A mudança climática tem se mostrado uma realidade alarmante, com consequências que vão muito além das previsões na esfera ambiental. Um relatório recente indicou que eventos climáticos extremos, exacerbados pelas mudanças no clima, custaram ao mundo impressionantes $2 trilhões entre 2014 e 2023. Para colocar essa cifra em perspectiva, isso é equivalente ao dano financeiro causado pela crise financeira global de 2008. O dado é ainda mais alarmante quando consideramos o impacto direto e indireto dessas catástrofes na economia global, que afeta diariamente a vida de bilhões de pessoas. Nessa oscilações de números monstruosos, vale a pena refletir sobre o que realmente está em jogo.
Os recentes desastres naturais, como os furacões Helene e Milton, não são fenômenos isolados. Somados, eles causaram uma devastação que variou entre $51,5 bilhões e $81,5 bilhões em propriedades, afetando principalmente estados do sudeste dos Estados Unidos. Esses eventos climáticos estão se tornando mais frequentes e extremos, aumentando os danos patrimoniais e colocando em xeque a resiliência das infraestruturas. Um estudo da CoreLogic, por exemplo, destacou a vulnerabilidade do setor imobiliário a essas intempéries, revelando que os custos são apenas a ponta do iceberg quando se fala nas proporções desmedidas da crise climática.
O relatório da Câmara Internacional de Comércio (ICC), que coincidiu com o início da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas no Azerbaijão, não apenas revela números alarmantes, mas busca provocativamente apelar a governos e organizações para que acelerem políticas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Em um cenário onde a temperatura do planeta continua a subir, as estimativas apontam que as consequências econômicas podem ter um impacto cumulativo sem precedentes, resultando em crises ainda mais severas no futuro.
O secretário geral da ICC, John W.H. Denton AO, ressaltou a necessidade urgente de ação semelhante àquela que o mundo adotou durante a crise financeira, argumentando que a resposta à crise climática deve ser rápida e decisiva. Esta chamada à ação se torna ainda mais pertinente em um contexto político em que a desregulamentação ambiental voltou ao centro do debate. Após a reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, muitos temem uma reversão nas conquistas de políticas climáticas, como a suspensão das regulamentações sobre emissões de poluentes. Durante seu último mandato, ele já havia retirado os EUA do Acordo de Paris, clamando que este impunha um fardo econômico excessivo aos americanos. Esse retrocesso pode significar um desastre maior para um país que já enfrenta catástrofes climáticas em aumento.
Em uma análise detalhada, o relatório da ICC abordou quase 4.000 eventos climáticos nos últimos dez anos em seis continentes, combinando o custo direto da destruição de habitações, negócios e infraestruturas, e os efeitos da extrema severidade do clima na produtividade humana. O estudo apontou que cerca de 1,6 bilhão de pessoas foram afetadas por esses desastres, algo que deve ser considerado em meio à crescente ineficiência do trabalho devido a esses eventos. E o panorama não mostra sinais de melhora. Entre 1980 e 1999, o número de desastres climáticos era bem menor quando comparado ao período de 2000 a 2019, em que houve um aumento de 83% nos desastres registrados. Sem dúvida, uma análise que levanta questões pertinentes sobre a adaptabilidade e sustentabilidade dos sistemas econômicos frente a um cenário em transformação.
De acordo com o relatório, apenas em 2022 e 2023, os danos econômicos alcançaram US$ 451 bilhões, representando um aumento impressionante de 19% em comparação com a média anual dos oito anos anteriores. Essas informações não somente são indicativas de uma tendência crescente de perda econômica, mas também trazem uma urgência à conversa sobre a necessidade de inovação nas políticas climáticas e nos mecanismos orbitando a infraestrutura social e econômica, que enfrenta desafios sem precedentes. Denton reiterou que as perdas de produtividade oriundas de eventos climáticos extremos não são uma preocupação futura, mas uma crise presente que a economia real já sente.
Finalizando enquanto o mundo se prepara para registrar 2024 como potencialmente o ano mais quente já registrado, conforme anunciado pelo Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da Europa, é essencial que tanto governos quanto cidadãos se unam em uma resposta de longo prazo. A combinação de efeitos deletérios das mudanças climáticas em curso e as crises econômicas que resultam delas nos levam a um ponto crítico. O que está em jogo não é apenas a economia de bilhões de dólares, mas o futuro do nosso planeta e a qualidade de vida das próximas gerações. Em um momento em que qualquer decisão pode parecer como jogar dados em um cassino, é imperativo que todos unam forças para possibilitar um amanhã mais sustentável.