Em uma reviravolta dramática que deixou muitos estupefatos, Leonard Glenn Francis, amplamente conhecido como “Fat Leonard”, foi condenado a 15 anos de prisão por seu papel como o cérebro de um dos mais significativos esquemas de corrupção e fraude envolvendo a Marinha dos Estados Unidos. A sentença foi proferida em um tribunal federal na terça-feira, acompanhada pela ordem de pagamento de uma restituição que totaliza cerca de 20 milhões de dólares, além de uma multa de 150 mil dólares, conforme anunciado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O caso de Francis é um exemplo emblemático de como a corrupção pode se infiltrar nas instituições mais respeitadas do país, levantando questões sobre a integridade e a transparência em contratos públicos.

Conhecido por sua aparência corpulenta e extravagante, Francis admitiu sua culpa em 2015 por acusações relacionadas a suborno e fraude, tendo sido liberado para aguardar sua sentença. Entretanto, em um ato que desafiou a justiça, ele conseguiu fugir dos Estados Unidos em 2022, abandonando sua pulseira de monitoramento em um cooler de água, apenas alguns dias antes da data marcada para sua condenação. As autoridades, após uma longa busca, conseguiram localizar Francis no Aeroporto Internacional Simón Bolívar, na Venezuela, onde ele estava prestes a embarcar em um voo para Cuba, a bordo de um aviso vermelho da Interpol. Posteriormente, ele foi repatriado para os Estados Unidos como parte de um acordo de troca de prisioneiros, onde 10 cidadãos americanos foram libertados em troca da liberação de Alex Saab, um empresário colombiano próximo ao presidente venezuelano Nicolás Maduro, que enfrentava acusações de lavagem de dinheiro.

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Leonard Francis, conhecido como “Fat Leonard”, fugiu da prisão domiciliar em 2022, dias antes de sua condenação em um vasto esquema de suborno na Marinha.
Serviço de Marshals dos EUA via AP

Como parte de seu acordo de confissão em 2015, Francis revelou nomes de sete oficiais da Marinha que aceitaram subornos e admitiu ter pago, no total, centenas de milhares de dólares em dinheiro, além de bens de luxo avaliados em milhões. O modus operandi de Francis incluía a oferta de serviços questionáveis como prostitutas, charutos cubanos, viagens luxuosas, e pratos exóticos como porcos-leite espanhóis e carne de Kobe. Além disso, ele proporcionava aos oficiais tratamentos em spas, bebidas de alto padrão, bolsas de designer, e até mesmo canetas fontes e espadas ornamentais, como detalhado nos documentos judiciais.

Em troca desses serviços, Francis recebeu informações classificadas e teve acesso a redirecionamentos de embarcações militares para portos lucrativos, beneficiando sua empresa de serviços de navegação baseada em Cingapura. As acusações lançadas por promotores indicam que o empresário cobrava da Marinha dos EUA até 35 milhões de dólares a mais do que o serviço realmente valia. O escopo do escândalo se torna ainda mais alarmante ao se considerar que mais de 30 oficiais da Marinha e contratados se envolveram, seja pleiteando ou sendo condenados pelo relacionamento com os serviços de Francis.

Na sexta-feira, a juíza distrital Janis L. Sammartino impôs a Francis uma sentença total de 164 meses por suborno e fraude, mais 16 meses por não comparecimento, a serem cumpridos de forma consecutiva. Em uma declaração que ecoou pelo tribunal, a Procuradora dos EUA, Tara McGrath, destacou o impacto negativo que as ações de Francis tiveram sobre os cofres públicos e sobre a moral das forças navais dos Estados Unidos. “Leonard Francis linchou os interesses da Marinha e dos contribuintes e sua manipulação terá repercussões duradouras”, declarou McGrath.

O histórico de Francis na justiça é igualmente fascinante, pois ele foi inicialmente preso em San Diego em 2013 e ficou na custódia até dezembro de 2017, quando uma condição médica lhe garantiu a liberdade até a sentença. Após quase cinco anos sob fiança e prisão domiciliar, sua fuga foi um golpe para as autoridades e uma mancha no sistema judicário. A condenação final de Francis representa um fechamento para um esquema de fraude abrangente que teve efeitos duradouros, não apenas um golpe nos cofres do contribuinte americano, mas também uma erosão de confiança nas lideranças da Marinha.

O diretor do Escritório do Inspetor Geral do Departamento de Defesa dos EUA, Kelly P. Mayo, concluiu apontando a gravidade da situação e a necessidade de responsabilização, afirmando: “A sentença de Mr. Francis traz a conclusão a um extenso esquema de fraude que ele liderou, custando milhões aos contribuintes e afetando a confiança pública em altos oficiais da nossa Marinha”. É vital que casos dessa natureza sejam acompanhados de perto, garantindo que a transparência e a responsabilidade sejam colocadas em primeiro lugar nas instituições fundamentais que servem ao público.

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