A recente vitória eleitoral de Donald Trump foi um marco significativo, sendo influenciada por uma série de fatores que repercutem na sociedade americana. Entre essas questões, a insatisfação com os governos em exercício, a crescente mobilização por parte do eleitorado republicano e a profunda discussão acerca do futuro da democracia nos Estados Unidos se destacam. No entanto, um aspecto foi reiteradamente apontado pelos eleitores como a principal preocupação: a economia. Essa preocupação universal entre a população revela muito sobre a razão pela qual Trump conquistou mais uma vez a presidência.

De acordo com diversos indicadores, a economia americana apresenta um desempenho robusto, sendo considerada a “inveja do resto do mundo”. Entretanto, mesmo neste panorama positivo, muitos cidadãos ainda manifestam uma percepção negativa em relação à economia nacional. Uma quantidade significativa de eleitores responsabiliza o presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris pela falta de melhorias substan­ciais na situação financeira da população ao longo dos últimos quatro anos. Pesquisas realizadas reiteradamente sugerem que a visão dos americanos sobre a economia é predominantemente negativa, apesar dos dados positivos.

É importante ressaltar que a percepção econômica dos cidadãos nem sempre condiz com os dados que mostram a criação de empregos, o crescimento do consumo e o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), as principais métricas que medem a saúde da economia. Para muitos, o custo diário de bens essenciais se torna um lembrete constante da dificuldade de manter um padrão de vida. Se o preço de um café atinge patamares exorbitantes ou se o sonho da casa própria parece distante, as estatísticas econômicas tornam-se irrelevantes, intensificando a sensação de estar excluído do chamado “sonho americano”.

por que a economia dos estados unidos dói tanto na pele do cidadão

O mercado imobiliário representa um dos principais geradores de frustração. Os preços das casas alcançaram recordes históricos, tendo se elevado continuamente por 15 meses. Embora essa seja uma boa notícia para os proprietários, é desesperadora para os que estão fora desse grupo, especialmente com as taxas de juros dos financiamentos se mantendo altíssimas, logo abaixo de 7%. Como resultado, apenas 2,5% das casas mudaram de proprietário em 2023, a menor taxa em 30 anos, conforme dados da Redfin.

Para os inquilinos, as notícias também não são encorajadoras. Estudos indicam que cerca da metade dos locatários americanos gastou mais de 30% de sua renda com aluguéis em 2023, o que os classifica como “sobrecarregados” em termos financeiros de acordo com o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos. A crise de acessibilidade habitacional ajudou a ampliar a disparidade de riqueza no país, deixando não apenas os mais pobres, mas até mesmo aqueles que recebem uma renda razoável, lutando para se manter financeiramente estáveis. Cerca de 20% dos lares norte-americanos com uma renda anual superior a US$ 150 mil vivem ‘mês a mês’, segundo uma pesquisa do Bank of America.

Os preços ainda são um tema recorrente no diálogo econômico. Embora a inflação tenha voltado a níveis normais, isso não significa que os preços estejam caindo; estão apenas subindo em um ritmo menos alarmante do que nos últimos anos. Os preços nos supermercados estão cerca de 20% mais altos do que quando Biden tomou posse, criando uma lembrança constante do impacto inflacionário a cada compra. Embora os preços da gasolina tenham diminuído significativamente, passando de uma média superior a US$ 5 em 2022 para menos de US$ 3 por galão em muitos estados, isso não resolve totalmente os problemas inflacionários que afetam o cotidiano dos americanos.

visões políticas moldam percepções sobre a economia

Um fator frequentemente esquecido é que a política influencia diretamente a percepção que os cidadãos têm da economia. O número de republicanos nos Estados Unidos tem aumentado, o que também fortalece essa noção. Um estudo recente do Brookings Institution revelou que a sensação econômica dos cidadãos está intimamente ligada à afiliação partidária e ao partido que ocupa o poder na Casa Branca. Quando Trump assumiu, o otimismo econômico entre os republicanos disparou, enquanto os democratas experimentaram uma queda abrupta. A situação se inverteu com a chegada de Biden ao poder.

A discrepância é clara: os republicanos são três vezes mais propensos a acreditar que a economia está em boas condições quando um presidente republicano está em exercício, enquanto os democratas reagem de forma semelhante em relação a presidentes de seu partido. Este padrão evidência o quanto a política pode distorcer a realidade econômica que, objetivamente, mostra um cenário mais favorável.

de fato, a economia dos estados unidos é robusta

Apesar das percepções predominantemente negativas, a economia que será herdada por Trump é, de fato, forte — ao menos nos números. O mercado de trabalho, por exemplo, mantém um percentual historicamente elevado de pessoas empregadas, mesmo com uma leve alta na taxa de desemprego, que chegou a 4,1%, ainda muito saudável. O número de vagas de emprego supera a quantidade de candidatos, conforme relatórios do Bureau de Estatísticas do Trabalho dos EUA.

O PIB, que mede a saúde econômica em termos mais amplos, apresentou um crescimento anualizado de 2,8% no último trimestre, um ritmo saudável que se compara ao da administração de Trump, quando a percepção da economia era mais positiva. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, o crescimento econômico projetado para os EUA neste ano continua sendo o mais robusto entre as economias do G7, reforçando a credibilidade e a força da economia americana no cenário global.

Além disso, os salários dos trabalhadores, embora crescendo a um ritmo mais moderado do que em anos anteriores, ainda se expandem a uma taxa ajustada de 3,9%. Essa taxa permanece acima da inflação, aumentando o poder de compra dos cidadãos. Pelos últimos 27 meses, a renda disponível ajustada pela inflação por pessoa também vem apresentando crescimento, marcando a maior sequência registrada até agora. E, para completar, os consumidores estão demonstrando confiança, com os gastos das famílias aumentando a um ritmo acelerado, sinalizando que, apesar das preocupações, muitos americanos mantêm uma atitude otimista em relação ao seu futuro econômico.

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