Um lugar de tensões e contrastes, Cecot, ou Centro de Confinamento de Terrorismo, ergue-se como uma estrutura imponente na cidade de Tecoluca, El Salvador. É o lar de muitos homens que, em outro tempo, dominaram as ruas e imprimiram um clima de terror e insegurança na população. Este centro de detenção, inaugurado há menos de dois anos, é um marco do regime autoritário do presidente Nayib Bukele, que busca transformar o que já foi considerado o “capítulo de assassinatos” do mundo em um espaço de segurança e ordem.
Os prisioneiros de Cecot são descritos como os “piores dos piores”, incluindo assassinos em massa, traficantes de drogas e membros de gangues que mantinham o país sob um jugo de medo. No ambiente claustrofóbico e esfumaçado do presídio, a liberdade e a individualidade destes homens foram severamente limitadas. Antes, eles eram temidos e reverenciados nas ruas; agora, estão confinados em celas de metal, sendo confrontados com as duras realidades de seus atos.
As condições em que esses prisioneiros vivem são intencionalmente ásperas e austeras. Eles passam 23 horas e meia por dia trancados em celas exíguas, com um espaço mínimo para se mover e sem permissão para ocupar o tempo com atividades normais, como ler ou escrever. A única refeição que recebem é uma dieta básica composta majoritariamente de arroz, feijão e legumes, sem qualquer vestígio de carne. O único momento ao longo do dia que eles têm um breve respiro é durante os exercícios ou leitura de passagens bíblicas, e mesmo isso é uma liberação estritamente controlada.
Para os observadores mais sintonizados com a questão das violações dos direitos humanos, as visões de Cecot são preocupantes. Organizações de defesa dos direitos humanos levantaram sérias preocupações sobre as condições inumanas em que os prisioneiros são mantidos, e muitos classificam essas práticas como tortura psicológica. O governo, representado pelas palavras do ministro da segurança pública, Gustavo Villatoro, adota uma postura rígida: “não temos como acreditar que alguém que cometeu atos tão brutais possa se reabilitar”. Ele observa que um número alarmante de cerca de 40 mil criminosos em série está encarcerado, levando a governo a garantir que a detenção é a única solução para os problemas do país.
Cecot, com sua aparência austera e vulnerável, abriga homens que não têm perspectiva de serem liberados, mesmo que passem por processos de reabilitação convencionais. Villatoro explica que o governo acredita na reabilitação, mas apenas para crimes comuns, não para aqueles que cometeram atrocidades inimagináveis. Os prisioneiros, muitos deles com as mentes ainda dominadas por ideologias violentas, permanecem a um braço de distância de um sistema que busca entender e re-integrar criminosos de suas comunidades.
Um exemplo notável desse ambiente é o testemunho de Marvin Vásquez, um autodenominado líder da MS-13. Ele compartilha sua jornada desde Los Angeles até a prisão, lembrando-se de sua ascensão no mundo do crime. Em sua narrativa, ele expressa uma certa indiferença para com as vidas que se foram. “Quando estamos lá fora, fazemos o que temos que fazer. Eu roubo, eu mato, você sabe, esse é o estilo de vida de gangue”, admite ele, como se falasse sobre o dia-a-dia de qualquer trabalhador comum.
Apesar da dureza do ambiente prisional, algumas vozes em El Salvador apoiam o controle severo e a estratégia de segurança de Bukele. Durante e após visitas a Cecot, muitos cidadãos se sentem mais seguros devido à ausência de gangues nas ruas, algo que nunca experimentaram antes. Um ambiente onde as interferências externas são quase inexistentes, os cidadãos percebem esse novo sistema não apenas como repressão, mas como uma oportunidade de renascimento e vida sem o temor da violência.
No entanto, os críticos não se calam. Recentemente, registros documentais mostraram que a resposta violenta do governo levou à detenção de cerca de 81 mil indivíduos em um país que possui uma população de seis milhões. Esta abordagem drástica, embora possa beneficiar a segurança a curto prazo, mantém questionamentos pesados sobre a integridade do sistema judicial e a moralidade da administração de Bukele.
Quando a conversa se volta para as propriedades do próprio Cecot, a realidade continua a apresentar-se como um armário escuro onde os prisioneiros são amontoado num aparato despojado de dignidade. Na visão de muitos, as barreiras de segurança, as cercas eletrificadas e os guardas que circulam à espreita são apenas um símbolo da lógica opressora que punha Os mais indignos em uma rasurafis dos direitos fundamentais que deveriam abranger toda a humanidade. É um dilema a ser enfrentado: o preço da segurança é a liberdade? Facilmente, muitos cidadãos de El Salvador afirmam que estão prontos para fazer essa troca. Afinal, a escolha entre viver livre de medo e garantir os direitos das pessoas que ameaçaram essa segurança é um debate complicado.
À medida que a sociedade evolui na busca pela segurança frente a um passado de violentos e traiçoeiras realidades, um caminho incerto se estabelece para o futuro do sistema penitenciário de El Salvador. Com a pressão internacional intensificando-se sobre a forma como o governo lida com essa crise, muitos se perguntam se a busca pela segurança à custa da liberdade realmente vale as consequências. A história de homens como Marvin Vásquez e suas declarações impulsionadoras questionam o que significa ser salvo e o que deve acontecer com aqueles que falharam ao representar essa segurança. Assim, quando olhamos para Cecot e o que nele reside, percebemos que a luta pela vida e pela liberdade continua, em cada um dos dois lados da cela.