Lilly Ledbetter, uma figura emblemática na luta pela equidade de gêneros e salários nos Estados Unidos, faleceu aos 86 anos. O anúncio foi feito pela equipe envolvida na produção de um filme baseado em sua vida. Ledbetter faleceu em decorrência de insuficiência respiratória, conforme informado por sua família. Seu legado é marcado por uma batalha legal contra a discriminação de gênero, que culminou na promulgação do Fair Pay Act em 2009, uma legislação histórica que visa assegurar igualdade salarial entre homens e mulheres.
Nos anos 90, após quase duas décadas de dedicação à Goodyear, Lilly Ledbetter tomou conhecimento de que sua remuneração era significativamente inferior à de colegas homens, mesmo exercendo funções equivalentes. Essa descoberta levaria a uma das batalhas judiciais mais significativas no campo dos direitos trabalhistas. Em 1999, Ledbetter processou a empresa por discriminação de gênero, e em 2003, um tribunal federal reconheceu sua reclamação, condenando Goodyear a pagar-lhe 3,8 milhões de dólares em salários atrasados e indenizações. Contudo, a vitória foi temporária, uma vez que a decisão foi posteriormente revertida após um apelo da empresa.
O caso se elevou até a Suprema Corte dos Estados Unidos em 2007, onde a decisão original foi contestada. O tribunal decidiu, em uma votação de 5 a 4, que Ledbetter deveria ter apresentado sua reclamação no prazo de 180 dias após o primeiro pagamento inferior aos seus colegas. Esta decisão teve um profundo impacto, não apenas para Ledbetter, mas também para milhares de mulheres em situações semelhantes, e gerou um debate nacional sobre a equidade salarial e as dificuldades legais enfrentadas por trabalhadores discriminados.
Após sua aposentadoria, Ledbetter tornou-se uma defensora incansável da equidade de gênero e salário, fazendo questão de alertar sobre a persistência da discriminação salarial. Quando Barack Obama tomou posse como presidente dos Estados Unidos, o primeiro projeto de lei que ele sancionou foi o Lilly Ledbetter Fair Pay Act. Em uma entrevista concedida à CNN em 2018, Ledbetter expressou a emoção que sentiu ao ver sua luta reconhecida: “Isso foi a emoção mais incrível que eu já tive, superando até mesmo o nascimento de meus filhos.”
O legado de Ledbetter vai além das salas de tribunal, tendo influenciado não apenas a legislação americana, mas também complexos diálogos sociais sobre o valor igualitário de homens e mulheres no mercado de trabalho. Em várias ocasiões, incluindo um artigo de opinião publicado em 2019, Ledbetter enfatizou a importância de continuar a luta pela equidade salarial. “A disparidade salarial é uma realidade que sinto a responsabilidade de compartilhar com as jovens mulheres que conheço em todo o país. Embora eu estivesse na mesma situação há décadas, a realidade da discriminação salarial não desapareceu,” escreveu, evidenciando a necessidade de legislações mais eficazes para garantir os direitos das trabalhadoras.
Dados recentes indicam que, em 2024, para cada dólar ganho por um homem, uma mulher recebe apenas 84 centavos, conforme apontado pelo National Committee on Pay Equity e pela campanha Equal Pay Today. Quando se considera o trabalho em tempo parcial e aqueles com empregos não anuais, a situação é ainda mais alarmante, com a diferença salarial caindo para 78 centavos por dólar. Essa disparidade revela um longo caminho a ser percorrido na luta pela equidade salarial que Lilly Ledbetter tão valentemente encampou.
Uma nova representação de sua jornada, o filme intitulado “Lilly”, está agendado para lançamento neste ano, prometendo trazer à luz não apenas sua história pessoal, mas também a importância duradoura de sua luta e as implicações dessa batalha para o futuro das mulheres no mercado de trabalho americano. Com sua morte, o mundo perde uma defensora apaixonada, mas seu legado de perseverança e luta pela justiça social continuará a inspirar gerações futuras a seguir em busca de equidade e justiça.