A cidade de Pawtucket, Rhode Island, foi palco de um evento significativo, marcado pela restauração de dignidade a veteranos da Guerra Civil que há décadas aguardavam um sepultamento apropriado. Os restos mortais de 28 soldados da União que, por muito tempo, estiveram esquecidos em uma funerária de Seattle, foram, finalmente, sepultados com honras militares. Este ato não só traz um fechamento para a história desses soldados, mas também serve como um lembrete do sacrifício feito por aqueles que lutaram pela preservação da união em um conflito que custou inúmeras vidas.
Durante várias décadas, as urnas simples, feitas de cobre e papelão, permaneciam empoeiradas em prateleiras, sem conexão explícita com a Guerra Civil. As únicas marcas identificáveis eram os nomes dos soldados, mas isso foi suficiente para que uma organização dedicada à localização e sepultamento de veteranos não reclamados concluísse, após anos de trabalho, que eles eram todos soldados da União e mereciam uma cerimônia fúnebre digna de seus feitos. “É incrível que eles ainda estavam lá e nós os encontramos,” disse Tom Keating, coordenador do projeto Missing In America, que mobilizou uma equipe de voluntários para confirmar o serviço militar de cada veterano por meio de pesquisa genealógica.
O sepultamento ocorreu no cemitério nacional de Tahoma, em Washington, em agosto, e contou com uma cerimônia tradicional que incluiu a presença do 4º Regimento de Infantaria dos EUA, trajando uniformes da União. Durante o evento, foram disparados salvas de mosquete, e o público cantou “The Battle Hymn of the Republic”. Os nomes dos veteranos foram mencionados junto das histórias de suas bravuras em combate, incluindo experiências em batalhas notórias como Gettysburg, Stones River e a campanha de Atlanta.
A cerimônia foi um momento de grande emoção, especialmente considerando que muitos dos envolvidos nunca tiveram um enterro digno em vida. Entre os veteranos estava Byron Johnson, que, nascido em Pawtucket em 1844, chegou a atuar como ajudante de hospital no Exército da União. Ele faleceu em Seattle em 1913, mas seus restos mortais foram finalmente entregues à sua cidade natal, onde foi sepultado com honras em um cemitério de sua família. “Essa cerimônia é o que devemos fazer por nossos veteranos”, disse o prefeito de Pawtucket, Donald R. Grebien, enfatizando a importância do reconhecimento e do respeito pelos veteranos que serviram ao país.
Keating também mencionou que, além dos 28 enterrados em Tahoma, outros veteranos também receberiam sepultamentos em cemitérios do estado, enquanto um veterano da Marinha seria sepultado no mar. A descoberta e a revalorização dessas vidas não são um caso isolado; diversas comunidades frequentemente transformam os sepultamentos em eventos significativos, onde os cidadãos têm a chance de reverenciar os veteranos e refletir sobre a história do país. Em uma ocasião, um grupo de motociclistas voluntários fez uma viagem através do país para escortar os restos de um veterano do Oregon até seu lugar de descanso final, em Maine.
Entretanto, nem sempre os reenterramentos são pacíficos e sem controvérsias. O descobrimento dos restos de dois soldados no Manassas National Battlefield, na Virgínia, gerou um apelo por testes de DNA que não foi aceito pelo Exército, os quais acabaram sendo enterrados como soldados desconhecidos no Cemitério Nacional de Arlington.
Conexões familiares e descobertas emocionantes
O trabalho de reunir as informações sobre a vida de Byron Johnson coube a Amelia Boivin, uma funcionária do gabinete do prefeito de Pawtucket. Com um interesse por história, ela se dedicou a descobrir os detalhes da vida de Johnson, revelando que ele cresceu na cidade, tinha irmãos e que, após a guerra, trabalhou como farmacêutico. Johnson se mudou para o Oeste em busca de fortuna e aparentemente nunca se casou ou teve filhos, o que tornou ainda mais importante para a comunidade honrar suas memórias. “Sentir que estávamos fazendo o que era certo por alguém que poderia ter sido esquecido pela história foi uma resolução em muitas maneiras,” disse Boivin, refletindo sobre o impacto emocional do evento.
As cerimônias como a de Johnson são um lembrete poderoso do custo humano da Guerra Civil Americana e do valor do serviço militar. O prefeito Grebien ressaltar que lembrar os sacrifícios feitos durante o conflito de 1861 a 1865 é essencial para que as gerações atuais compreendam os custos da liberdade. Ao final, a cerimônia foi mais do que um simples ato de sepultamento; foi um tributo a um passado que deve ser lembrado e valorizado, especialmente numa época em que a divisão e as feridas do passado ainda ressoam na sociedade.