No contexto de uma crescente digitalização das transações financeiras, o comportamento dos consumidores no Japão ainda é fortemente influenciado pela tradição do uso do dinheiro. Um relatório recente, que retoma dados do governo japonês, revelou que, em 2023, os pagamentos sem dinheiro totalizaram 126,7 trilhões de ienes, o que equivale a aproximadamente 885 bilhões de dólares e representa 39,3% das despesas do país. O governo japonês, buscando modernizar os hábitos financeiros da população, almeja atingir 40% de transações cashless até 2025. Neste cenário, a startup SmartBank, localizada em Tóquio, surge como uma importante aliada na transição para pagamentos eletrônicos, apresentando um aplicativo e serviços que facilitam essa mudança para diversos segmentos da população.

A SmartBank foi fundada em 2019 por Shota Horii, Yuta Horii e Jun Taketani, em um movimento que se seguiu à venda da sua empresa anterior, a Fablic, à gigante do e-commerce Rakuten em 2016. Durante o tempo que atuaram na Fablic, os fundadores notaram que uma parcela significativa dos usuários ainda utilizava dinheiro para suas transações cotidianas, o que os motivou a desenvolver uma solução voltada para o setor financeiro de consumo no Japão. Dedicando-se principalmente a indivíduos na faixa dos 20 e 30 anos e casais que buscam uma melhor gestão de suas finanças, a SmartBank já conquistou mais de 1 milhão de downloads de seu aplicativo, embora os dados sobre o número total de usuários ainda não tenham sido divulgados.

O produto principal da SmartBank é um cartão pré-pago que se integra a um aplicativo de gestão financeira, além de oferecer uma conta de depósito. Entre os cartões disponibilizados, destaca-se o B/43 My Card, voltado para indivíduos; o B/43 Pair Card, ideal para casais gerenciarem suas finanças em conjunto; e o B/43 Junior Card, destinado a adolescentes. De acordo com Yuta Shimogawara, CFO da empresa, o B/43 Pair Card agora se tornou o produto preferido entre os usuários, uma vez que os bancos tradicionais do Japão não costumam oferecer contas conjuntas, solidificando a relevância da SmartBank no mercado.

Recentemente, a empresa anunciou uma rodada de financiamento que resultou em 4 bilhões de ienes, ou 26 milhões de dólares, sendo 1,1 bilhão de ienes em financiamento de dívida e 2,9 bilhões de ienes em capital de ações, proveniente de investidores como a Global Brain. Com este novo investimento, que eleva o total arrecadado pela startup desde sua fundação para 5,93 bilhões de ienes em capital próprio e 1,1 bilhão de ienes em dívidas, a SmartBank planeja expandir sua equipe de 49 funcionários em outubro para cerca de 100 até 2025, sendo que metade deste total será destinada ao time de engenharia, conforme declarado por Shimogawara em uma entrevista exclusiva ao veículo TechCrunch.

O financiamento mais recente é um marco importante que se segue à captação de 20 milhões de dólares na Série A, realizada em julho de 2022. Desde então, a SmartBank expandiu sua base de usuários e ampliou sua gama de produtos, aspirando tornar-se uma plataforma financeira abrangente, similar a um banco, que oferece diversos serviços financeiros no futuro. Em uma demonstração de inovação, a empresa lançou no mês passado uma funcionalidade que utiliza tecnologia de inteligência artificial para leitura de recibos, transformando seu aplicativo em um consultor financeiro automatizado, que ajuda os usuários a otimizar atividades financeiras e a compreender melhor sua situação financeira.

A proposta da SmartBank vai além da simples gestão de despesas; a empresa almeja se tornar a principal referência em serviços financeiros baseados em inteligência artificial no Japão. Recentemente, um novo recurso foi introduzido, permitindo que os usuários conectem seus cartões de crédito e contas bancárias ao B/43, oferecendo uma visão holística de suas finanças. Akailke, diretor de operações comerciais da empresa, ressaltou a intenção de tornar os serviços mais acessíveis, permitindo que usuários de cartões não precisem emitir um novo cartão para utilizar o aplicativo, apenas vinculando seus cartões e contas existentes, o que também amplia as oportunidades de receita da startup.

Com uma licença de transferência de dinheiro obtida há três anos, a SmartBank possibilita que usuários retirem depósitos em dinheiro, além de ter conquistado uma licença para instrumento de pagamento pré-pago em abril, permitindo à empresa gerenciar os depósitos dos usuários. Essa habilitação a diferencia de concorrentes como MoneyForward e Zaim, que não podem manter depósitos de usuários, o que limita sua capacidade de ajudar na administração de ativos pessoais, como poupança e investimentos. Em sua trajetória, nos próximos cinco anos, a SmartBank almeja diversificar suas fontes de receita para além das taxas de intercâmbio, que hoje representam seu principal fluxo de receita, introduzindo novos serviços como “Compre Agora, Pague Depois” (BNPL), assinaturas (B/43 Plus) e referências, conforme afirmado por Akailke. A companhia está, assim, posicionando-se para ser uma forte protagonizadora no emergente ecossistema fintech japonês.

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