Um mês após um incêndio devastador em uma planta química em Conyers, Georgia, os moradores ainda lidam com os efeitos persistentes e alarmantes da catástrofe. Embora a fumaça tóxica que envolveu a área já tenha se dissipado, as consequências sobre a saúde e a economia local continuam visíveis e alarmantes. Manchas de sintomas como visão embaçada, dificuldade para respirar e aumento nas contas médicas são apenas algumas das feridas que ainda não cicatrizaram na comunidade atingida.
Kisha Reid, uma enfermeira que reside nas proximidades do incêndio, relatou que visitou três médicos após o incidente. “Minha visão ainda não está como deveria”, disse ela, questionando se as substâncias químicas que foram liberadas durante o incêndio causaram danos irreversíveis. Sua experiência não é única. Vários outros residentes também se queixaram de problemas de saúde persistentes, como dores de cabeça crônicas e irritações na garganta, após a liberação de fumaça de cloro durante o incêndio ocorrido em 29 de setembro.
O marido de Kisha, Akeno Reid, também relatou dificuldades. Ele disse que enfrenta falta de ar e dores de cabeça que não cedem com medicação. “Quando a dor aparece, você não consegue funcionar porque é muito intensa”, explicou. Cada dia traz a lembrança daquele desastre, e a incerteza sobre as condições de saúde a longo prazo paira como uma nuvem sobre a comunidade.
Os danos financeiros também começaram a se acumular. Akeno, que é treinador de personal trainer e possui duas empresas, disse que teve que esvaziar suas economias e acumular dívidas no cartão de crédito devido aos efeitos do incêndio. “Eu perdi pelo menos $20 mil em receita, despesas com hotel durante a evacuação, contas médicas e ferramentas de limpeza para remover o resíduo de fumaça da nossa casa”, informou. A BioLab, empresa responsável pela planta, afirmou ter apoiado os moradores com reclamações e pedidos de reembolso, mas os Reids e outros afetados dizem que nenhuma quantia pode compensar as perdas e a ansiedade decorrentes do desastre.
Além das dificuldades financeiras e de saúde, a pandemia do medo e da incerteza se espalha entre os moradores. “Essa é nossa maior preocupação”, disse Akeno. Eles não são os únicos preocupados: Brandy Conner, uma residente que também passou por um incêndio na BioLab 20 anos atrás, relata que a situação traz de volta memórias dolorosas e uma sensação de vulnerabilidade. “Todo o condado foi afetado”, afirmou, lembrando-se do aroma de fumaça tóxica que impregnava o ar. O incêndio em questão liberou 12,5 milhões de libras de produtos químicos perigosos, e, segundo seus relatos, os efeitos foram incômodos e duradouros.
Preocupações de saúde aumentam com novos relatos de sintomas persistentes
Brandy, que trabalha em casa, se viu novamente na linha de frente ao enfrentar os efeitos desta nova tragédia. Após o incêndio recente, os residentes que foram obrigados a evacuar enfrentaram não apenas perturbações em suas vidas diárias, mas também riscos à saúde. “Ainda sinto os efeitos dessa fumaça. É perturbador”, refletiu Conner, que relatou dores de cabeça diariamente e um estado constante de alerta em relação à segurança de sua casa e da saúde de sua família.
Nessa linha, Christine Smith, outra residente de Conyers, afirma que a única forma de sentir alívio da irritação na garganta é fugir do condado. “Eu e minha família, incluindo nosso cachorro, sentimos os sintomas logo após o incêndio. Meus olhos estavam ardendo e meu nariz estava seco. É assustador”, contou Christine, que se lembrou da visão aterrorizante das nuvens de fumaça se acumulando. “Era como algo saído de um filme,” disse ela, enquanto relembrava o medo e a urgência que sentiu ao deixar sua casa.
As consequências para as crianças e o sistema educacional local
A situação se complicou ainda mais com a interrupção das aulas na Rockdale County Public Schools, onde cerca de 15 mil alunos não puderam frequentar a escola por três semanas, obrigados a aprender remotamente. “Era prudente ativar nosso protocolo de aprendizado virtual enquanto monitorávamos continuamente o impacto ambiental do incidente da BioLab”, declarou o superintendente escolar. A decisão de suspender as aulas foi uma tentativa de proteger os estudantes e a equipe enquanto a situação se desenrolava.
Esse aviso foi emitido ao mesmo tempo em que o condado suspendia o alerta de permanência em abrigo, um esforço que durou semanas. No entanto, muitas famílias, incluindo a de Kisha, perderam receita devido à necessidade de ficar em casa com os filhos. “Ela teve que ficar ausente do trabalho e não recebeu”, lamentou Kisha, destacando a diferença que esse evento trágico fez em suas vidas.
Processo legal e o futuro da BioLab em Conyers
Em resposta ao desastre, Rockdale County decidiu processar a BioLab e sua empresa controladora, KIK Consumer Products, buscando a ordem judicial para encerrar as operações da planta. O objetivo é evitar a emissão contínua de substâncias químicas nocivas no meio ambiente. O processo, que data do final de outubro, alega que a BioLab falhou em “proteger e gerenciar adequadamente os materiais perigosos armazenados no local e em instalar e manter sistemas de supressão de incêndio adequados”. Moradores e autoridades estão unidos em um desejo de ver a BioLab ir embora de Conyers.
No entanto, o que resta é um sentimento de desespero e incerteza sobre o que está por vir. Embora a BioLab tenha reiniciado suas operações após receber aprovação, o clima de medo perdura na comunidade. As preocupações sobre a segurança a longo prazo e a viabilidade de viver ao lado de uma instalação tão problemática colocam um fardo psicológico e emocional que dificilmente pode ser medido em termos financeiros. “Se a BioLab for embora, ainda assim isso não mudará o que ocorreu”, lamentou uma das residentes. “Os danos já estão feitos.”