A busca por novos corpos celestes no nosso sistema solar passa por um momento intrigante e cheio de possibilidades. Com a recente especulação sobre a existência de um planetas oculto, apelidado de “Planeta Nove”, astrônomos estão mais otimistas do que nunca. Essa pesquisa não apenas pode reconfigurar nosso entendimento do sistema solar, mas também mexer com a forma como percebemos nossa posição no universo vasto e enigmático.
Tradicionalmente, considerávamos o sistema solar composto por nove planetas, a partir da famosa ordem que nos foi ensinada nas salas de aula. Contudo, essa ideia foi desafiada em 2006, quando Pluto e outros corpos celestes foram reclassificados como planetas anões, diminuindo a lista de planetas para apenas oito. Essa mudança foi principalmente resultado da descoberta de Eris, um objeto no Cinturão de Kuiper, feita pelo astrônomo Mike Brown, conhecido como “o homem que matou Pluto”. Essa descoberta provocou uma onda de reações entre entusiastas da astronomia, crianças e adultos, que se ressentiam por vê-lo retirado de sua categoria original de planeta.
A nova discussão gira em torno do Cinturão de Kuiper, uma vasta região preenchida de objetos gelados que existe além da órbita de Netuno, e onde Eris reside. Agora, Brown e seus colegas acreditam que outro planeta pode se esconder nessa região observável, que já foi um lar para um dos planetas que considerávamos como parte do nosso sistema solar. Este planeta teórico, chamado de “Planeta Nove” ou “Planeta X”, é sugerido com base no comportamento peculiar de determinados objetos no Cinturão de Kuiper, que parecem estar sendo influenciados por uma força gravitacional ainda não observada diretamente.
O Cinturão de Kuiper, que abrange uma faixa de espaço 50 vezes mais distante do que o Sol em comparação à Terra e com uma extensão ainda maior em regiões secundárias, é considerado um resquício da formação do sistema solar. Ele é povoado por muitos planetas anões, além de Eris e Pluto, que já não são considerados planetas no sentido tradicional. Mas por serem tão distantes, objetos no Cinturão de Kuiper têm se mostrado difíceis de detectar e estudar.
Nos últimos dez anos, os cientistas têm se empenhado em localizar esse “Planeta Nove” por meio de evidências indiretas, que são inferências baseadas em comportamentos peculiares observados em outros corpos celestes. Malena Rice, professora assistente de astronomia na Universidade de Yale, afirma que a descoberta de um novo planeta teria um impacto significativo em nossas compreensões, alterando nossa visão não apenas do nosso sistema solar, mas também de como sistemas planetários se formam e interagem entre si. Essa possibilidade de redescobrir o que sabemos sobre o cosmos é tamanha que o simples pensamento de um novo planeta existente provoca um frio na barriga da comunidade científica.
Porém, a busca por este objeto não é desprovida de controvérsias. Há diferentes correntes de pensamento dentro da comunidade científica. Algumas se opõem à ideia de um “Planeta Nove” e argumentam que não existe população suficiente de objetos transneptunianos (uma categoria que inclui corpos que orbitam o Sol além de Netuno) para fazer tal afirmação. A rivalidade entre pesquisadores que defendem a existência do planeta e aqueles que a desconfiam torna essa questão ainda mais interessante, uma vez que tais debates acirram as discussões e geram novas perspectivas sobre o nosso entendimento do sistema solar.
evidências da existência do planeta oculto
Embora muitos cientistas ainda se mostrem céticos, há um grupo motivado que busca coletar evidências robustas para apoiar a hipótese do Planeta Nove. Brown e seu colega Konstantin Batygin têm sido os principais defensores dessa teoria desde 2014, o que surgiu como uma consequência da observação de que a órbita de uma série de objetos conhecidos mantém-se claramente agrupada. Esta percepção levou-os a acreditar que um planeta maior, com várias vezes a massa da Terra, pode estar fazendo o “papel de pastor” para esses objetos e que sua atração gravitacional está influenciando suas órbitas.
Entre os argumentos utilizados para defender a proposta do Planeta Nove, Brown destaca o fato de que as órbitas de vários dos objetos mais distantes no Cinturão de Kuiper tendem a se alinhar em uma direção específica, revelando um comportamento que seria descrito como irregular se considerássemos apenas as leis gravitacionais conhecidas. Esses padrões foram identificados em estudo publicado em abril de 2023, onde os pesquisadores acompanharam corpos gelados que apresentavam algum tipo de perturbação, levando-os a uma possível influência gravitacional que poderia colocar em questão as teorias atuais sobre a formação do sistema solar.
As simulações computacionais sugerem que a influência gravitação do planeta oculto poderia muito bem ser a única explicação plausível para o que está acontecendo em torno desses objetos gelados e na sua interação com Netuno. Contudo, a busca por algo tão distante e tão sutil não se contenta somente com esses padrões; a aplicação das observações de tais ocorrências dependerá da ampliação das investigações por meio da nova geração de telescópios que promete iniciar suas operações.
A construção do observatório Vera C. Rubin está programada para começar suas operações em 2025, equipado com a maior câmera digital do mundo. Este telescópio poderia fornecer um importante passo adiante, capaz de surfar a vastidão do céu em busca de novos objetos e talvez até detectar o Planeta Nove diretamente. A simples virtude de ter dados mais consistentes seria uma grande conquista. Rice observa que caso encontrem um novo planeta nesse espaço, seria uma revelação emocionante, não apenas pelo que isso significaria, mas pelo que poderíamos aprender sobre a formação de outros sistemas planetários em nossa galáxia.
Entretanto, mesmo que o telescópio não consiga captar nenhum novo objeto, ele ainda poderá ser essencial para validar o que os pesquisadores acham que sabem sobre a disposição orbital dos objetos trans-neptunianos. A ideia é que a presença de um planeta gigante em nosso sistema solar não é tão absurda, considerando que bilhões de exoplanetas têm sido observados em sistemas distantes e diversos.
Por fim, essas pesquisas são um lembrete de que a ciência nunca é estática. Cada descoberta e cada debate traz a possibilidade de mudança, podendo se revelar uma oportunidade para expandir o nosso entendimento sobre o universo. O próximo capítulo da astronomia está prestes a atravessar a porta, e a expectativa de um futuro repleto de descobertas é algo que nos une como investigadores do desconhecido. E, se o Planeta Nove existir ou não, isso já nos brinda com um convite ao olhar mais atento às maravilhas cósmicas que nos cercam.