Em um cenário onde as mudanças nas dinâmicas de Hollywood estão à espreita, a trajetória dos assistentes é cada vez mais sombria. Embora os recentes movimentos laborais tenham oferecido algumas proteções a roteiristas e atores, uma grande parte dos trabalhadores da indústria cinematográfica observa que as barreiras para ocuparem postos de nível inicial se tornaram ainda mais altas. Para muitos, a ascensão ao sonho de Hollywood parece estar mais distante do que nunca.
De acordo com relatos de organizadores, um número crescente de empregos para assistentes foi eliminado, ao mesmo tempo em que as exigências para conseguir essas vagas iniciais aumentaram, enquanto os salários permanecem baixos em meio ao crescente custo de vida. A situação é desafiadora: “Você essencialmente precisa ser *superqualificado* para conseguir esse emprego de nível inicial”, aponta Alex Rubin, co-líder do movimento Pay Up Hollywood, que defende condições de trabalho justas e seguras para os funcionários de apoio. Rubin destaca que, mesmo antes das greves, ao tentar mudar de carreira, havia aplicado para mais de 100 vagas, e acredita que sua única chance de conseguir uma posição como assistente de showrunner em janeiro de 2022 se deu por sua experiência prévia em diferentes setores na cidade de Nova York. “Ouvia frequentemente que é mais difícil conseguir o emprego de assistente do que o primeiro trabalho como roteirista”, complementa Rubin. Essa afirmação evidencia um paradoxo intrigante na indústria: a necessidade de experiência excessiva para relações que normalmente deveriam ser consideradas de aprendizado.
Embora a consolidação de empregos para assistentes em Hollywood não possa ser atribuída exclusivamente às greves, as movimentações realizadas pelas grandes empresas de entretenimento durante e após esses eventos, incluindo demissões, medidas de contenção de custos e a ênfase em tornar o streaming lucrativo, têm um impacto sério. A escritora e produtora de televisão Liz Alper, que também é co-líder do Pay Up Hollywood, argumenta: “Este não é um negócio que se sustenta. Ele está sendo transformado para maximizar os lucros para os membros do conselho, CEOs e todos aqueles que estão no topo, enquanto dizem às pessoas: ‘Você simplesmente não tem experiência suficiente’.” Essa frase, que ecoa em várias vozes da indústria, provoca uma reflexão importante sobre a cultura de sobrecarga de qualificações que vem se espalhando. No entanto, em meio a essa tempestade, o desejo de muitos de começar são persistentes como nunca. Para os que sonham com uma carreira na indústria cinematográfica, trabalhar na “mailroom” de grandes agências ainda é visto como uma porta de entrada valiosa. O ambiente pode ser desafiador e saturado, mas as oportunidades naturais de networking e aprendizado são inestimáveis, considerando que astros e ícones do entretenimento, como Michael Ovitz e David Geffen, começaram suas jornadas ali.
Ouvindo a experiência de um ex-funcionário da mailroom de uma importante agência de talentos, descobre-se que, enquanto esteve no cargo, recebia cerca de cinco mensagens do LinkedIn por dia pedindo dicas sobre como conseguir aquela posição cobiçada. Este ex-funcionário atribui sua entrada na indústria a uma conexão feita na agência. Completando suas tarefas de manuseio de correspondências e entrega de pacotes, ele descreve um ambiente de trabalho peculiar, onde também é necessário exercer múltiplas funções, como mover móveis para eventos e até mesmo participar de um treinamento intensivo sobre como embrulhar presentes para clientes. “Quando você está em um emprego assim, percebe que é um investimento na sua carreira. Ao mesmo tempo, você precisa ser financeiramente inteligente”, reflete um atual funcionário da mailroom.
Refletindo sobre essa jornada, o ex-funcionário da mailroom confessa: “Pessoalmente, não consigo imaginar ficar na mailroom por dois anos e depois conseguir um cargo com o mesmo salário mínimo. Mas para aqueles que realmente desejam se tornar agentes, vale a pena para eles”. A parte positiva de todas essas experiências é que o trabalho na mailroom também oferece uma visão abrangente sobre os diversos setores da agência e a possibilidade de estabelecer relações valiosas com agentes e outros funcionários. Com isso, eles esperam encontrar seu próximo espaço na indústria. “Estou em busca do que eu faço melhor e do que realmente me apaixona. Quando descobrir isso, saberei onde quero estar”, diz um dos aprendizes atuais.
Assim, a pergunta que fica no ar é: o que acontecerá com a nova geração de trabalhadores que almejam suas oportunidades em Hollywood? O caminho à frente está repleto de incertezas, mas um fator é certo – a determinação e a paixão desses aspirantes a profissionais do entretenimento não podem ser subestimadas.