Na noite da eleição, jornalistas de diversas organizações de notícias foram surpreendidos ao terem suas credenciais negadas para o evento de acompanhamento do ex-presidente Donald Trump em West Palm Beach, na Flórida. Esta decisão foi interpretada como uma retaliação em resposta à cobertura que criticou a campanha de Trump. O clima tenso entre a equipe da campanha e a mídia levanta questões sobre a relação entre poder e jornalismo em um período eleitoral tão conturbado.
Entre as vítimas dessa ação estão jornalistas de veículos renomados como Politico, Axios, Puck, Voice of America e Mother Jones. O caso gerou indignação, especialmente porque muitos desses jornalistas já haviam recebido autorização para cobrir o evento antes de ter suas credenciais canceladas. No caso específico do Politico, uma fonte familiarizada com a situação indicou que a decisão de revogar o acesso estava relacionada a um artigo que relatava a demissão de um diretor de campanha de Trump por ser nacionalista branco, o que expondo a vulnerabilidade da campanha em questões de discriminação racial.
O evento se tornou um palco inesperado de tensões entre a mídia e a política, evidenciadas pelas ações da equipe de Trump. Por exemplo, a correspondente política da Puck, Tara Palmeri, havia se preparado para transmitir de dentro do evento durante uma cobertura especial da Amazon. No entanto, pouco antes de sua participação, seu acesso foi negado, um movimento que deixou muitos a se perguntarem se sua recente reportagem sobre a “ansiedade” dentro da campanha de Trump poderia ser a razão. “Fui informada que não poderei cobrir a festa da noite da eleição devido a preocupações com meu trabalho”, comentou Palmeri em um podcast, expressando a frustração compartilhada por outros jornalistas que enfrentam pressões semelhantes.
A reação da campanha não se limitou apenas às palavras. Ações semelhantes foram observadas, com a negação de credenciais a outros jornalistas que relataram com honestidade e precisão sobre o clima dentro da campanha. Fonte agregadas a esses eventos observam que o revogamento de credenciais não é um fenômeno novo na administração Trump. Há um histórico de descontentamento entre a equipe do ex-presidente e a mídia, evidenciado pelo episódio de 2018, onde o levantador da CNN, Jim Acosta, teve sua credencial cancelada, demandando posteriormente uma ação judicial que levou à restauração de sua autorização de imprensa.
A indignação em torno da situação foi expressa por vários porta-vozes de organizações de notícias afetadas. Jon Kelly, cofundador e editor-chefe da Puck, comentou que a decisão certamente era “infeliz” e que não impediria seus repórteres de continuarem a oferecer uma cobertura rigorosa e dedicada dos eventos políticos. Essa força de caráter tem demonstrado que, mesmo diante de medidas editoriais ásperas, o compromisso com a verdade e a responsabilidade jornalística permanece intacto.
Por outro lado, enquanto a campanha de Trump defendia racial e politicamente suas escolhas, uma fonte anônima da campanha também reconheceu que as credenciais foram negadas em resposta à cobertura recebida, embora tenha contestado a descrição de tal cobertura, afirmando que era “inaccurada”. Além disso, um dos co-presidentes da campanha, Chris LaCivita, expressou-se sarcasticamente nas redes sociais, insinuando que havia uma lista de jornalistas que não deveriam ser permitidos em futuros eventos de campanha.
As consequências do tratamento da mídia pelo ex-presidente Trump não são apenas um episódio isolado. No contexto atual, onde as redes sociais e as plataformas online desempenham um papel crescente na formação da opinião pública, a maneira como a campanha lida com a cobertura da mídia pode ter repercussões diretas nas percepções eleitorais. Com Trump frequentemente rótulando a mídia de “fake news” e prometendo investigar organizações jornalísticas por conflitos de interesse, essas tensões estão longe de se resolver.
Por fim, ao olhar para o futuro próximo, especialmente em um clima dividido e carregado emocionalmente, o estranho jogo de xadrez entre campanhas políticas e jornalistas só tende a se intensificar. Com a confiança do público na mídia em queda e a crescente polarização política, o desafio será encontrar um espaço seguro onde a liberdade de expressão possa prosperar, mesmo que isso signifique navegar por águas tempestuosas. Mesmo assim, a indignação dos jornalistas afetados e a resistência a este tipo de controle representam uma luta contínua pela integridade do jornalismo em tempos críticos.