No embalo do décimo aniversário de John Wick, o co-diretor David Leitch compartilha reflexões intensas sobre o impacto do filme, que se tornou um marco no gênero de ação e influenciou uma geração de cineastas. Leitch, que começou sua carreira nos bastidores como coordenador de dublês, revela que quase não aceitou a proposta inicial de Keanu Reeves, que dizia respeito a um roteiro intitulado Scorn. A reviravolta veio quando, ao lado de Chad Stahelski, ele percebeu que essa colaboração poderia abrir portas que antes pareciam inalcançáveis.
O sucesso de John Wick não foi apenas por sua narrativa cativante, mas também pela inovação que trouxe ao estilo de ação cinematográfica. Leitch e Stahelski, que tinham um vasto histórico de trabalho em produções como The Matrix, sabiam que podiam trazer uma nova abordagem ao filme, intensificando a coreografia de luta e a estética visual. Desde o início, o objetivo era criar um universo onde cada ação contasse uma história mais profunda sobre a dor e a vingança de John Wick, o personagem protagonista.
Em 2013, Leitch e Stahelski, que já eram amigos próximos e parceiros de negócios, foram fundamentais para transformar o roteiro em um projeto concreto que poderia ser tocado. O roteiro, escrito por Derek Kolstad, apresentava um caçador de recompensas que, após a morte de um cachorro, parte em uma missão de vingança que culmina em 84 mortes, de acordo com a ambição da nova direção que Leitch propunha. O nome de Bruce Willis foi mencionado como possível protagonista antes que Reeves se juntasse ao projeto, catalisando uma nova era de ação no cinema contemporâneo.
“Quando Keanu se uniu a nós e perguntou se poderíamos dirigir juntos, nós dissemos: ‘Sim, claro, como conseguimos fazer isso?’”, relembra Leitch. O que começou como um simples projeto de segunda unidade rapidamente evoluiu em uma visão que culminou no filme que desafiou as normas do gênero. “Nosso pitch foi rápido; em um final de semana, transformamos a história em uma obra digna do cinema”, afirma David.
Contudo, a jornada não foi fácil. Assim que a produção terminou no final de 2013, problemas financeiros quase levaram à paralisação do projeto. Eva Longoria, numa demonstração de solidariedade, acabou provendo os últimos $6 milhões em financiamento que foram essenciais para viabilizar o filme. A coragem e determinação de todos os envolvidos não apenas trouxeram John Wick às telas, mas também desenharam os contornos de uma nova franquia que agora se estende por desenhos animados, video games e sequências cinematográficas.
A recepção foi um divisor de águas. O filme não apenas se tornou um sucesso instantâneo durante o festival Fantastic Fest, mas também redefiniu o que um filme de ação poderia ser, influenciando uma nova geração de cineastas. É difícil ignorar o impacto que John Wick teve sobre a indústria, já que hoje vemos mais e mais coordenadores de dublês e profissionais do gênero recebendo oportunidades para dirigir. Leitch explica que o filme permanece na memória como um marco em seu gênero, sempre que alguém menciona a ligação entre sua obra e o cinema de ação contemporâneo.
“Até hoje, vemos pessoas dizendo que querem seu próprio John Wick”, comenta ele, referindo-se ao fato de que o modelo do filme se tornou a fórmula para muitos projetos de ação. A autenticidade e a determinação de apresentar ações realistas foram elementos que contribuíram para a aquisição de uma imensa base de fãs. O diretor ressalta que a forma como Reeves trabalhou, sua dedicação ao papel e ao esforço físico, foram partes fundamentais para o sucesso do filme. “Ele realmente se dedicou e queria que o personagem fizesse sentido. Estávamos todos no mesmo barco”, completa Leitch.
No entanto, não foi apenas o sucesso que marcou a trajetória de Leitch, mas sim a frustração provocada pela falta de reconhecimento como co-diretor. “Ao final, a DGA não me creditou oficialmente como co-diretor, e isso foi decepcionante. Foram anos de trabalho em equipe, e é complicado ver a situação da forma que virou.” Embora hoje em dia a amizade ainda perdure, David admite que o amargo é um sentimento que permanece. Em suas palavras: “A sensação de que não fomos protegidos pelos nossos colegas foi algo difícil de engolir.”
Leitch também fala sobre os desafios de conciliar suas respectivas carreiras após John Wick. Enquanto ele abraçou projetos como Deadpool 2 e Hobbs & Shaw, Chad Stahelski continuou à frente do franchise John Wick. A dinâmica de colegas de longa data e a luta por reconhecimento continua sendo um tema recorrente em sua trajetória proeminente no cinema. “Ainda somos amigos e respeitamos os caminhos de um do outro, mas não há como negar que o filme nos afetou de maneiras que nem sempre foram positivas”, diz Leitch.
Como a franquia se expande, com mais histórias e personagens sendo introduzidos, David revela que não se arrepende dos passos dados após a produção de John Wick. “Não seria justo me arrepender, especialmente quando a indústria parece estar mais receptiva a criadores com nossas experiências agora do que antes. John Wick não apenas nos ajudou, ele abriu muitas portas.”
O legado que John Wick criou continua a se expandir com a expectativa clara de que o filme voltará às telonas em 6 de novembro. “Quando vemos todos esses projetos se desenvolvendo e novas perspectivas surgindo, ficamos emocionados. O universo de Wick é incrível, e eu estou animado para ver o que vem a seguir”, conclui David Leitch.