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Nos últimos tempos, as alegações infundadas sobre fraudes eleitorais, frequentemente amplificadas por figuras proeminentes como o ex-presidente Donald Trump e o magnata da tecnologia Elon Musk, despertaram preocupações sobre a segurança dos sistemas de votação nos Estados Unidos. Os dois têm criticado abertamente as eleições, afirmando que há um forte risco de fraude, mesmo sem apresentar evidências concretas que sustentem essas afirmações. Esse clima crescente de desconfiança levanta a questão: será que os sistemas eleitorais realmente são seguros? Ou será que estamos diante de uma trama mais profunda, a qual tenta desacreditar o sistema democrático?
Por exemplo, Trump afirmou, sem provas, que há “trapaça” ocorrendo na Pensilvânia, enquanto Musk utilizou suas plataformas sociais para propagar alegações sobre a vulnerabilidade dos sistemas de votação, criando um cenário de desconfiança antes mesmo das eleições. Essa estratégia de minar a confiança pública nas eleições é nitidamente uma abordagem adotada pelos aliados de Trump, como se evidenciado pela crescente desinformação que se espalha nas redes.
A votação, em essência, é um ato de fé na democracia. Apesar das evidências contrárias, a tentativa de deslegitimar o processo eleitoral parece ser uma tática deliberada para criar uma narrativa de insegurança e desconfiança nas instituições. Para entender melhor a segurança dos sistemas eleitorais dos EUA e por que não há indícios de falhas de segurança, conversei com Zachary Cohen e Sean Lyngaas, jornalistas da CNN que cobrem segurança nacional e cibersegurança, respectivamente. Eles fazem parte de uma equipe maior focada na proteção das eleições.
O primeiro tema abordado na nossa conversa foi a **Dominion Voting Systems**, uma das empresas de votação mais conhecidas e frequentemente citadas nas teorias de conspiração sobre fraudes eleitorais. A empresa recentemente ganhou destaque após um acordo de 787 milhões de dólares com a Fox News, ligado a mentiras sobre as eleições de 2020. Perguntei a Lyngaas qual é a real abrangência do uso da Dominion nos Estados Unidos.
Vamos começar com os sistemas de votação Dominion
**LYNGAAS**: Uma grande parcela do país, vários estados, utiliza a Dominion de alguma forma. Existem três grandes fornecedores de equipamentos eleitorais nos Estados Unidos: Dominion; ES&S (Election Systems and Software); e Hart InterCivic. Juntos, eles constituem a vasta maioria da infraestrutura eleitoral. Dessa forma, com base nesses dados, podemos afirmar que a maioria dos estados confia nessas empresas para garantir seus processos eleitorais.
Embora a Dominion seja amplamente utilizada, as administrações eleitorais não se limitam a um único fornecedor. Na verdade, frequentemente optam por diversificar suas opções, utilizando múltiplos fornecedores para garantir a segurança e a integridade do processo. Essa estratégia é uma salvaguarda crítica, pois, caso algo catastrófico ocorra, eles têm um plano de backup.
Como o processo de votação funciona?
**WOLF**: Como geralmente funciona o processo de votação com esses sistemas?
**LYNGAAS**: O sistema de votação inclui diferentes equipamentos que lidam com o banco de dados de registro de eleitores. Assim, no dia da votação, quando você chega à urna, as informações do seu registro são comparadas com o que está na frente dos funcionários eleitorais.
Importante ressaltar que cerca de 97% dos votos são registrados com um comprovante em papel. Isso serve como um ponto de referência para convincentes os eleitores da segurança e precisão de seus votos.
As máquinas de votação variam, podendo incluir tablets de toque ou sistemas em que o eleitor preenche um boletim com uma caneta e o insere em uma máquina.
**COHEN**: Há um equívoco comum de que as máquinas de votação são todo o processo. Na verdade, elas são apenas uma parte de um sistema maior que envolve a emissão, armazenamento e contagem dos votos. Em muitos estados, os dados das máquinas são transferidos via USB e inseridos manualmente em um computador.
Todos esses dados são coletados e organizados online pelos secretários de estado ou por quem está encarregado de preservar essas informações. Além disso, o componente do formulário em papel não serve apenas para tranquilizar os eleitores, mas também funciona como ferramenta de auditoria.
Quais mudanças ocorreram neste ano?
**WOLF**: Quais mudanças significativas observamos desde 2020?
**COHEN**: A maior mudança foi uma espécie de guerra sobre o que é fato e o que é ficção em relação às máquinas de votação. Devido à predominância dos sistemas da Dominion, as narrativas de desinformação se concentraram principalmente nessa empresa.
Observa-se que as mesmas narrativas estão emergindo novamente, considerando que a Dominion é utilizada em tantos estados. Por exemplo, se um problema alegado ocorrer em um sistema de um estado, é possível argumentar que isso impacta a votação em todo o país.
Portanto, como podemos ver, os operadores e advogados a favor de Trump têm tentado argumentar antes de 2024 que esses sistemas são não confiáveis, mesmo que não haja evidências de que os votos tenham sido manipulados ou que os sistemas tenham sido hackeados em eleições passadas. Assim sendo, a batalha gira em torno da verdade ao invés da crítica dos sistemas em si.
Quais são as proteções?
**WOLF**: Se você está se referindo a portas USB e discos rígidos, isso é bastante básico. Quais são as garantias de que esses sistemas são seguros? Quais são as precauções contra invasões?
**LYNGAAS**: Uma das principais precauções é a **cadeia de custódia** dos dados. Com exceção do quebra-cabeça ocorrido na Coffee County, na Geórgia, onde pessoas autorizadas deram acesso a uma instalação a indivíduos não autorizados, o controle de acesso tem funcionado bastante bem.
Esperamos que essa situação seja uma exceção, pois 99,9% das pessoas envolvidas na condução das eleições não se comportam dessa forma. É de suma importância controlar quem tem acesso aos tabuladores e aos dados que garantem que todos os eleitores estejam registrados no sistema.
**COHEN**: É importante notar que, desde 2020, reconhecemos que existem preocupações legítimas quanto a vulnerabilidades, especialmente em relação à parte posterior do sistema de votação. A quebra na Coffee County e em outros locais nos mostrou que o acesso não autorizado pode representar uma séria ameaça à integridade eleitoral.
O que precisa mudar?
**WOLF**: Você mencionou que existem vulnerabilidades naturais em qualquer sistema. Quais são as vulnerabilidades que estão deixando os oficiais eleitorais nervosos, ou quais são aquelas que precisam ser abordadas?
**LYNGAAS**: Em um mundo ideal, haveria um fluxo robusto de identificação e correção de vulnerabilidades. Continuamos a ver isso, mas as pessoas se tornam muito mais relutantes em discutir publicamente essas questões devido à maneira como essa informação é distorcida e utilizada de forma negativa.
Em resumo, não conheço vulnerabilidades de software evidentes na infraestrutura eleitoral que não tenham sido abordadas. Entretanto, é preciso lembrar que, mesmo que uma pequena porcentagem de funcionários eleitorais seja suscetível à desinformação, muitos estão atentos às ameaças e vigilantes quanto à segurança dos processos eleitorais.
Portanto, fica claro que a segurança dos sistemas eleitorais é uma questão complexa que necessita de atenção contínua. Além de implementar robustas medidas de segurança, é crucial fomentar um ambiente de confiança, onde os eleitores possam exercer seu direito sem medo de fraudes ou manipulações. A confiança dos cidadãos em seus sistemas de votação é fundamental para a promoção de uma democracia saudável e funcional.