As evidências sobre o impacto das mudanças climáticas na migração ilegal entre o México e os Estados Unidos estão crescendo, e um novo estudo revela que a migração indocumentada tem uma correlação significativa com os eventos climáticos extremos. Ao examinar os períodos de seca e outras adversidades, a pesquisa sugere que indivíduos de áreas agrícolas no México são mais propensos a cruzar a fronteira de maneira irregular em busca de melhores condições de vida.
De acordo com a Pesquisa publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences, a migração tende a aumentar em decorrência de secas prolongadas ou desastres naturais. Os pesquisadores analisaram dados climáticos e as respostas de migração de **48.313 pessoas** entre 1992 e 2018, com um foco especial em **cerca de 3.700 indivíduos** que cruzaram a fronteira sem documentos pela primeira vez. O estudo revela que as comunidades que enfrentam secas extremas não apenas apresentam taxas de migração mais elevadas, mas os migrantes também mostram uma tendência menor de retornar quando suas comunidades de origem permanecem afetadas por condições climáticas adversas.
O panorama das mudanças climáticas globais, exacerbado pela queima de combustíveis fósseis, tem deixado marcas indeléveis em diversas regiões. As secas têm se tornado mais longas e intensas, enquanto tempestades ocasionais estão se intensificando, resultando em chuvas recordes que podem devastar colheitas. No México, a seca tem esvaziado os reservatórios, resultando em sérias carências de água e uma drástica redução na produção de milho, o que ameaça os meios de subsistência de milhões de pessoas.
Os pesquisadores ressaltam que a temperatura média anual no México, prevista para aumentar em até 3 graus Celsius até 2060, poderá devastar economicamente as comunidades rurais que dependem da agricultura de sequeiro. Além disso, o fluxo migratório entre os Estados Unidos e o México é o maior do mundo, tornando o México um local crucial para a compreensão das relações entre migração, retorno e estressores climáticos.
A Organização das Nações Unidas projeta que, ao longo dos próximos 30 anos, 143 milhões de pessoas possam ser forçadas a deixar seus lares devido a desastres climáticos, levantando \textsl{perguntas sobre o futuro dessas populações}. Especialistas têm enfatizado que a relação entre migração e mudanças climáticas deve ser uma prioridade nas agendas internacionais, especialmente considerando que as nações desenvolvidas têm contribuído significativamente para as emissões que provocam essas crises, enquanto os países em desenvolvimento enfrentam suas consequências mais severas.
Com a reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, suas declarações sobre a mudança climática, frequentemente descritas como uma “farsa”, e a promessa de deportações em massa de imigrantes indocumentados, trazem um dilema social e econômico. Para muitos estudiosos da migração, as descobertas ressaltam a complexidade da relação entre eventos climáticos extremos e a necessidade de políticas mais humanas e informadas, considerando as causas subjacentes que levam à migração.
Enquanto os fatores sociais e econômicos que afetam a migração são amplamente reconhecidos, a pesquisa reflete as desigualdades na adaptação climática. Exemplificando essa dinâmica, aqueles que possuem condições financeiras melhores tendem a migrar, assim como aqueles oriundos de comunidades com históricos de migração em que amigos e familiares podem fornecer apoio logístico e emocional. Em contrapartida, os mais vulneráveis são muitas vezes aqueles que estão “presos” em suas comunidades por falta de recursos.
Ademais, a pesquisa aponta que a migração não é uma escolha simples, mas uma necessidade forçada pelas pressões climáticas. A pesquisa se destaca pela utilização de dados do *Mexican Migration Project*, que é incomum por sua escala e especificidade comunitária. Além disso, é importante notar que as tensões na fronteira entre os EUA e o México dificultam os esforços de retorno para os migrantes indocumentados, levando muitos a residirem em condições precárias, vulneráveis a outros impactos climáticos.
Esta análise reforça a ideia de que, à medida que as pressões climáticas aumentam, a colaboração global se torna imperativa. A chamada para atenção às razões subjacentes que levam as pessoas a migrarem é vital, assim como a necessidade de reconhecer o papel dos trabalhadores imigrantes no mercado de trabalho dos EUA, que muitas vezes são relegados ao status de invisibilidade social.
Em conclusão, à medida que o clima continua a mudar, as implicações sobre a migração e as decisões de políticas relacionadas não podem ser ignoradas. O estudo não apenas aponta a gravidade da interseção entre as mudanças climáticas e a migração, mas também clama por soluções cooperativas em nível global, onde o foco deve ser não só na segurança de fronteiras, mas também nos motivos que forçam pessoas a deixarem suas terras natais, promovendo uma estratégia mais integrativa e humana.