Na madrugada de segunda-feira, a presidente pro-União Europeia da Moldávia, Maia Sandu, celebrou sua vitória em uma eleição marcada por alegações de “interferência sem precedentes” de Moscovo. A eleição que se desenrolou no país não apenas refletiu a preferência da população por um alinhamento mais próximo com a União Europeia, como também expôs as tensões geopolíticas em jogo na região. Após a contagem de 100% dos votos, Sandu assegurou 55% dos votos, derrotando o ex-procurador Alexandr Stoianoglu em uma disputa acirrada.

Enquanto isso, vozes pró-Kremlin na Rússia partiram para desacreditar os resultados da eleição. O vice-presidente da câmara alta do parlamento russo, Konstantin Kosachev, criticou a “organização vergonhosa” do pleito, sugerindo que a oportunidade de voto foi proporcionada de forma “exclusiva” para aqueles que apoiavam um candidato, insinuando que a Moldávia favoreceu seus cidadãos expatriados na Europa, que frequentemente apoiam Sandu, em detrimento dos cidadãos moldavos na Rússia, que poderiam ter preferido o oponente.

Um outro alto senador russo, Andrey Klishas, tomou uma linha semelhante, acusando a Moldávia de falsificar os votos da diáspora, que foram cruciais para a vitória de Sandu. Ele teceu teorias sobre como os votos que estavam em falta do “candidato correto” foram preenchidos ilegalmente de estações de votação no exterior.

O Kremlin refutou oficialmente as acusações de que orquestrou e financiou uma extensa campanha de interferência, que incluía desinformação, ataques cibernéticos e compra de votos, com a intenção de influenciar não apenas a eleição presidencial, mas também um referendo realizado no dia 20 de outubro, que aprovou por uma margem inferior a 1% a intenção da Moldávia de se tornar membro da União Europeia em sua constituição.

Ainda assim, há muito em jogo para Moscovo, que poderia se beneficiar da instalação de um simpatizante da Rússia em Chisinau, minando assim a trajetória da Moldávia rumo à adesão à União Europeia. A presença militar russa já é notada na Transnístria, uma república separatista não reconhecida em Moldávia que faz fronteira com a Ucrânia, o que levanta preocupações sobre as intenções de Moscovo não se limitarem apenas ao país vizinho.

No mês de fevereiro, a Transnístria solicitou a Moscovo “proteção” contra o que alegava serem ameaças das autoridades moldavas. Essas reivindicações ecoam a narrativa usada por Moscovo para justificar sua invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, quando similarmente se afirmou que a Rússia estava “protegendo” seus compatriotas.

Outra região no sul da Moldávia, Gagauzia, também demonstra desejo de se aproximar de Moscovo. O líder desta região mantém estreitas relações com a Rússia e foi visto com o presidente Vladimir Putin em março, evidenciando os laços que podem ser explorados pela Rússia para aumentar sua influência na Moldávia.

Em sua mensagem parabenizando Sandu, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, destacou que “a Rússia falhou” em suas tentativas de minar a democracia moldava. Contudo, a vitória apertada de Sandu e o calendário eleitoral do país para o próximo ano oferecem incentivos claros para Moscovo manter a pressão sobre sua vizinha.

A cobertura da mídia na Rússia já enfatiza como Sandu teve um desempenho apenas marginal em seu próprio país, mas conseguiu vencer devido a uma participação recorde da população moldava no exterior, que superou 80% dos votos para ela. Em seu discurso de vitória, Sandu reconheceu as divisões dentro do país e se comprometeu a ser “a presidente de todos vocês”, um apelo à união em um cenário político fragmentado.

Ela agora conta com menos de um ano para abordar essas divisões antes das eleições parlamentares programadas para o verão, que muitos temem que possam se tornar outro alvo para Moscovo. Com o olhar cauteloso voltado para a Ucrânia, Moldávia percebe seus vizinhos enfrentando uma ofensiva russa que é descrita como uma das mais poderosas desde o início do conflito.

No dia da votação na Moldávia, jatos de combate romenos levantaram voo a menos de 40 milhas da fronteira sul do país, após drones russos se aproximarem do seu espaço aéreo, uma clara lembrança de que as tensões podem rapidamente se transformar em um conflito armado, caso os avanços da Rússia se tornem estratégicos. Para Moldova, o futuro próximo exige uma vigilância constante e resposta a provocações que vão além da simples interferência eleitoral.

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