Vivemos em uma era marcada por ceticismo crescente, e, para muitos, essa é uma resposta compreensível ao clima de desconfiança cultivado por conflitos globais, divisões políticas e a sensação de que o mundo está contra nós. Entretanto, novos estudos apontam que, contrariamente à noção popular, a essência humana é mais generosa, aberta ao diálogo e compassiva do que imaginamos, desafiando assim a ideia de que o ceticismo é a única posição a adotar.
Nos Estados Unidos, esta erosão da confiança é evidenciada por pesquisas que mostram que a crença na confiabilidade das pessoas caiu de quase 50% em 1973 para cerca de um terço em 2018, de acordo com o General Social Survey. O cientista social Jamil Zaki, em seu livro “Esperança para Céticos: A surpreendente ciência da bondade humana”, argumenta que essa desconfiança não reflete a realidade do comportamento humano. Suas pesquisas e observações apontam que muitos céticos podem estar enganados em sua visão negativa do mundo.
Enquanto os céticos frequentemente se concentram em evidências de comportamentos negativos, Zaki propõe a substituição do ceticismo por uma forma mais esperançosa de questionamento, que chamamos de “ceticismo esperançoso”. Essa abordagem nos encoraja a ver o mundo com mais clareza e a nos motivar a usar a “sabedoria surpreendente da esperança” para criar um futuro melhor. A apatia gerada pelo ceticismo muitas vezes impede ações necessárias para promover mudanças. Por outro lado, um ceticismo ponderado pode servir como uma ferramenta poderosa quando se trata de trabalhar na construção da confiança mútua.
O impacto negativo do ceticismo não se limita apenas à esfera pessoal. Estudos demonstram que atitudes céticas estão ligadas a taxas mais altas de depressão, isolamento e doenças cardiovasculares, prejudicando tanto a saúde física quanto a mental dos indivíduos. Comunidades que compartilham um ceticismo generalizado também são afetadas, sofrendo instabilidade social que leva ao aumento da criminalidade e polarização. Em um nível mais amplo, quando pessoas não confiam nas instituições, a consequência é uma erosão da democracia e da capacidade de mobilização social.
Diante dessa realidade, muitos se perguntam: “Como podemos cultivar uma visão mais positiva e esperançosa em nossas vidas?” Uma resposta está na promoção de um diálogo mais aberto e na construção de conexões sociais. Um estudo de décadas feito pela Universidade de Harvard revela que as relações positivas e o apoio social são essenciais para uma vida saudável e plena. Sentimentos de altruísmo e bondade não só beneficiam quem os recebe, mas também aqueles que os oferecem, criando um ciclo virtuoso de apoio e felicidade.
Práticas cotidianas podem ajudar a transformar a visão cínica em uma perspectiva mais esperançosa. A divulgação de histórias de positividade em vez de negatividade pode alterar nossa percepção da vida. Zaki sugere, por exemplo, que também devemos questionar nossos próprios instintos céticos ao interagir com os outros, em vez de fazer julgamentos precipitadamente. Ao promover “fofocas positivas” sobre as ações generosas dos outros, podemos começar a reparar o pano social que atualmente parece rasgado.
Estudos indicam, ainda, que a prática da gratidão e o reconhecimento de pequenos atos de bondade podem não apenas mudar nossa percepção do mundo, mas também nossa saúde e bem-estar. À medida que aprendemos a reorientar nossa atenção em direção ao bem que nos cerca, espaços para otimismo e esperança se abrem.
No cenário atual, onde a desconfiança parece dominar, é crucial lembrar que a bondade humana ainda prospera, mesmo que de forma discreta. Em meio ao ceticismo, a verdade é que existem muitos que se dedicam a causas maiores. Eles muitas vezes não buscam reconhecimento, mas suas ações têm um impacto grande e duradouro. Jamil Zaki nos lembra que a esperança verdadeira se baseia na compreensão de que não conhecemos totalmente o futuro, e que em sua incerteza, nossos esforços e ações podem realmente fazer a diferença. Se nos abrirmos à possibilidade de um futuro melhor, e ao mesmo tempo, permitirmos que ações bondosas nos inspirem, poderemos encontrar um caminho para superar o ceticismo e construir um mundo mais acolhedor e confiável.