Um tema recorrente entre amantes da música é a sensação de que as canções da juventude eram, de fato, melhores. Para aqueles que cresceram ouvindo hits de Snoop Dogg, Fall Out Boy e Gwen Stefani, essa discussão eleva um ponto crucial: seria a música realmente superior em nossas memórias, ou estamos apenas sendo enganados por nossa mente? Quando relembramos canções de épocas passadas, despertamos não apenas o prazer musical, mas também memórias intrinsecamente ligadas às nossas experiências de vida. O que exatamente ocorre em nosso cérebro quando ouvimos as melodias que fazem parte da nossa história? Pesquisadores têm se debruçado sobre essa questão para entender os laços que temos com a música e como essa conexão influencia nossas percepções.
Para muitos, a música encapsula momentos significativos. Recordar hits dos anos 2000, como “Drop It Like It’s Hot” e “Hollaback Girl”, pode trazer à tona um turbilhão de emoções, desde o entusiasmo das primeiras paqueras até os obstáculos da vida adolescente. Os jovens de hoje, de sua parte, também têm seus favoritos, como Meghan Trainor e Kesha, e se veem defendendo citados momentos de ouro musical entre 2008 e 2016. A sensação de que a música de nossa juventude é inigualável parece estar enraizada em como marcamos essas experiências, com cada faixa servindo como uma cápsula do tempo que arquiva nossa evolução emocional.
De acordo com a Dra. Rita Aiello, psicóloga musical da Universidade de Nova York, a explicação para essa sensação de nostalgia e valor percebido não reside exclusivamente na qualidade da música. Em suas palavras, “não é que a música era melhor quando éramos mais jovens; é que a música evoca emoções extremamente fortes.” Este fenômeno se deve ao fato de a música ser um disparador poderoso de lembranças. Desde os tempos dos Beatles até as baladas de Barbra Streisand, cada canção carrega consigo um peso emocional que nos transporta para momentos significativos de nossas vidas. Para muitos, a música se torna um atalho direto à evocação de memórias, uma forma de trilhar o caminho nostálgico da juventude.
Mas o que torna a música tão poderosa em nossas lembranças? Dr. Robert Cutietta, professor de música da Universidade do Sul da Califórnia, explica que a música possui uma natureza episódica. Diferente de uma obra de arte que pode ser vista e desconsiderada, a música se desdobra no tempo, criando uma conexão íntima com nosso cérebro. Essa conexão é mediada por algo conhecido como memória episódica, onde os jovens tendem a formar suas preferências musicais de forma mais intensa. Estudos têm demonstrado que essa preferência geralmente atinge o pico em torno dos 19 ou 23 anos, momento em que nossa identidade está em profusão de formação.
Pela lógica, essa ligação com a música que ouvimos nos anos de formação é o que pode explicar nossa resistência em abraçar novas sonoridades à medida que envelhecemos. Cutietta aponta que essa música torna-se uma parte de nossa identidade, contribuindo para moldá-la. Além disso, a relação que desenvolvemos com canções durante nossas fases mais impressionáveis é um fator que fortalece esse compromisso, misturando sentimentos alegres e tristes que surgem com a simples audição de uma música.
A lembrança de uma canção pode não apenas invocar o mesmo conjunto emocional da época em que foi ouvida, mas também permitir uma nova perspectiva sobre experiências passadas. Como Aiello coloca: “Se estávamos tristes quando ouvimos uma música há 20 anos, sentiremos uma nova distância da tristeza.” Essa moralização permite um enriquecimento nas experiências, onde a tristeza pode abrir espaço para a alegria, provocando reflexões profundas sobre quem éramos e quem nos tornamos.
Por outro lado, a memória coletiva de diferentes décadas parece seguir um padrão. Se você é um aficionado por canções dos anos 70 e 80 considerando essa época como o ápice da “música de verdade”, talvez esteja apenas relembrando os artistas e canções que de fato ressoaram com você. É fácil esquecer as melodias menos marcantes, deixando apenas as que foram significativas serem relembradas, criando uma distorção do que realmente foi. Aiello ressalta que existem circunstâncias que tornam certas canções especialmente significativas e essas memórias ressoam com maior intensidade.
Por fim, à medida que jovens de hoje se estabelecem, é quase seguro assumir que eles também se lembrarão da música de sua adolescência como um marco inigualável, acreditando que aquelas canções moldaram suas identidades e que, no futuro, as novas gerações talvez não consigam replicar a essência musical de suas juventudes. A música desempenha um papel crucial em nossas vidas, um papel que se estende além de simplesmente ouvir e tocar. É uma forma de preservar não apenas os sons, mas as emoções que vivenciamos nas diferentes fases da vida, criando uma sinfonia de recordações que nos acompanharão por toda a vida.