ele, começará a ser sentida pelo povo americano após um inevitável lapso de tempo. Ele descreve Harris como uma solucionadora de problemas, detalhando como seu plano de combater a prática abusiva de preços poderia reduzir o custo de alimentos e como a proposta de aumentar a oferta habitacional pelo governo federal é uma ideia que ele nunca tinha cogitado anteriormente.
Com seu humor característico, Clinton lança algumas piadas típicas do Arkansas, como quando diz que Donald Trump “distribui culpa como uma máquina John Deere distribui esterco”. Ele sempre dá um jeito de relacionar questões cotidianas com a política, ilustrando como o candidato republicano se apropria de acontecimentos positivos em sua campanha, mas culpa Biden quando as coisas não vão bem.
Em sua primeira entrevista desde que iniciou uma maratona de campanha cheia de paradas de última hora, Clinton expressou suas preocupações sobre o impacto que Trump pode ter na política, independentemente de quem vencer as próximas eleições. “O que surpreendeu tantas pessoas – embora eu tenha certeza de que isso aconteceu na década de 1930 em toda a Europa durante o auge do fascismo – é que muitas pessoas não conseguem acreditar em quantos eleitores americanos concordam que Trump não faz sentido e que suas propostas são prejudiciais, mas acreditam que, se tiveram uma experiência boa no passado, isso é obra dele e tudo está resolvido”, analisou Clinton.
Campanha que já faz 30 anos, Clinton se apresenta como uma ponte para o século XXI, embora reconheça que a divisividade e a brutalidade da política não são o que muitos esperavam para o futuro. Em uma trajetória de revisão de sua própria história política, ele reflete sobre sua complicidade nos fatores que levaram à escalada da desconfiança do eleitorado e à ascensão de Trump ao poder, uma questão que o atormenta profundamente.
Em seus encontros com eleitores, Clinton é claro sobre os riscos que a democracia enfrenta. Ele aponta para o fato de que a divisão que viveu nas décadas passadas não deve ser o futuro, embora o clima político atual faça muitos sentirem-se encurralados. Ele destaca que a insatisfação com o status quo tem raízes profundas e que o desafio é como unir o país novamente em tempos de constante polarização.
Aos 78 anos, Clinton reflete sobre sua própria saúde e futuro, reconhecendo que estes anos têm sido de diversidade de desafios. Entre discursos que constantemente abordam suas experiências, ele compartilha com os eleitores algumas de suas vulnerabilidades. Ele fala sobre seu tempo no cargo, lembrando-se de momentos que definiram seu governo e os desafios que não conseguiu superar, como o acordo de paz no Oriente Médio que sempre lhe escapou.
Clinton também se dedica a garantir que seus netos tenham um futuro seguro em uma nação que ele espera possa transformar a narrativa atual. Durante uma parada em Muskegon Heights, Michigan, ele se recorda de um discurso sobre os perigos de desestabilizar uma das democracias mais antigas do mundo e os compromissos necessários para assegurar um legado de paz.
Com um apelo à união e à importância de conduzir negociações difíceis, ele expressou otimismo. Clinton crê que, independentemente de quien seja o próximo presidente, a economia verá um crescimento significativo, alterando a paisagem política atual, que, para ele, está repleta de divisões e antagonismos. “A imperativa de um partidarismo excessivo está condenada a tombar sobre os cidadãos. Precisamos ter um diálogo mais honesto e abrangente entre os partidos”, concluiu.
Pela primeira vez em muitos anos, Clinton se apresenta nas campanhas eleitorais de maneira ativa e envolvente, celebrando essa nova fase. Ele sempre foi um mestre em conectar-se com a mente e o coração dos eleitores, e nesse ciclo de campanhas, sua voz ainda ecoa na política contemporânea. Reconhecendo seus próprios erros do passado, ele busca não apenas alertar os democratas sobre a importância da unidade, mas também oferece conselhos práticos para que eles aprendam a não repetir os erros que marcaram sua presidência e o surgimento de Trump.
Assim, à medida que a campanha avança, Clinton enfatiza com insistência a importância de um diálogo honesto e da construção do consenso — aspectos sem os quais ele acredita que qualquer política democrática corre o risco de fracassar. Afinal de contas, em um mundo polarizado, a habilidade de ouvir e considerar múltiplas visões pode ser o primeiro passo para a reconciliação e a real mudança no futuro dos Estados Unidos.