As pradarias marinhas, representadas por plantas do gênero seagrass, desempenham um papel crucial em nossos ecossistemas oceânicos, ocupando apenas 0,1% do fundo do mar, mas contribuindo significativamente para a biodiversidade, filtragem da água e captura de carbono. Apesar de sua grande importância, este habitat vital está em sério risco, com as meadows de seagrass perdendo cerca de 7% de sua extensão globalmente a cada ano, principalmente devido às mudanças climáticas e outras pressões ambientais. Diante desse cenário alarmante, a Ulysses Ecosystem Engineering, uma startup com sede em São Francisco, surgiu como uma solução inovadora, empregando robôs para a restauração dessas pradarias.
A Ulysses desenvolveu um robô autônomo, projetado para ser carregado com sementes de seagrass e programado para áreas específicas do fundo marinho, onde as operações de plantio ocorrem de maneira otimizada. Akhil Voorakkara, cofundador e CEO da empresa, revelou em entrevista que a tecnologia desenvolvida pela equipe é capaz de acelerar em até 100 vezes o processo de restauração, em comparação com o plantio manual realizado por voluntários, além de apresentar um custo significativamente mais baixo do que outras soluções robóticas disponíveis no mercado. Essa aplicação robótica representa uma evolução significativa não apenas na eficiência das operações de plantio, mas também no financiamento de iniciativas de restauração do meio ambiente.
A ideia para a Ulysses surgiu de uma experiência vivenciada por Jamie Wedderburn, CTO da empresa, durante uma viagem de surf à Costa Oeste da Escócia no início de 2023. Enquanto conversava com amigos, um deles compartilhou uma experiência frustrante como voluntário plantando seagrass sob condições climáticas adversas. O relato deixou Wedderburn intrigado e curioso sobre a importância da seagrass, levando-o a investigar como a tecnologia poderia melhorar processos de restauração ambiental. O entusiasmo pela proposta rapidamente contagiou os outros cofundadores, incluindo Colm e Will O’Brien, resultando em um compromisso coletivo em buscar soluções sustentáveis para proteger os oceanos, um conceito que também estava ligada à infância de Will, cujo herói era Steve Irwin.
Embora a equipe não possuísse formação em biologia marinha, eles contavam com experiência em engenharia robótica. O primeiro passo foi a criação de um protótipo em 3D, que, apesar de não ser à prova d’água e apresentar vazamentos, funcionou o suficiente para demonstrar a promessa da ideia. Com o convívio de especialistas, o time solicitou conselhos e orientações de profissionais renomados na área da restauração de seagrass, aumentando a credibilidade do projeto e a excitação em torno do mesmo, demonstrando que, na busca por inovação, é essencial não ter medo de pedir ajuda.
Desde seu lançamento no início de 2024, a Ulysses já gerou quase 1 milhão de dólares em receita, sendo apoiada tanto por empresas privadas quanto por organizações governamentais. O crescimento rápido da startup também é evidenciado por suas parcerias com várias agências governamentais nos EUA e na Austrália, envolvendo projetos de restauração em larga escala. Em um momento que favorece os empreendimentos voltados para a recuperação ambiental, a Ulysses anunciou recentemente uma arrecadação de 2 milhões de dólares em uma rodada pré-seed de financiamento, que será utilizada para expandir sua equipe e fortalecer estratégias de mercado, conforme relatado por Voorakkara.
O cenário global e as iniciativas governamentais estão cada vez mais alinhados com o objetivo de restaurar as pradarias de seagrass. Um exemplo disso é a recente legislação da União Europeia, que estabelece regulamentos para a restauração de diferentes habitats até 2030 e 2050, incluindo especificamente as pradarias marinhas de seagrass. O timing é, portanto, favorável para a Ulysses e seus empreendimentos ambiciosos.
Além do foco em seagrass, a visão de longo prazo da equipe é ainda mais abrangente. Um dos planos futuros inclui a capacidade de o robô colher sementes de leitos de seagrass aprovados e transplantá-las para áreas onde são necessárias. Para Will O’Brien, a tecnologia utilizada é vista como drones autônomos conectados a uma plataforma central, permitindo a expansão para outras áreas, como gestão costeira e segurança marítima. A equipe visualiza a exploração dos oceanos como uma fronteira pouco explorada pela humanidade, onde a necessidade de soluções tecnológicas inovadoras é cada vez mais premente. Segundo O’Brien, há um desejo de trazer níveis de inovação comparáveis aos da SpaceX para este domínio emergente da restauração ambiental.
Ainda existem outras empresas que buscam aventurar-se nas profundezas do oceano com robôs subaquáticos, como a Terradepth, que levantou mais de 30 milhões de dólares em financiamento de capital de risco para mapear o fundo do mar, e a Eelume, da Noruega, que se concentra em descobertas oceânicas. Contudo, Voorakkara expressa a ambição da Ulysses de não se limitar apenas à restauração de seagrass. Em um horizonte de cinco anos, a meta é administrar centenas de quilômetros de costa, potencializando o trabalho de organizações como a NOAA e a Guarda Costeira dos Estados Unidos, promovendo uma gestão dos oceanos de forma muito mais eficiente e eficaz. Com isso, a Ulysses se estabelece como uma força emergente no campo da restauração ambiental, com um impacto potencial significativo que mais uma vez coloca as pradarias de seagrass no centro das atenções.