O recente triunfo de Guan Hu na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes com seu filme Black Dog foi um marco significativo em um cenário cinematográfico que volta a se agitar. Hu, uma das estrelas brilhantes da sexta geração de cineastas chineses, surgiu nos anos 90 e se destacou ao equilibrar filmes comerciais que garantem sua segurança financeira, como o épico de guerra The Eight Hundred, com obras mais ousadas e pessoais que satisfazem suas inquietações criativas.
A obra Black Dog, por exemplo, é marcada por um humor ácido que envolve a trama de um ex-presidiário que retorna a sua cidade natal rural para recomeçar sua vida. O reconhecimento recente de Hu não só celebra seu talento, mas também reforça uma tradição que remonta à década de 1990, onde a sexta geração dominou os festivais internacionais e continua a conquistar prêmios ao lado de nomes respeitados como Jia Zhangke e Wang Xiaoshuai.
Entretanto, 2024 parece prometer mudanças significativas com o surgimento de uma nova geração de cineastas que estão fazendo ondas no circuito de festivais. Com uma proposta criativa marcante, esses jovens diretores estão construindo narrativas que abordam a vida contemporânea na China de forma pessoal e íntima. Exemplos notáveis incluem o longa-metragem de estreia de Jiang Xiaoxuan, To Kill a Mongolian Horse, que fez sua estreia mundial na seção Venice Days do Festival de Cinema de Veneza.
Jiang, formada na NYU Tisch School of the Arts, retornou à sua terra natal na Mongólia Interior para explorar as tensões entre a modernidade e a tradição através da história de um cavaleiro local que se vê dividido entre as oportunidades econômicas e as práticas ancestrais. Em suas palavras, a cineasta descreve seu filme como uma “carta de amor — talvez triste — à minha terra natal” e uma tentativa de documentar uma transição significativa na vida de seu ator principal, Saina, que interpreta o cavaleiro.
Jiang foi agraciada com o prêmio de Direção e Roteiro no Venice Film Festival, e está cotada para receber mais prêmios na próxima cerimônia Asia Pacific Screen Awards no dia 30 de novembro. Além disso, a produtora Annie Song, baseada em Pequim, participou do Asian Film Academy no Festival Internacional de Cinema de Busan, onde foi co-vencedora do prêmio de cineasta mais promissor. “Acreditamos que a indústria cinematográfica chinesa chegou a um ponto de virada,” afirma ela.
Após a estreia de Frankenfish by the River no FIRST International Film Festival, outro exemplo do potencial dessa nova geração, Song destaca que “um número crescente de jovens cineastas de origens diversas está se manifestando e a indústria começa a reconhecer seu potencial.” Este cenário criativo é impulsionado pela necessidade de contar histórias mais pessoais, muitas das quais ganharam força durante o período da pandemia, refletindo as vivências e desafios da juventude contemporânea na China.
A pandemia estimulou uma reflexão profunda entre essa geração, resultando na criação de filmes de baixo orçamento, mas de alta qualidade. “A diversidade se manifesta não apenas no conteúdo, mas também nos estilos de filmagem,” complementa Song. Assim, cineastas como Zhang Xuyu, que estreou seu drama Fishbone no Festival de Cinema de Xangai, abordam dilemas geracionais que ressoam tanto em audiências chinesas quanto internacionais.
Zhang menciona que sua obra teve boa aceitação, especialmente por explorar as pressões enfrentadas por jovens ao se deparar com expectativas acadêmicas, um tema que toca em questões delicadas da sociedade chinesa. O apelo recente por filmes com temáticas realistas é uma clara indicação de que o público está sedento por narrativas que se conectem diretamente com suas vidas cotidianas. Embora a transição para o mercado doméstico seja um desafio, os novos cineastas continuam a explorar suas visões únicas em busca de redefinir o panorama cinematográfico. Jiang, em um tom esperançoso, expressa o desejo de que esta nova geração continue a expandir seus horizontes e seja ousada em suas escolhas narrativas.
Com isso, o futuro do cinema na China parece promissor, repleto de histórias que valorizam a autenticidade e refletem o cotidiano de um país em contínua transformação.