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O envelhecimento do cérebro humano é um processo intrigante e complexo, que pode variar dramaticamente entre diferentes indivíduos. Recentemente, pesquisadores têm se aprofundado na compreensão desse fenômeno, buscando identificar os fatores que podem estar associados a um envelhecimento cognitivo mais saudável. A pesquisa revela que hábitos como a prática de exercícios físicos, o abandono do tabaco, o aprendizado de uma segunda língua e até mesmo a prática de um instrumento musical podem exercer uma influência significativa na saúde do cérebro à medida que envelhecemos.
De acordo com um estudo publicado na revista Genomic Psychiatry, a cognição em idades avançadas pode estar relacionada às pontuações de testes cognitivas obtidas por indivíduos por volta dos 11 anos de idade. Essa pesquisa sugere que cerca de metade das variações nas capacidades cognitivas observadas em pessoas idosas poderia já estar presente durante a infância.
O estudo, baseado em dados dos Lothian Birth Cohorts na Escócia, também indica que certos fatores de estilo de vida na idade adulta estão associados a um desempenho cognitivo melhorado, o que intimamente correlaciona-se com um envelhecimento do cérebro mais lento.
“Constatamos que manter-se fisicamente e mentalmente ativo, tendo poucos fatores de risco vasculares (como hipertensão, colesterol elevado, tabagismo e IMC elevado), falar uma segunda língua, tocar instrumentos musicais e possuir um cérebro que parece mais jovem são fatores que apresentam associações detectáveis, embora pequenas”, afirma um dos autores do estudo, Simon Cox, que é diretor do Lothian Birth Cohort Studies na Universidade de Edimburgo.
Cox sugere que podemos encarar a ideia de “ganhos marginais, não uma única solução mágica” como uma boa forma de descrever a receita para um envelhecimento cognitivo melhor. Ao invés de buscarmos um único fator com grande impacto, percebemos vários fatores que, muitas vezes de forma sobreposta, contribuem um pouco para o risco de envelhecimento cognitivo.
O fato é que tais fatores de estilo de vida, quando analisados em conjunto, podem explicar “cerca de 20%” das diferenças observadas nas funções cognitivas entre indivíduos na faixa etária de 70 a 82 anos.
Os Lothian Birth Cohorts incluem dados de dois estudos com adultos mais velhos: um grupo de escoceses nascidos em 1921 e outro nascido em 1936. Todos esses indivíduos foram submetidos a um teste cognitivo validado aos 11 anos e, mais tarde, foram avaliados em suas décadas de 70, 80 e 90 para verificar suas funções cognitivas e habilidades, entre outros fatores.
Durante a pesquisa, foram realizadas ressonâncias magnéticas dos participantes quando estavam com 73 anos. “Um dos aspectos mais impressionantes do estudo foi a amplitude das diferenças entre seus exames de ressonância”, observa Cox. Embora todos os participantes tenham a mesma idade, alguns cérebros apresentavam uma condição perfeitamente saudável, que não ficaria fora de contexto se comparados a exames de indivíduos de 30 ou 40 anos. Em contrapartida, outros mostraram sinais significativos de encolhimento e danos nas conexões da substância branca, juntamente com outras características que estão relacionadas ao envelhecimento cognitivo e à demência.
A substância branca é o tecido que estabelece as conexões entre as células do cérebro e o restante do sistema nervoso, facilitando a comunicação entre essas regiões através de sinais nervosos. A diminuição ou dano da substância branca pode desacelerar a capacidade do cérebro em processar informações e, consequentemente, comprometer a cognição.
Por fim, a pesquisa indica que o envelhecimento cerebral aos 73 anos não é um destino inevitável. Há um forte incentivo para que continuemos a investigar formas de imitar aqueles poucos afortunados que chegam a essa idade com cérebros tão intactos.
Aqueles adultos mais velhos cuja memória se assemelha à de pessoas 20 a 30 anos mais jovens são frequentemente referidos como “super-anciãos cognitivos”. “Nem todos os aspectos do envelhecimento cerebral ocorrem de maneira idêntica nas mesmas pessoas”, afirma Cox, sinalizando a necessidade de uma compreensão mais nuançada dos fatores de risco que impulsionam o envelhecimento cerebral.
Dr. Richard Isaacson, um pesquisador em envelhecimento cerebral, expressou que o novo estudo repercutiu muito bem. “É uma visão narrativa prática sobre os desafios da pesquisa nesse campo e as melhores práticas para extrair o máximo valor de estudos de longo prazo”, observou Isaacson, que é diretor de pesquisa no Instituto de Doenças Neurodegenerativas na Flórida.
A pesquisa acumulada sobre as diferenças cruciais no estilo de vida que podem levar a diferentes resultados no cérebro envelhecido é ampla. Por exemplo, a qualidade do sono é um fator de risco significativo para o declínio cognitivo e problemas de saúde mental, como a depressão, são riscos conhecidos para o desenvolvimento da demência.
Realizar exercícios regulares, caminhar ou andar de bicicleta apenas três vezes por semana pode melhorar as habilidades cognitivas, conforme uma pesquisa realizada em 2018, que associa um estilo de vida ativo à manutenção da saúde cerebral. Além disso, uma dieta equilibrada e saudável pode ajudar a desacelerar o envelhecimento cerebral e a reduzir o risco de demência. Outro estudo indicou que a meditação diária pode promover um envelhecimento cerebral mais lento.
Pesquisadores desenvolveram uma ferramenta chamada Brain Care Score, um estudo recente demonstrou que ela pode ajudar a avaliar o risco de uma pessoa de desenvolver demência ou sofrer um derrame à medida que envelhece. O escore de 21 pontos analisa 12 fatores de saúde relacionados que englobam componentes físicos, de estilo de vida e sociais-emocionais da saúde. Participantes com pontuações mais altas apresentaram um risco reduzido de demência ou derrame posteriormente na vida.
Os 12 fatores considerados incluem pressão arterial, açúcar no sangue, colesterol, índice de massa corporal, nutrição, consumo de álcool, tabagismo, atividades aeróbicas, sono, estresse, relacionamentos sociais e o significado ou propósito da vida.
Para aqueles que buscam aprimorar a saúde de seus cérebros à medida que envelhecem, é fundamental realizar consultas médicas regulares, sugerem os especialistas, a fim de discutir a saúde geral, a saúde vascular e doenças crônicas. A avaliação dos números relacionados a pressão arterial, glicose e colesterol é essencial, e a consideração da saúde óssea, força muscular e força de preensão são elementos críticos que predizem a saúde cerebral a longo prazo.