O cenário político nos Estados Unidos está em constante transformação, especialmente sob a liderança de Donald Trump, cuja reeleição é vista com uma mistura de expectativa e temor por parte dos empregados do setor público. Com a perspectiva de um segundo mandato, muitos servidores federais se encontram em estado de alerta, apreensivos sobre as possíveis mudanças que podem afetar suas carreiras e a estrutura do governo. A preocupação se intensifica com o anúncio da intenção de Trump de reverter políticas anteriormente estabelecidas, como a proteção aos funcionários de carreira, e a ideia de realizar demissões em massa, colocando em questão a independência e a eficiência do serviço público.
Durante a campanha, Trump se referiu a servidores civis como agentes de um suposto ‘estado profundo’, prometendo a restauração de uma ordem executiva de 2020 conhecida como Schedule F. Essa ordem permitiria demissões em massa de funcionários federais não-partidários, um movimento que poderia mudar radicalmente o panorama da força de trabalho federal. Ronald Sanders, ex-nomeado por Trump e crítico de sua abordagem, argumentou que o objetivo por trás dessa estratégia é o de criar espaço para a inserção de leais em posições de carreira, colocando em risco a imparcialidade de um serviço que deveria ser livre de pressões políticas.
O impacto dessa retórica já é palpável, com muitos servidores relatando um clima de insegurança e incerteza. Um funcionário do Departamento de Energia expressou que existe um sentimento geral de apreensão entre os colegas, enquanto muitos outros sentem-se compelidos a permanecer em seus cargos, mas sem saber quais serão os futuros desafios a enfrentar. A história do primeiro mandato de Trump, marcada por uma postura hostil em relação aos funcionários públicos e um ambiente de trabalho degradante, apenas alimenta essas preocupações. Nos primeiros quatro anos, a administração teve um histórico de desmantelamento da pesquisa científica, silenciamento de vozes dentro do governo e o incentivo a uma alta taxa de demissões voluntárias.
Possíveis consequências de um novo governo Trump sobre o serviço público
O temor não é infundado, pois as ações previstas em um possível segundo mandato são significativas. Especialistas alertam que as demissões em massa diantes de salários, aposentadorias e outros benefícios oferecidos aos funcionários podem levar a um colapso do que foi estabelecido como um sistema de trabalho público baseado em mérito desde a abolição do ‘sistema dos espólios’ em 1883. Naquela época, os cargos eram distribuídos frequentemente com base em afinidade política, e a volta a esse modelo poderia ser desastrosa para a integridade da administração federal.
Embora a equipe de transição de Trump não tenha fornecido um cronograma definitivo para a implementação do Schedule F ou a possibilidade de demissões em larga escala, a retórica sobre o que a população americana quer é enfatizada por representantes do novo governo. A porta-voz da administração, Karoline Leavitt, reiterou que a reeleição de Trump é uma confirmação de um mandado popular para a mudança, prometendo a entrega de suas propostas ao povo americano. Contudo, o cenário atual indica que a real execução de tais promessas não será tão simples, já que a administração de Biden tomou medidas para proteger trabalhadores federais de demissões repentinas e retaliações.
Com mais de 2 milhões de empregados no setor público, as implicações do Schedule F podem ser profundamente sentidos especialmente na região metropolitana de DC-Maryland-Virginia, onde cerca de 449 mil servidores federais residem. O impacto se estenderá por outros estados, atingindo regiões que votaram em Trump, onde aproximadamente 967 mil trabalhadores federais vivem. A instabilidade resultante desse cenário pode criar um efeito dominó, afetando a funcionalidade do governo federal e a entrega de serviços à população.
Outra proposta que preocupa os funcionários é a ideia de que uma comissão de eficiência governamental, liderada por figuras como o bilionário Elon Musk, poderia introduzir mudanças drásticas na estrutura governamental, teoricamente visando à redução de gastos. Tal proposta levanta questões sobre quem se beneficiaria dessa economia: o governo ou o povo americano?
O papel da resistência sindical e as expectativas para os serviços públicos
Os sindicatos que representam empregados federais estão em fase de preparação para o que pode ser uma luta intensa pela manutenção de direitos. O presidente da Federação Americana de Empregados do Governo expressou a necessidade de independência política para garantir que os trabalhadores possam exercer suas funções sem interferência indevida. A preocupação se estende a todos os setores, com os servidores da EPA se questionando sobre as repercussões que um novo governo Trump teria sobre sua produtividade e integridade nas funções públicas.
Os sindicatos buscam criar uma rede de suporte legal, já que a liderança da AFGE na EPA está planejando desafios legais contra a aplicação do Schedule F. Entretanto, especialistas indicam que as defesas legais podem ser insuficientes para conter consequências severas, que poderiam incluir demissões massivas. Para os funcionários, a mensagem passada é clara: “mantenham a cabeça baixa e façam suas tarefas”. É uma existência cheia de incertezas, em um momento em que as tensões políticas e as metas governamentais colidem de formas imprevisíveis.
À medida que a nova administração se aproxima, o futuro dos funcionários federais e da gestão pública nos Estados Unidos se torna um campo de batalha, onde a integridade do serviço público precisa prevalecer sobre as hordas de um potencial sistema de favoritismo político. As próximas semanas e meses serão cruciais para determinar não apenas o futuro dos trabalhadores, mas a própria essência da democracia americana e como ela funcionará para o povo que serve.