A série Dragon Age da BioWare sempre foi um bastião de diversidade e representação, especialmente no que diz respeito à inclusão de personagens queer. No entanto, a recente entrada da franquia, intitulada Dragon Age: The Veilguard, tem despertado uma controvérsia inesperada nas redes sociais, onde muitos críticos parecem mais preocupados com a presença de personagens queer do que com a qualidade do jogo em si. Vamos entender o porquê dessa situação e como isso reflete uma luta mais profunda em torno da representação na mídia.

os críticos e a recepção polarizada de The Veilguard

Desde o lançamento de The Veilguard, o jogo tem sido alvo de críticas intensas em plataformas como Metacritic, onde muitos usuários classificam a obra como “propaganda forçada e woke”. Esse tipo de avaliação revela um fenômeno preocupante: a mera presença de personagens LGBTQIA+ está sendo usada como justificativa para críticas e avaliações negativas. Vários críticos têm se manifestado, afirmando que o jogo não respeita a continuidade das escolhas feitas em suas prequels ou que se afastou do estilo clássico de RPG baseado em turnos. No entanto, é intrigante notar que, em muitas dessas críticas, os problemas apresentados parecem ser ofuscados pelo descontentamento em relação à representação queer.

Além disso, ao analisarmos as práticas de avaliação em outras plataformas, como Steam, Xbox e PlayStation, a situação é menos alarmante. Essas plataformas exigem que os usuários comprem o jogo antes de poderem publicar uma avaliação, o que acaba filtrando um pouco mais aqueles que desejam expressar um discurso odioso. A política de moderação parece estar funcionando, pois os comentários desprezíveis acabam sendo menos frequentes, ao contrário do que se observa em outros espaços mais suscetíveis a ataques. Isso ilustra uma clara divisão sobre o que está em jogo quando se critica Dragon Age: The Veilguard, com muitos usuários se manifestando contra a inclusão de personagens queer, mas sem fornecer uma justificativa sólida.

uma história de inclusão e representação contínua

Se analisarmos a trajetória da série Dragon Age, fica evidente que a inclusão e o diálogo sobre sexualidade sempre foram pilares centrais, com seus jogos abordando temáticas relevantes e existentes. Desde Dragon Age: Origins, a BioWare apresentou opções de romance para personagens do mesmo sexo como Leliana e Zevran, gaios que estruturaram um espaço para debates sobre sexualidade, religião e gênero desde 2009. Em Dragon Age II, a presença de romances “playersexual” se tornou um grande marco, permitindo que todos os personagens fossem disponíveis para interações românticas, independentemente da orientação sexual dos jogadores. Assim, a inclusão de personagens e narrativas queer não é uma novidade, mas sim uma continuidade de um legado que se constrói desde o início da franquia.

Dragon Age: Inquisition trouxe uma nova camada de complexidade à discussão, com uma trama que discutia a terapia de conversão, envolvendo o sofrimento e a luta de personagens queer. A inclusão de uma personagem transexual, bem como a possibilidade do protagonista ser trans, é uma progressão natural para uma série que tem se adaptado e se tornado mais inclusiva com o tempo, refletindo assim os avanços e as lutas do mundo real. É inegável que, com o passar dos anos, a série não apenas explorou questões de identidade e sexualidade, mas também desafiou os jogadores a se envolverem de forma crítica com tais temas.

o que está por trás da resistência e da controvérsia?

Curiosamente, a recepção de The Veilguard expõe uma tendência de resistência à mudança e à evolução do discurso sobre identidade nos jogos. Algumas críticas parecem vir de uma sensação de perda de privilégios, onde a presença de personagens queer é vista como uma ameaça à experiência dos jogadores “tradicionais”. Essa perspectiva ignora a realidade de que a BioWare se esforçou para criar um ambiente inclusivo e igualitário, como exemplificado por sua afirmação sobre o romance em Dragon Age II ser “para todos”, e não se restringir a um público específico.

Ademais, há um tom de hipocrisia na forma como muitos críticos tentam desconstruir os avanços da série. O diálogo entre personagens, como a conversa franca entre Iron Bull e Krem sobre como a cultura Qunari encara os transexuais, é um testemunho do comprometimento da BioWare em abordar questões delicadas de forma honesta e direta. Assim, as críticas contra The Veilguard se veem em contradição com toda a história da franquia, que sempre fez um esforço consciente para apresentar personagens e narrativas de diversas identidades.

reflexões sobre a missão de Dragon Age

Diante dessa tempestade de controvérsias, é interessante observar como Dragon Age: The Veilguard se tornou um campo de batalha, não apenas entre jogadores empenhados em suas experiências, mas também na batalha cultural contra críticas baseadas em preconceitos sistemáticos. Apesar da forte resistência que o jogo enfrenta, a BioWare continua a fazer um esforço para garantir que todos os jogadores sejam reconhecidos e respeitados, reforçando que a inclusão é não apenas desejada, mas essencial para storytelling significativo. Se você se considera um verdadeiro fã de Dragon Age, talvez seja hora de reavaliar o que isso significa e como você se conecta com a rica tapeçaria de histórias que esta franquia oferece. O futuro da narrativa em jogos está se revelando mais diversificado, e Dragon Age está na vanguarda dessa mudança.

No fim das contas, a luta por uma representação justa e precisa continua, não apenas em Dragon Age, mas no universo dos videogames como um todo. Reconhecer a importância destas narrativas ajuda não apenas a valorizar as vozes que foram historicamente silenciadas, mas também enriquece a experiência de todos os jogadores. Assim, ao explorarmos a nova obra de BioWare, somos convidados a refletir sobre nosso papel no combate ao preconceito e na celebração da diversidade.

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