A cidade de Neft Daşları, situada no extenso Lago Cáspio, serve como um fascinante lembrete da era soviética e da exploração de petróleo. Este local intrigante, que se assemelha a um verdadeiro labirinto flutuante, tem despertado atenção tanto pela sua estrutura impressionante quanto pelos desafios ambientais que a cercam. Com uma história que remonta aos anos 40, essa cidade foi uma pioneira na extração de petróleo offshore, mas agora enfrenta as consequências do tempo e da exploração excessiva, oferecendo ao mundo um vislumbre do que resta de um legado energético que já foi um dos pilares do desenvolvimento econômico na região.

Quando o cineasta suíço Marc Wolfensberger ouviu falar pela primeira vez sobre Neft Daşları, ele não podia acreditar que existisse uma cidade secreta flutuando no vasto e misterioso Lago Cáspio, a maior lagoa do planeta. “A proporção de mistério era incrivelmente alta”, comentou ele, pensando que o local poderia ser apenas um mito. Contudo, sua curiosidade o levou a embarcar em um navio de entrega de água nos anos 90 e, quando finalmente viu Neft Daşları com seus próprios olhos, ele ficou maravilhado. Com estruturas que se estendiam como tentáculos enferrujados, era como “uma rodovia no meio do mar”, cercada por embarcações militares, manifestando uma experiência surreal que ainda ecoa em sua memória.

O desejo de documentar essa cidade fascinante levou Wolfensberger a passar oito anos convencendo o governo do Azerbaijão a permitir sua visita ao local. Em 2008, ele finalmente teve a oportunidade de passar duas semanas em Neft Daşları, resultando em seu documentário intitulado “Oil Rocks: City Above the Sea”. Neft Daşları, que traduzido significa “Pedras de Petróleo”, é, segundo muitos, a mais antiga plataforma de petróleo offshore do mundo. Durante seu apogeu, chegou a abrigar mais de cinco mil habitantes, vivendo e trabalhando em um ambiente que se parece mais com uma expedição extraordinária do que com uma cidade convencional.

Localizada a cerca de 96 quilômetros da capital Baku, a cidade é acessível apenas por barco, exigindo uma viagem de aproximadamente seis horas até o continente. As estruturas de Neft Daşları se estendem, ligadas por quilômetros de pontes, criando um intrincado sistema de habitabilidade sobre as águas, enquanto se ergue acima da superfície do mar em várias plataformas. Este extraordinário feito de engenharia começou na década de 1940, quando os trabalhadores soviéticos chegaram a uma pequena ilha e montaram as primeiras estruturas para perfuração, revelando o que seria um grande depósito de “ouro negro”, cuja exploração efetiva se iniciou em 1949.

Com a construção inicial de uma casa e uma plataforma de perfuração, as inovações rapidamente seguiram, transformando o que poderia ter sido uma operação temporária em uma cidade flutuante totalmente funcional, que comportava não apenas a extração de petróleo, mas também infraestrutura vital para os residentes, como alojamentos, um teatro, instalações médicas, uma pista de heliporto e até mesmo um campo de futebol. A cidade cresceu, adquirindo características que muitos consideram maravilhas arquitetônicas. O governo Azerbaijano ainda a considera uma joia do passado industrial que deve ser preservada.

No entanto, pela perspectiva contemporânea, a cidade também revela uma dura realidade. Nas últimas décadas, a população de Neft Daşları diminuiu consideravelmente, passando de milhares de residentes para apenas cerca de três mil pessoas atualmente. Isso é em parte devido à descoberta e exploração de novos campos de petróleo em terra firme e as oscilações nos preços do petróleo. A produção diária caiu para menos de três mil toneladas. Além disso, questões ambientais começaram a emergir, incluindo relatos de poluição, como derramamentos de óleo e despejos de águas residuais não tratadas no Lago Cáspio.

Conforme a cidade se aproxima do futuro, questiona-se o que acontecerá com Neft Daşları quando as reservas de petróleo se esgotarem. Algumas opiniões sugerem que o local pode se transformar em um ponto turístico, enquanto outras preveem que se tornará um museu, reconhecendo sua história como um marco na exploração de petróleo offshore. Marc Wolfensberger, que capturou a essência do local em seu filme, expressa preocupação com o destino da cidade: demolir as estruturas seria financeiramente inviável, enquanto abandoná-las poderia resultar em um desastre ecológico significativo.

Nesse contexto, enquanto o mundo se volta para questões climáticas—uma preocupação que será discutida em conferências de cúpula como a COP29, marcada para Baku—o futuro de Neft Daşları permanece como uma reflexão sobre os legados complexos das indústrias de energia. Como um verdadeiro símbolo de uma era de exploração, a cidade não é apenas um testemunho da habilidade humana em construir sobre as águas, mas também uma advertência sobre os limites desta própria ambição.

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