Após um hiato de quase sete anos, a construção da emblemática Jeddah Tower, na Arábia Saudita, foi retomada, prometendo tornar-se o edifício mais alto do mundo, com impressionantes 1.000 metros de altura. Este projeto monumental enfrentou desafios significativos desde sua interrupção em 2018, resultado de uma purga anticorrupção que abalou a liderança do país. Este retorno à obra, anunciado em cerimônia na última quarta-feira, representa não apenas um avanço arquitetônico, mas também uma resiliência diante de adversidades que pareciam intransponíveis.
A Jeddah Economic Company (JEC), consórcio responsável pelo desenvolvimento do projeto, revelou que agora a conclusão da torre está prevista para 2028. No início das obras, cerca de um terço da estrutura já havia sido edificado, mas a detenção de figuras-chave, como os presidentes do principal empreiteiro e de um conglomerado que cofinanciava a obra, interrompeu os avanços. Essa campanha anticorrupção, liderada pelo Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman, levou centenas a serem interrogados sob acusações de corrupção, impactando significativamente o progresso da construção.
Ainda que os trabalhos tenham continuado após as detenções, foi somente em 2018 que a construção foi interrompida por completo. O impacto econômico da purga e, posteriormente, as consequências da pandemia de Covid-19 também contribuíram para os atrasos prolongados. A comunidade de investidores e interessados esperou pacientemente até este recente anúncio, que trouxe um sopro de esperança e expectativa para a continuidade deste projeto emblemático.
No evento de retoma das obras, o Príncipe Alwaleed bin Talal, um dos executivos anteriormente detidos, esteve presente. Alwaleed, que é primo do príncipe herdeiro, foi libertado cerca de três meses após sua prisão, e participou da cerimônia com um espírito renovado. Em uma demonstração de otimismo, ele postou um vídeo em suas redes sociais mostrando uma renderização digital da majestosa torre JavaScript, com uma legenda que sintetizava a sensação no ar: “Estamos de volta”.
Historicamente, a Jeddah Tower, já conhecida como Kingdom Tower, iniciou suas obras em 2013, com a expectativa inicial de conclusão para 2020. O edifício deverá superar em mais de 150 metros o Burj Khalifa, atualmente o arranha-céu mais alto do mundo, localizado em Dubai. Encravada na costa do Mar Vermelho, em Jeddah, a nova estrutura não será apenas um marco arquitetônico, mas também uma transformação no urbanismo local, criando uma nova cidade que desafia o paradigma habitual de assentamento na Arábia Saudita.
Os planos para a torre incluem não apenas espaços comerciais, mas também residenciais e um hotel, além do que será considerado o deck de observação mais alto do mundo. A estrutura incorpora um sistema de elevadores sofisticado, prometendo um total de 59 elevadores, cada um dos quais foi projetado para lidar com as exigências de um edifício de tamanha magnitude. O projeto arquitetônico, uma criação do renomado arquiteto Adrian Smith, adota uma forma aerodinâmica que lhe confere um visual elegante, projetando uma imagem que remete a folhas brotando do chão.
As informações mais recentes de contratos publicados na bolsa de valores da Arábia Saudita indicam que o novo contrato da Saudi Binladen Group, que reassumiu seu papel como o principal empreiteiro do projeto, é avaliado em 7,2 bilhões de riais (aproximadamente 1,9 bilhão de dólares), com 1,1 bilhão de riais (cerca de 290 milhões de dólares) já pagos pelos trabalhos concluídos. Com 63 dos 157 andares projetados já construídos, a obra promete provocar um impacto significativo na economia local e na infraestrutura da região, que busca se reinventar como um centro comercial e cultural de relevância internacional.
A altura estratosférica e o design inovador da Jeddah Tower não apenas promete reconfigurar a paisagem de Jeddah, mas também trazer investimentos e transformar a cidade em um polo atrativo para turismo e negócios. A continuidade desse projeto será observada com grande expectativa, especialmente em um momento em que a Arábia Saudita busca diversificar sua economia, tradicionalmente dependente do petróleo.
Além disso, é importante ressaltar que a Jeddah Tower é parte de um complexo maior conhecido como Jeddah Economic City, que abrange 57 milhões de pés quadrados e que é avaliado em um colossal valor de 20 bilhões de dólares. A visão de um Jeddah reinventado, descrita por Hisham Jomah, ex-diretor de desenvolvimento da JEC, destaca a transformação cultural e urbana que a construção da torre representa para uma cidade que tradicionalmente serviu como um portal para as cidades sagradas de Medina e Mecca. A ambição de criar uma nova cidade que não apenas abriga a superestrutura, mas que redefine o espaço urbano pode ser o legado mais significativo deste projeto arrojado.
Como se pode observar, a retoma da construção da Jeddah Tower não representa apenas uma simples obra de engenharia, mas sim a manifestação de uma visão que ambiciona não apenas atingir novas alturas físicas, mas também impulsionar mudanças sociais e econômicas significativas na região. O que restará agora é acompanhar esse desenvolvimento e ver até onde a ambição saudita pode realmente alcançar.