A corrida pelo Oscar deste ano ocorre em um cenário marcado pelo retorno de Donald Trump à cena política, gerando apreensão em Hollywood. Para os amantes da sétima arte, essa situação poderia parecer um mero detalhe, mas as repercussões dessa nova era são mais profundas do que aparentam. Ao olharmos para o passado, especialmente as premiações de 2017, um padrão começa a emergir: a liderança do então presidente, com suas ideologias polêmicas, refletiu e influenciou as imperativas narrativas entregues pela indústria cinematográfica.
Os ecos da eleição de 2016 ainda ressoam, e a vitória do longa-metragem Moonlight, que surpreendeu a todos na cerimônia do Oscar, não foi apenas uma simples conquista, mas sim uma mensagem clara da comunidade cinematográfica em relação ao governo Trump. Este filme, que retrata a luta da população afro-americana e questões de identidade e sexualidade, reafirmou que, mesmo em tempos sombrios, vozes marginalizadas poderiam ser ouvidas. A vitória de Moonlight simbolizou um anseio por mudança e uma resistência ao status quo que o governo Trump procurava estabelecer.
O diretor Barry Jenkins, à época da premiação, não hesitou em abordar a resistência em suas declarações. “Enquanto fazemos a América grande novamente, não nos esqueçamos de algumas questões inconvenientes em nosso legado”, disse ele. Com essas palavras, evidenciou que, mesmo com o avanço do conservadorismo, a luta por igualdade e representação continua. Mas como esse sentimento ressoa nas obras que agora disputam a estatueta dourada? A resposta pode ser encontrada nas narrativas que estão emergindo entre os principais indicados de 2025.
Entre os concorrentes deste ano, destacam-se filmes que capturam a essência da luta contra a opressão e a busca por justiça em um ambiente onde a Voz e os sentimentos de desamparo parecem prevalecer. Embora nenhuma cerimônia de premiação por si só possa reverter as ameaças à democracia, pode, no entanto, oferecer um pingo de esperança e reenergizar o público no que diz respeito às prioridades nacionais. O direcionamento crescente entre entretenimento e política, onde até mesmo o público mais jovem consome informações e opiniões por meio de influenciadores digitais, será desafiador de engolir à luz da tradição conservadora de Trump.
Filmes como Emilia Pérez, Anora e The Brutalist trazem à tona questões de classe e de imigração, refletindo as dificuldades diárias de muitos americanos. Estas produções reafirmam que, por meio da arte, questões sociais podem ser abordadas e discutidas. A luta de um trabalhador colombiano nos Estados Unidos em Anora ecoa a luta de muitos brasileiros que buscam o sustento fora de sua terra natal em tempos tão desafiadores. Ao confrontar as disparidades de classe, essas narrativas criam uma conexão entre a ficção e a realidade.
Além disso, The Brutalist, que aprofunda a experiência de um arquiteto sobrevivente do Holocausto, ressoa profundamente com as questões contemporâneas de imigração e refúgio. A opressão que esses personagens enfrentam durante suas jornadas não só os aproxima de suas origens, mas também destaca a necessidade urgente de reforma nas políticas de imigração dos Estados Unidos. Como o filme aponta, a América deve ser um abrigo e não uma fortaleza, destacando a ironia de se tornar um país que, em princípio, abriga a diversidade, mas acaba perpetuando a exclusão.
Por outro lado, o musical Wicked, em seu retorno triunfante, carece de uma análise aprofundada. Embora seja visto como um entretenimento acessível, muitos não percebem as críticas sociais presentes, como a temática da alienação e da escapatória sob a opressão. Esse contraste entre a diversão e a crítica é o verdadeiro cerne do que a corrida pelo Oscar representa este ano: uma luta contínua para encontrar um equilíbrio entre arte e mensagem.
Independentemente do resultado da premiação, é evidente que Hollywood e seus filmes têm a capacidade de influenciar e inspirar, refletindo as preocupações e aspirações da sociedade. A luta pela representação e equidade na indústria do entretenimento não só garante uma estética diversificada, mas também um diálogo contínuo e necessário sobre a questão da justiça social que se intensifica com cada novo ciclo eleitoral. Os próximos meses mostrarão se este ciclo realmente fará a diferença ou se permaneceremos apenas como espectadores passivos na nova era política trazida por Trump.
Como a história se desenrolará, e que tipo de histórias estaremos dispostos a contar e escutar, são questões que transcendem a corrida do Oscar e falam diretamente ao futuro da narrativa americana. Portanto, mesmo diante de um charmoso jogo político, o cinema continua, inabalável, sua busca por verdade e esperança, lembrando-nos que a luta por direitos e a busca pela igualdade nunca foi fácil, mas certamente vale a pena.