Uma situação alarmante de poluição do ar no Punjab, a província mais populosa do Paquistão, levou as autoridades a buscar uma inédita colaboração transfronteiriça com a Índia. Enquanto cidades de ambos os países enfrentam níveis severos de poluição atmosférica, a saúde de milhões de pessoas se torna uma pressão crescente, exigindo ação conjunta. Lahore, a mega cidade do Punjab com mais de 14 milhões de habitantes, viu seu índice de qualidade do ar atingir marcos históricos alarmantes, despertando a necessidade urgente de um diálogo sobre este problema que não respeita fronteiras.

Recentemente, os oficiais do Punjab, que abriga cerca de 127 milhões de pessoas, redigiram uma carta destinada ao governo indiano, pleiteando a abertura de um canal de comunicação sobre a questão da poluição atmosférica. O Secretário de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Punjab, Raja Jahangir Anwar, reiterou esta necessidade em entrevista, afirmando que “precisamos de diplomacia climática, visto que é um problema regional e global”. Esta declaração abrangente ocorre apenas dias após o registro dos mais altos níveis de poluição em Lahore, que fica a apenas 25 quilômetros da fronteira indiana. O fenômeno trouxe à tona a questão de como os problemas climáticos de um país podem impactar diretamente seus vizinhos.

Anwar também comentou sobre o impacto das correntes de vento que transportam poluentes do leste, vindos da Índia, exacerbatando a qualidade do ar na região. “Estamos sofrendo em Lahore de maneira acentuada devido ao corredor do vento oriental vindo da Índia”, explica. “Não estamos culpando ninguém; é um fenômeno natural.” Esta perspectiva sugere um reconhecimento de que a poluição do ar é um problema coletivo, não restrito por divisões políticas.

A poluição nas regiões do norte da Índia e do leste do Paquistão tende a aumentar com a chegada do inverno. Isso ocorre principalmente devido a práticas agrícolas, como a queima de resíduos de culturas, associadas ao uso de combustíveis fósseis em usinas, ao tráfego intenso e a dias sem vento que trapaceiam a dispersão dos poluentes. No entanto, o caráter interconectado da atmosfera implica que as ações de uma nação têm repercussões diretas em outra, forçando ambos os países a confrontar a responsabilidade compartilhada frente à crise climática crescente.

Os dados são alarmantes: na última semana, o índice de qualidade do ar em Lahore ultrapassou o recorde de 1.900 em algumas áreas, um número mais de seis vezes superior ao nível considerado prejudicial à saúde. Como resposta imediata, as autoridades de Lahore fecharam escolas primárias por uma semana, impuseram restrições em restaurantes que oferecem churrascos, em riquixás e nas atividades de construção. A saúde pública se torna, assim, um leitor da urgência da ação e comunicação entre as nações.

Enquanto isso, na Índia, o nível de poluição em Delhi, frequentemente considerada uma das cidades mais poluídas do mundo junto a Lahore, atingiu índices acima de 500 em dias recentes, exacerbados pelas celebrações do Diwali, ignorando uma proibição de fogos de artifício. Porém, as condições climáticas mais quentes e com mais vento conseguiram atenuar a intensidade da smog. Apesar disso, as consequências de respirar ar poluído são devastadoras, aumentando o risco de doenças como câncer de pulmão, derrame e problemas cardíacos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Este cenário levanta a questão: quanto tempo temos até que nossos níveis de tolerância se esgotem completamente?

A situação atual foi destacada pela Chefe do Governo do Punjab, Maryam Nawaz, que declarou com veemência: “Este não é apenas um problema político, mas uma questão humanitária.” Ao mesmo tempo em que a poluição se agrava, as temperaturas mais baixas e secas no inverno tendem a aprisionar os poluentes no ar, tornando-o ainda mais nocivo à saúde humana. O início do inverno coincide com a temporada de queima de palha, onde agricultores intencionalmente ateiam fogo a restos de colheitas para limpeza dos campos, aumentando a nuvem de fumaça nas regiões.

Ainda que becamos de um pouco de esperança na luta contra a poluição, tanto a Índia quanto o Paquistão têm tentado coibir essa prática rural, mesmo que a queima de palha continue disseminada. O Supremo Tribunal da Índia recentemente condenou os governos de Punjab e Haryana por não cumprirem adequadamente a proibição dessa atividade. Em resposta, oficiais locais afirmam ter reduzido a prática significativamente nos últimos anos, mas a realidade prova que a batalha está longe de ser vencida. Em contrapartida, o Punjab paquistanês está implementando subsídios para semeadores super eficientes, uma medida que oferece alternativas para os agricultores no manejo dos resíduos de colheita.

Em meio a tudo isso, a necessidade de “diplomacia climática” e diálogo entre a Índia e o Paquistão é mais pertinente do que nunca. Com ambas as nações navegando por um mar de desafios, é vital que as relações evoluam para além das acusações e se concretizem em ações colaborativas que possam oferecer um futuro mais saudável para todos os seus cidadãos. Afinal, a saúde do nosso planeta e das pessoas que nele habitam deve ser a prioridade de qualquer nação.

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