A tão aguardada oferta pública inicial (IPO) da Swiggy, programada para quarta-feira, promete ser um marco no mercado financeiro da Índia, oferecendo aos analistas uma comparação pública com a Zomato, há muito tempo considerada a referência das ações de tecnologia na internet indiana. A expectativa é alta, pois esta IPO servirá como um termômetro para avaliar a disposição do país em absorver ofertas de ações superiores a $1 bilhão, uma questão que tem gerado ampla discussão entre investidores e analistas do setor.
Para este IPO, a Swiggy já garantiu impressionantes $1,4 bilhão de investidores institucionais, incluindo o fundo soberano da Noruega, BlackRock e oito dos dez principais fundos de investimento mútuo da Índia. Contudo, a chegada da Swiggy ao mercado público acontece em um contexto desafiador, onde as ações de grandes empresas de tecnologia lutaram historicamente para se manterem estáveis. Um exemplo disso é a Paytm, que, após sua oferta de $2,5 bilhões, continua a negociar 47% abaixo do seu preço de IPO, mesmo três anos após o seu lançamento.
Nos últimos quatro anos, mais de uma dúzia de startups indianas de tecnologia fizeram sua estreia na bolsa, mas o interesse do mercado por grandes IPOs tem sido escasso. Por exemplo, a empresa de e-commerce de beleza e bem-estar Nykaa ainda está operando 53% abaixo de seu preço de estreia, e a Star Health and Alliance Insurance Company permanece 48% abaixo de seu preço de IPO. Em contraste, as startups que levantaram menos de $500 milhões na Índia têm demonstrado um desempenho exemplar.
O cenário atual posicionou a Índia como um polo atrativo para IPOs de tecnologia, mesmo enquanto o mercado americano continua tímido. O olhar do mercado se volta especialmente para a IPO da Swiggy, considerando que muitas startups em fase de crescimento – e seus investidores – estão contemplando listagens igualmente robustas nos próximos 24 meses. Num contexto mais amplo, startups indianas que anteriormente tinham sede nos EUA e Cingapura estão considerando retornar oficialmente à Índia, o que facilitaria a conformidade com as regulamentações locais para este tipo de IPO. Essa mudança de domicílio também representa uma oportunidade significativa para aproveitar um mercado que teve uma alta de mais de 10% em seu índice de referência no último ano, com até três dúzias de startups podendo se mudar de volta para a Índia nos próximos anos, conforme indicam investidores do setor.
As expectativas para o IPO da Swiggy são promissoras. O desempenho das ações da rival Zomato, que dispararam mais de 100% desde sua listagem de $1,3 bilhão em 2021, alcançando uma valorização de mercado de $29 bilhões este ano, serve como um indicativo positivo. Em comparação, a Swiggy busca uma avaliação de $11,3 bilhões, um objetivo considerável que, se alcançado, poderia colocar a empresa em um lugar privilegiado no setor. A dinâmica do mercado alimentar indiano tem sido tradicionalmente um duopólio, dominado pela Zomato e pela Swiggy, o que aumenta o apelo para investidores, uma vez que ambas as empresas têm a oportunidade de transformar o setor de delivery.
Além disso, a Swiggy está entre as doze empresas que estão tentando desestabilizar o mercado de varejo indiano, que ainda é fortemente dominado por pequenos estabelecimentos. O Instamart, serviço de entrega de supermercado da Swiggy, já se destaca como uma das três principais empresas de quick-commerce no país, prometendo entregas em uma variedade de produtos, desde mantimentos até produtos de beleza, em até 10 minutos. O impacto real dessas empresas no mercado de varejo mais amplo da Índia ainda está por ser visto, mas já conseguiram conquistar 56% do mercado de entrega de mantimentos online, segundo estimativas do JPMorgan.
Empresas de quick-commerce, como Instamart, BlinkIt da Zomato, Zepto, BigBasket e Minutes, têm mudado o comportamento do consumidor nas cidades urbanas indianas, que abrigam cerca de 80 milhões de pessoas. Juntas, essas startups estão projetadas para registrar vendas superiores a $6 bilhões este ano, conforme indicam estimativas da TechCrunch. Sriharsha Majety, cofundador e CEO da Swiggy, destacou em uma entrevista que não vê a Swiggy apenas como uma empresa de e-commerce no futuro. Ele acredita que a taxa de crescimento do Instamart, bem como o total addressable market que a empresa está buscando, deve resultar em uma mudança drástica na participação do e-commerce dentro da Swiggy.
Essa visão é sustentada por um modelo de negócios singular que envolve a instalação estratégica de centenas de pequenos armazéns, conhecidos como “dark stores”, perto de áreas residenciais e comerciais. Isso permite que as empresas realizem entregas em minutos após a realização do pedido. Essa abordagem se diferencia da dos gigantes do e-commerce, como Amazon e Flipkart, que operam com armazéns maiores e menos número de instalações, localizados em regiões onde o aluguel é mais barato, mas mais distantes das áreas residenciais.
A Swiggy opera mais de 600 dessas instalações, enquanto a Blinkit da Zomato encerrou o último trimestre com 791 lojas. Com um apoio considerável de gigantes do investimento, como Prosus, SoftBank, Accel e Elevation, a Swiggy conseguiu expandir o Instamart para 30 cidades indianas. No entanto, muitos investidores e analistas expressam ceticismo sobre a viabilidade da expansão do modelo de quick-commerce para cidades indianas menores. Durante uma entrevista, Majety questionou a possibilidade de um modelo operacional para a cidade número 500 e ponderou: “Honestamente, eu não sei”. No que diz respeito à operação do modelo na cidade número 75, ele comentou: “Acho que provavelmente isso exista. Vamos ver a cidade 75 tendo quick commerce.”
Por último, a IPO da Swiggy colocará à prova a disposição dos investidores em apostar em modelos de negócios que priorizam o crescimento em detrimento dos lucros, em meio a condições globais desafiadoras. Para o investidor holandês Prosus, a listagem da Swiggy poderia render um retorno três vezes maior. Este evento também representaria uma das maiores vitórias para a firma de investimentos, que já viu seus lucros de mais de $1 bilhão com a Byju’s evaporarem. A Accel está projetando um retorno superior a 35 vezes, um dos maiores que a firma teve nos últimos cinco anos. A expectativa agora é alta e todos os olhos permanecem voltados para o que esta IPO representará para o futuro do mercado de tecnologia indiano.