Conflito mencionado em programa provoca reações online e reflexões sobre cultura e identidade
A recente participação de Simu Liu, ator conhecido por seu papel no universo Marvel, em um episódio do programa “Dragons’ Den” da CBC, desencadeou uma controvérsia significativa envolvendo a empresa canadense Bobba, que se dedica à comercialização de bubble tea. Durante a apresentação, os fundadores da marca de bubble tea, Sebastien Fiset e Jess Frenette, buscaram financiamento e apoio para expandir sua operação, mas acabaram enfrentando um debate acalorado sobre a apropriação cultural ligada ao seu produto. O bubble tea, uma bebida à base de chá originária de Taiwan e caracterizada por suas bolhas de tapioca, conquistou grande popularidade nas últimas décadas, especialmente entre os jovens em diversas partes do mundo.
O embate começou quando Frenette, ao introduzir o produto aos investidores, descreveu o bubble tea como uma bebida “tendência e açucarada”, insinuando que os consumidores muitas vezes não estão certos sobre os conteúdos da bebida. Liu não hesitou em interromper a fala de Frenette, ressaltando que ele, de fato, tinha certeza sobre a composição do produto, mas incentivou a continuação da apresentação. Em seguida, Fiset apresentou o Bobba como uma nova interpretação do bubble tea tradicional, alegando que eles tinham transformado a bebida a partir de “três ingredientes simples”, que incluem chá de alta qualidade, suco de frutas e as “Popping Bobba”, pérolas com recheio de suco de frutas, segundo informações disponíveis no site da empresa.
Contudo, Liu, que possui origem chinesa e canadense, expressou sua insatisfação pela forma como os fundadores se referiram à “disrupção” do mercado com seu produto, classificando isso como um exemplo de apropriação cultural. Liu argumentou que a questão envolvia a representação de algo com uma identidade cultural marcadamente asiática, sendo modificado com a alegação de que a versão apresentada era superior. Durante a conversa, Liu questionou se havia alguma representação asiática na equipe da Bobba e, em resposta, os fundadores indicaram que seu “melhor parceiro” estava baseado em Taiwan, elaborando as receitas, enquanto as pérolas eram produzidas por um fornecedor exclusivo no país asiático.
Após o episódio, Liu optou por não investir na empresa, enfatizando que desejava apoiar a popularização do bubble tea, mas não dessa maneira. Ele compartilhou que iniciou sua empresa de investigações com o principal objetivo de fomentar empreendedores de minorias, ressaltando que não desejava apoiar um negócio que lucra a partir de algo que é profundamente significativo para sua herança cultural. A conversa gerou uma onda de críticas, levando Liu, os fundadores da Bobba e a investidora do programa Manjit Minhas, que havia inicialmente investido no produto, a emitirem declarações em resposta ao debate que se formou e aos ataques recebidos online por Frenette e Fiset.
Em uma publicação em sua conta no TikTok, Liu comentou que, apesar de ter discordado de diversos pontos apresentados durante a proposta, ele acreditava que tanto Fiset quanto Frenette vieram ao programa com boas intenções. O ator defendeu que, embora houvesse aspectos da apresentação que o incomodassem, isso não justificava a hostilidade recebida por parte dos internautas. Liu pediu mais compreensão em relação à situação enfrentada pelos empreendedores, apontando que percepções erradas podem gerar reações negativas que vão além do empreendedorismo.
O programa “Dragons’ Den” apoiou Liu em sua declaração e, no dia seguinte, a empresa Bobba emitiu um pedido de desculpas, reconhecendo o impacto que suas palavras e ações no programa causaram. A empresa aceitou que Liu trouxe à tona pontos válidos sobre apropriação cultural, demonstrando abertura para o aprendizado resultante da situação. O comunicado afirmou que a escolha de palavras dos fundadores foi infeliz ao tratar da importância cultural e das origens do bubble tea e se comprometeram a reavaliar sua marca, estratégias de embalagem e marketing, de maneira a refletir uma representação mais respeitosa da parceria com Taiwan e das raízes culturais da bebida.
Eventualmente, os fundadores da Bobba conseguiram fechar um acordo com Minhas, que ofereceu US$ 1 milhão por uma participação de 18% na empresa após declarar que acreditava na possibilidade de novas interpretações para produtos tradicionais. No entanto, Minhas anunciou posteriormente que, após reavaliação e escuta das diversas opiniões que surgiram em decorrência da controvérsia, decidiu não seguir com o investimento na Bobba. Há 19 temporadas no ar, “Dragons’ Den” se inspirou em um programa japonês que introduziu o conceito em 2001, mas esta recente discussão levantou questões mais profundas sobre como as identidades culturais são representadas e apropriadas no mundo dos negócios contemporâneo.