Nos últimos anos, o mundo da relojoaria tem assistido a uma intensa competição entre gigantes europeus do setor, todos em busca de projetar o mecanismo mais fino do mundo. Marcas de luxo como Bulgari, Piaget e Richard Mille, desde 2018, têm se empenhado em quebrar recordes de espessura, proporcionando um espetáculo de engenharia e inovação. Em abril deste ano, Bulgari alcançou um marco notável com o Octo Finissimo Ultra Mark II, um relógio de apenas 1,7 milímetros de espessura. Contudo, no cenário atual, um criador russo independente pode ter superado essas renomadas casas de relojoaria.
O relojoeiro autônomo Konstantin Chaykin, com sede em Moscovo, apresentou seu novo protótipo chamado ThinKing durante a feira Geneva Watch Days, realizada na Suíça em agosto. Com uma espessura de impressionantes 1,65 milímetros, o ThinKing não apenas se destaca por sua finura, mas também é um dos relógios mais leves do mundo, pesando apenas 13,3 gramas sem a pulseira. Chaykin garante que seu modelo foi desenvolvido com inovações que permitem a redução do espessamento sem comprometer sua funcionalidade, integrando um mecanismo de corda ao próprio tambor do relógio.
Em um e-mail enviado à organização de notícias, Chaykin detalhou que a utilização de um ‘duplo balanço’ permitiu diminuir o número de camadas no movimento do relógio. Além disso, os mecanismos de corda e ajuste de mostradores foram colocados em um estojo separado de 5,4 milímetros de espessura, liberando espaço no design do ThinKing, que também pode ser acionado com uma chave. Chaykin, que é o único membro russo da prestigiada Académie Horlogère des Créateurs Indépendants, está considerando o uso de materiais como safiras ou diamantes em versões futuras do relógio, expandindo as opções de design e exclusividade.
O projeto do ThinKing é bastante único, com mostradores de hora e minuto separados, que criam uma aparência semelhante a um rosto, uma marca registrada da coleção Wristmons criada por Chaykin. Cada mostrador é protegido por cristais de safira de 0,35 milímetros de espessura. Produzir relógios ultra-finos que sejam confiáveis, precisos e duráveis o suficiente para uso diário tem sido um desafio técnico significativo para os relojoeiros do mundo, mas a competição por designs ainda mais finos parece ter acelerado nos últimos anos.
A corrida pela espessura ideal
A marca suíça Piaget fez sua estreia em um modelo com 2 milímetros de espessura, o Altiplano Ultimate Concept, em 2018, que entrou em produção dois anos depois. Bulldogs rapidamente respondeu, lançando o primeiro modelo do Octo Finissimo Ultra, com apenas 1,8 milímetros de espessura. Richard Mille também se uniu à disputa em 2022 com seu modelo RM UP-01 Ferrari, que foi 0,05 milímetros mais fino que o προηγούμενο modelo da Bulgari. A Bulgari, por sua vez, recuperou o título com seu modelo Octo Finissimo Ultra Mark II, que, segundo relatórios, custou mais de meio milhão de dólares.
No entanto, se o ThinKing pode ser considerado oficialmente o detentor de um novo recorde, é um assunto debatido entre especialistas na área de relojoaria, visto que o Guinness World Records não possui atualmente uma categoria independente para o relógio mais fino. O protótipo de Chaykin ainda precisa ser avaliado quanto à funcionalidade e precisão por organismos independentes para que sua reivindicação ao recorde seja validada. O editor chefe da revista digital de relógios Hodinkee descreve o ThinKing como “mais um estudo de design e engenharia neste momento”, baseado nas considerações de que records tão significativos devem ser estabelecidos em modelos para produção, ao invés de meramente protótipos.
A finura do design também exige uma pulseira especial com suportes em titânio e inserções elásticas, que protegem o relógio dos choques e estresses do uso diário. Mesmo assim, Chaykin acredita que a precisão de seu protótipo e sua reserva de energia de 32 horas o qualificam como um potencial novo recordista. Ele abriu o acesso a avaliações externas durante a feira Geneva Watch Days, onde centenas de visitantes puderam inspecionar sua criação.
“Os visitantes puderam segurar o relógio em suas mãos, conferir a hora e testar sua funcionalidade”, declarou Chaykin. “Foi um grande passo da nossa parte mostrar o protótipo dessa forma, mas ficamos satisfeitos que o relógio funcione perfeitamente e os visitantes pudéssemos manuseá-lo… No entanto, estamos prontos para realizar todos os testes necessários.” Ele planeja apresentar uma versão “final” de seu design na próxima edição da feira Watches & Wonders, que também ocorrerá em Genebra, em abril do ano que vem. Até lá, espera implementar melhorias na precisão, reserva de energia e na “estanqueidade” do relógio, mas ainda não definiu um preço para o produto.
Desde a fundação de sua marca de relojoaria homônima em 2003, Chaykin desenvolveu um forte interesse por peças elegantes e finas, inspiração que começou após a descoberta de um relógio de bolso Bagnolet ultra-fino do século XIX. Seu desafio inicial para criar um modelo semelhante partiu de um cliente, que incentivou Chaykin a projetar um relógio tão fino quanto possível, dedicando um caderno inteiro ao desenvolvimento de soluções técnicas. Descrever o processo como um quebra-cabeça, o relojoeiro observa que cada detalhe deve ser cuidadosamente calculado para que o resultado final seja não apenas estético, mas também funcionalmente impecável.